Vítor Madeira continua no comando técnico |
O Vasco da Gama de Sines vem de duas
temporadas bastante consistentes, com um 5.º lugar com os mesmos pontos do 4.º em
2016/17 e uma quarta posição na época passada como corolário de um trajeto
ascendente ao longo do campeonato. Os 26 pontos obtidos na segunda volta – só o
promovido Amora e o Barreirense fizeram melhor – e a continuidade do núcleo
duro do plantel são suficientes para os seguidores dos campeonatos da
Associação de Futebol de Setúbal (AFS) se referirem aos sineenses como, no
mínimo, outsiders. No entanto, esse
estatuto é rejeitado por quem trabalha na formação do Litoral Alentejano.
“Para quem analisa a
classificação, admito que haja expetativas elevadas em relação a nós. Mas na
época anterior o Alfarim também tinha ficado nos lugares da frente e na época
passada acabou em 12.º. E o U. Santiago foi à final da Taça, mas acabou por
ficar em 14.º no campeonato. O nosso quarto lugar justifica-se pela qualidade dos
jogadores, mas acredito apenas que podemos garantir a permanência o mais cedo
possível”, começou por dizer o treinador Vítor Madeira em conversa com O Blog do David.
Jogadores sem vencimento em equipa que não repete “o mesmo onze”
“O que nós temos feito é um
milagre. De quinze em quinze dias fazemos entre 150 e 200 quilómetros de ida e
vinda. Sofremos bastantes com estas deslocações. Se quando as equipas vêm jogar
a Sines e a Santiago do Cacém já se queixam tanto, imaginem quem tem de fazer
isso de quinze em quinze dias. Não somos outsiders.
Somos só candidatos a não descer de divisão. Espero que não desçam equipas do Campeonato
de Portugal e, se assim for, já ficamos muito contentes por ficar uma ou duas
posições acima da zona de despromoção”, acrescentou o técnico de 37 anos,
frisando que “o Vasco da Gama não paga” a jogadores e é “o clube mais deslocado
da I Distrital”, longe dos centros urbanos de Almada e Setúbal, em que há mais futebolistas.
Além da distância para as zonas
mais populosas do distrito e de não conseguir aliciar jogadores com dinheiro, o
Vasco da Gama também sente o impacto do centro industrial que é Sines. “Temos
muitas dificuldades em ter este plantel, porque temos dez jogadores a trabalhar
por turnos, somos uma terra com muita indústria e fazemos um grande esforço. Se
repararem, nunca repetimos o mesmo onze. Já estamos habituados a isto e que
seja para continuar, é sinal de que há trabalho em Sines”, vincou o timoneiro
vascaíno, filho do antigo avançado de Vitória de Setúbal, Estoril e Marítimo,
de quem herda o nome.
Vasco da Gama mantém "85 a 90 por cento" do plantel da temporada passada |
Futebol positivo e prata da casa
Apesar das dificuldades e de não
assumir a subida ao Campeonato de Portugal como um objeto, o conjunto sineense
quer ser reconhecido como uma equipa virada para a frente, que olha nos olhos
do adversário e entra a pensar vitória e não no “pontinho” em qualquer campo. “O que nós tentamos é jogar um futebol
positivo e evidenciar as capacidades reais dos nossos jogadores. Na época
passada só nos sentimos inferiores e baixámos as linhas nos jogos com o Amora,
e empatámos os três. Fomos a única equipa que não perdeu com o Amora (três
empates). Perdemos alguns jogos porque jogamos para a frente e para ganhar e
tenho a consciência de que se abordássemos o jogo de forma mais defensiva e com
mais matreirice, que teríamos feito melhor do que o 4.º lugar. Preferir jogar
sempre para ganhar e perder o 0-1 do que empatar 0-0 a jogar para o pontinho.
Muitas vezes pagamos por isso”, atirou Vítor Madeira, irmão de Márcio Madeira,
avançado que atuou nas ligas profissionais ao serviço de Nacional,
Portimonense, Moreirense e Farense e que voltou a Sines em 2015.
No plantel de 2018/19 continua o
núcleo duro, “19 ou 20 jogadores da época passada, a equipa base, 85 a 90 por
cento” do grupo da época passada, aos quais se juntam Sandro e João Generoso
(ambos ex-União de Santiago), Edi Silva (ex-júnior do Praia Milfontes) e Tiago
Sobral (ex-Renascente S. Teotónio), todos com passado no clube.
Márcio Madeira é a figura do Vasco da Gama |
“A Associação trata mal o Vasco da Gama. É um facto”
Sem querer arriscar um favorito
para a subida de divisão, Vítor Madeira considera que “das 16 equipas, há 10 ou
12 equipas com capacidade para subir de divisão, com muita qualidade” e que vai
ter de esperar pela “última jornada para sabermos quem sobe e quem desce”.
O que o treinador do Vasco da
Gama faz questão de frisar é que em Sines estão “muito agastados com a AFS”,
recordando decisões polémicas e desfavoráveis ao clube nas duas épocas
anteriores e a peripécia que marcou o jogo do último domingo. “Em 2016/17
jogámos em Alfarim, dois adeptos entraram em campo para agredir os nossos
jogadores – e a lei é clara, diz que se pune com derrota a equipa da casa -, e
a AFS deu a derrota aos dois clubes”, começou por enumerar.
“Na época passada, com o
Barreirense, por uma baliza ter menos oito centímetros num estádio municipal
que é o nosso, perdemos o jogo – e o jogo foi no domingo e a decisão saiu na
quinta-feira, por isso acreditamos que houve má fé da AFS, que deliberadamente
nos castigou”, prosseguiu.
“Esta época começámos com um
episódio caricato: arrancámos de Sines para a Cova da Piedade, almoçámos em
Almada, passeámos no Fórum Almada, fomos para o campo da Cova da Piedade e
estivemos meia hora à espera que alguém nos abrisse a porta. Entretanto, o
nosso diretor liga ao presidente da AFS, que de forma antipática disse que nós
não sabíamos de emails e que o campo tinha sido alterado. Arrancámos novamente
de autocarro para o Monte de Caparica e a meio da viagem muitos dos nossos
jogadores lembraram-se que não tinham pitons de borracha, pois estava previsto
jogarmos em relva natural. Tivemos dificuldades para arranjarmos botas, porque
caso não fossemos a jogo, teríamos que viajar novamente ao Monte de Caparica
até a Taça acabar e não temos disponibilidade para isso. Depois o presidente da
AFS ligou a pedir desculpa, porque houve um erro da AFS e não nos tinham
enviado email algum. Aquilo afetou-nos um bocado, mas também é verdade que
perdemos 2-4 sem espinhas e que mesmo que tivéssemos as melhores botas do mundo
teríamos perdido com o Cova da Piedade B. Tenho a certeza que no futuro os
resultados vão ser diferente. A Associação trata mal o Vasco da Gama. É um
facto”, concluiu, incisivo.
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