quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

As pinceladas de Julio Velázquez

Julio Velázquez está a criar um Belenenses bem à espanhola
Diego Velázquez foi um conhecido pintor espanhol no século XVII, tendo como principal obra Las Meninas (1656). 360 anos depois, outro Velázquez, Julio, também espanhol mas treinador de futebol de profissão, vai dando umas pinceladas muito próprias no futebol do Belenenses.

O antigo técnico do Villarreal e Bétis, numa das primeiras entrevistas que concedeu como timoneiro dos azuis do Restelo, já tinha deixado o aviso: para ele 3x5x2, 4x2x3x1, 4x4x2 e 4x3x3 são apenas números de telefone. O que para ele importa é a dinâmica coletiva.


Um cliché excêntrico de um jovem treinador estrangeiro recém-chegado ao campeonato português? Nada disso. Tive a oportunidade de assistir in loco ao Belenenses-V. Guimarães (3-3) e, mesmo tentando descortinar exaustivamente qual o sistema tático utilizado, não o consegui fazer.

Como os gráficos abaixo demonstram, juro ter visto Miguel Rosa a falso ponta-de-lança numa primeira instância, em 4x2x3x1 [hipótese A]. Depois, com o passar do tempo e dependendo do posicionamento de Carlos Martins (a falso ponta de lança ou a n.º 10), ora vislumbrava um 4x1x4x1 com Rosa e Sturgeon nas alas [hipótese B], ora um 4x4x2 losango com os dois como avançados móveis [hipótese C].

Hipótese C
Hipótese A
Hipótese B

 Com tal desdobramento tático – a chamada dinâmica -, o emblema da cruz de Cristo não dá grandes referências de marcação aos jogadores adversários, especialmente no eixo do ataque, com Miguel Rosa, Carlos Martins e Sturgeon a aparecem alternadamente nessa zona.

Uma pincelada bem à espanhola de Julio Velázquez, que reproduziu em Belém algo muito utilizado nos colegas de profissão do seu país, com Pep Guardiola como nome mais sonante. Bem aplicada em campo, essa dinâmica confunde os adversários, mas a ser trabalhada apenas há um mês… ainda confunde os próprios jogadores do Belenenses, que ainda vão andando às apalpadelas para encontrar os melhores terrenos para pisar. Levará algum tempo a ficar no ponto, mas o campeonato não para, é um autêntico contrarrelógio, e esse trabalho terá de ser desenvolvido com o comboio em andamento. Que é como quem diz, à medida que são conquistados pontos.

Mas este Velázquez, com apenas 34 anos, vai dando outras pinceladas, todas a fazer lembrar o trabalho de compatriotas noutras paragens. Incutiu na equipa o gosto pela posse, utiliza médios em quantidade e nesta receção ao Vitória de Guimarães, quando Rafael Amorim se lesionou e mesmo tendo um central (Gonçalo Silva) no banco, optou por fazer recuar um médio (Rúben Pinto) para o eixo da defesa. Faz lembrar, salvo as devidas proporções, os recuos de Mascherano no Barcelona e de Javi Martínez no Athletic Bilbao, que visavam melhorar a primeira fase de construção das respetivas equipas.

Julio já ganha a Ricardo Sá Pinto pela organização e a Lito Vidigal pela ambição na qualidade do futebol. Veremos se todas as pinceladas somadas chegam para compor um belo quadro.















3 comentários:

  1. Excelente post, que me deixou com água na boca. Ainda não assisti a este "novo Belenenses", mas fiquei curioso.
    Obrigado pelas dicas, vou querer ver esta equipa em campo, brevemente.

    ResponderEliminar
  2. Boa análise vejamos se daqui a 3 meses os jogadores não lhe fizeram já a folha devido ao facto de serem obrigados a correr muito mais, principalmente os laterais

    ResponderEliminar
  3. Boa análise vejamos se daqui a 3 meses os jogadores não lhe fizeram já a folha devido ao facto de serem obrigados a correr muito mais, principalmente os laterais

    ResponderEliminar