quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Cova da Piedade tem mão-de-obra qualificada que urge estabilidade

Evaldo, Miguel Rosa, Moreira e Pereirinha entre as figuras
Se o currículo de cada elemento do plantel contasse, o Cova da Piedade seria certamente um candidato à subida à I Liga. E olhando individualmente para o valor futebolístico de cada um, vê-se claramente que há potencial para estar bem acima do que o 14.º lugar da II Liga, causa incredulidade o emblema piedense ter o pior ataque do campeonato, com apenas 11 golos marcados em 17 jornadas, e o pior saldo de golos da prova (-14).


Além de veteranos com passagens pelas equipas principais dos três grandes do futebol português como Moreira (ex-Benfica), Evaldo e Pereirinha (ambos ex-Sporting), há elementos com experiência de I Liga como Coronas (ex-V. Setúbal, Moreirense e Marítimo), Rafael Amorim (ex-Paços de Ferreira, Belenenses e Tondela), Dieguinho (ex-Estoril), Yero (ex-Gil Vicente), Miguel Rosa (ex-Belenenses) e os recém-inscritos Danilo Dias (ex-Marítimo e U. Madeira) e Sami (ex-Marítimo, Sp. Braga, V. Guimarães, Arouca e Desp. Aves). E ainda há os que, mesmo não tendo passado pela I Liga, apresentam um nível futebolístico bastante interessante, como Sori Mané, Ballack, Hugo Firmino, Rodrigo Martins e Lima Pereira, este último recém-transferido para o Eastern de Hong Kong.

Os chineses impostos

Quando numa primeira fase desta época as derrotas se acumulavam com Eurico Gomes no comando técnico, acreditei que boa parte das culpas se devessem à imposição de jogadores chineses em campo por parte da administração da SAD. E falo em imposição não porque isso seja assumido publicamente ou porque fonte fidedigna me tinha contado, mas porque a falta de qualidade de técnica e tática de Yelong Yuan, Jiayu Chen ou Yuhao Liu é de tal forma gritante que não acredito que a razão seja outra.

Mas já com o antigo central de Benfica, Sporting e FC Porto no banco, tornou-se sintomático o problema que ainda hoje persiste no conjunto do concelho de Almada: a instabilidade tática, a falta de consistência de um onze e a ausência de um modelo de jogo. Na receção ao Sp. Covilhã a 18 de agosto, por exemplo, o Cova da Piedade entrou em 4x4x2 losango; a perder à passagem da meia hora, tirou o central Yan Victor para colocar Ballack, fez recuar Sori Mané e alterou o sistema para 4x3x3, alterando também as dinâmicas de uma equipa que agora passava a ter extremos; e, entretanto, terminou em 4x4x2 clássico (ou 4x2x4) com a entrada de Hugo Firmino.

Cova da Piedade está perto da zona de despromoção da II Liga

Ausência de um modelo

Esse poderia ser apenas um caso pontual, mas a verdade é que ao cabo de uma volta na II Liga, o conjunto azul e grená continua a apresentar-se transfigurado de jogo para jogo, chega a transfigurar-se várias vezes no decorrer de um encontro e a verdade é que se continua sem identificar um modelo. No aspeto ofensivo, em determinados momentos parece que os centrais e o médio defensivo estão a procurar sair a jogar de uma forma curta e iniciar um ataque de pé para pé, mas depois acaba por surgir uma tentativa de esticar o jogo diretamente na frente, sem que a equipa se mostre preparada para uma determinada forma de chegar à baliza contrária – a escassez de golos passa muito por aí.

É verdade que se poderá dizer que o sucessor de Eurico Gomes, o jovem Hugo Falcão, incidiu muito na vertente estratégica na preparação para cada jogo, de forma a apresentar uma equipa disposta para condicionar e ferir o oponente. Porém, quando tantas e tantas vezes a estratégia deixa de fazer sentido ao sofrer cedo o 0-1 e se tem jogadores com a qualidade técnica de Sori Mané, Miguel Rosa, Ballack ou Hugo Firmino, urge pensar primeiro em como potenciar o que se tem à disposição e só depois em que ajustes são necessários tendo em conta quem está do outro lado.

Interino implementou três centrais

Depois de o treinador de 27 anos ter testado todos os sistemas possíveis e imaginários com quatro defesas e experimentado colocar vários jogadores em três ou quatro posições, surge nova mudança no comando técnico. E eis que o interino Marcelo Chagas, que terá dado dois ou três treinos antes de receber o Paços de Ferreira, apressou-se a apresentar uma tática de três centrais, promovendo mais uma vez novos posicionamentos e novas dinâmicas, tanto em relação aos encontros anteriores como no decorrer da própria partida, quando o resultado se começou a tornar insatisfatório.

Depois de dois treinadores e um interino durante a primeira volta, uma nova fase vai iniciar-se no Estádio Municipal José Martins Vieira com Miguel Leal no comando técnico. O interessante projeto do clube, que aderiu à Liga Revelação e tem uma equipa B a participar nos distritais da Associação de Futebol de Setúbal, merece prosseguir nas ligas profissionais. E a qualificada mão-de-obra do plantel piedense, que compreende jovens promessas e veteranos com provas dadas, merece mais estabilidade e coordenação enquanto coletivo.















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