Se o currículo de cada
elemento do plantel contasse, o Cova da Piedade seria certamente um
candidato à subida à I Liga. E olhando individualmente para o valor
futebolístico de cada um, vê-se claramente que há potencial para
estar bem acima do que o 14.º lugar da II Liga, causa incredulidade
o emblema piedense ter o pior ataque do campeonato, com apenas 11
golos marcados em 17 jornadas, e o pior saldo de golos da prova
(-14).
Além de veteranos com
passagens pelas equipas principais dos três grandes do futebol
português como Moreira (ex-Benfica), Evaldo e Pereirinha (ambos
ex-Sporting), há elementos com experiência de I Liga como Coronas
(ex-V. Setúbal, Moreirense e Marítimo), Rafael Amorim (ex-Paços de
Ferreira, Belenenses e Tondela), Dieguinho (ex-Estoril), Yero (ex-Gil
Vicente), Miguel Rosa (ex-Belenenses) e os recém-inscritos Danilo
Dias (ex-Marítimo e U. Madeira) e Sami (ex-Marítimo, Sp. Braga, V.
Guimarães, Arouca e Desp. Aves). E ainda há os que, mesmo não
tendo passado pela I Liga, apresentam um nível futebolístico
bastante interessante, como Sori Mané, Ballack, Hugo Firmino,
Rodrigo Martins e Lima Pereira, este último recém-transferido para
o Eastern de Hong Kong.
Os chineses impostos
Quando numa primeira fase
desta época as derrotas se acumulavam com Eurico Gomes no comando
técnico, acreditei que boa parte das culpas se devessem à imposição
de jogadores chineses em campo por parte da administração da SAD. E
falo em imposição não porque isso seja assumido publicamente ou
porque fonte fidedigna me tinha contado, mas porque a falta de
qualidade de técnica e tática de Yelong Yuan, Jiayu Chen ou Yuhao
Liu é de tal forma gritante que não acredito que a razão seja
outra.
Mas já com o antigo
central de Benfica, Sporting e FC Porto no banco, tornou-se
sintomático o problema que ainda hoje persiste no conjunto do
concelho de Almada: a instabilidade tática, a falta de consistência
de um onze e a ausência de um modelo de jogo. Na receção ao Sp.
Covilhã a 18 de agosto, por exemplo, o Cova da Piedade entrou em
4x4x2 losango; a perder à passagem da meia hora, tirou o central Yan
Victor para colocar Ballack, fez recuar Sori Mané e alterou o
sistema para 4x3x3, alterando também as dinâmicas de uma equipa que
agora passava a ter extremos; e, entretanto, terminou em 4x4x2
clássico (ou 4x2x4) com a entrada de Hugo Firmino.
Cova da Piedade está perto da zona de despromoção da II Liga |
Ausência de um modelo
Esse poderia ser apenas
um caso pontual, mas a verdade é que ao cabo de uma volta na II
Liga, o conjunto azul e grená continua a apresentar-se transfigurado
de jogo para jogo, chega a transfigurar-se várias vezes no decorrer
de um encontro e a verdade é que se continua sem identificar um
modelo. No aspeto ofensivo, em determinados momentos parece que os
centrais e o médio defensivo estão a procurar sair a jogar de uma
forma curta e iniciar um ataque de pé para pé, mas depois acaba por
surgir uma tentativa de esticar o jogo diretamente na frente, sem que
a equipa se mostre preparada para uma determinada forma de chegar à
baliza contrária – a escassez de golos passa muito por aí.
É verdade que se poderá
dizer que o sucessor de Eurico Gomes, o jovem Hugo Falcão, incidiu
muito na vertente estratégica na preparação para cada jogo, de
forma a apresentar uma equipa disposta para condicionar e ferir o
oponente. Porém, quando tantas e tantas vezes a estratégia deixa de
fazer sentido ao sofrer cedo o 0-1 e se tem jogadores com a qualidade
técnica de Sori Mané, Miguel Rosa, Ballack ou Hugo Firmino, urge
pensar primeiro em como potenciar o que se tem à disposição e só
depois em que ajustes são necessários tendo em conta quem está do
outro lado.
Interino implementou três centrais
Depois de o treinador de
27 anos ter testado todos os sistemas possíveis e imaginários com
quatro defesas e experimentado colocar vários jogadores em três ou
quatro posições, surge nova mudança no comando técnico. E eis que
o interino Marcelo Chagas, que terá dado dois ou três treinos antes
de receber o Paços de Ferreira, apressou-se a apresentar uma tática
de três centrais, promovendo mais uma vez novos posicionamentos e
novas dinâmicas, tanto em relação aos encontros anteriores como no
decorrer da própria partida, quando o resultado se começou a tornar
insatisfatório.
Depois de dois
treinadores e um interino durante a primeira volta, uma nova fase vai
iniciar-se no Estádio Municipal José Martins Vieira com Miguel Leal no comando técnico. O interessante
projeto do clube, que aderiu à Liga Revelação e tem uma equipa B a participar nos distritais da Associação de Futebol de Setúbal,
merece prosseguir nas ligas profissionais. E a qualificada
mão-de-obra do plantel piedense, que compreende jovens promessas e
veteranos com provas dadas, merece mais estabilidade e coordenação
enquanto coletivo.
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