“Só três pessoas conseguiram calar o Maracanã com 200 mil pessoas lá dentro: Papa, Sinatra e eu”. Recorde o Maracanazo
Ghiggia foi herói do Uruguai e carrasco do Brasil no Mundial 1950
O Brasil
é o recordista de títulos mundiais, cinco, mas teve de esperar até ao sexto
Campeonato do Mundo, em 1958, para levantar pela primeira vez a taça. Antes
disso passou inclusivamente pela humilhação de organizar o torneio e perder o
jogo decisivo quando nada o fazia prever, 54 anos antes de Charisteas
e a Grécia
terem feito os portugueses vivenciarem um sentimento semelhante.
Em 1950, o Mundial não teve
final. Em vez disso, foi decidido num minitorneio quadrangular. Nos dois
primeiros jogos, o Brasil
goleou a Suécia
(7-1) e a Espanha
(6-1). No derradeiro encontro, no Maracanã, um empate diante do Uruguai
bastava para assegurar a conquista do troféu, ao passo que o rival
sul-americano estava obrigado a ganhar, o que levou cerca de 200 mil pessoas a
encher o recinto carioca. O escrete
até começou melhor, colocando-se em vantagem no início da segunda parte, por
intermédio de Friaça (47’). Porém, Schiaffino empatou a meio do segundo tempo
(66’) e Alcides Ghiggia assinou o golo da reviravolta para a seleção
celeste a cerca de dez minutos do fim (79’).
Esse golo de Ghiggia colocou o Brasil
em depressão. Estava feito o “Maracanazo”. “A nossa Hiroshima”, exagerou
o jornalista e escritor brasileiro Nélson Rodrigues. “A maior derrota de
sempre”, escreveu o antigo avançado, treinador e dirigente argentino Jorge
Valdano. “Só três pessoas conseguiram
calar o Maracanã com 200 mil pessoas lá dentro: o Papa João Paulo II, o Frank
Sinatra e eu”, exaltou o extremo direito uruguaio que ao longo da sua carreira
representou clubes como Peñarol,
AS
Roma e AC
Milan.
Do outro lado da história ficou o
guarda-redes brasileiro Moacir Barbosa, que deixou passar a bola entre ele e o
poste. Nunca mais teve paz e viveu condenado a um castigo eterno sem
julgamento, completamente marginalizado e escondido até morrer numa cidade do
interior onde vivia em reclusão com a filha adotiva. Foi inclusivamente
impedido de entrar na concentração da seleção para o Mundial
1994, para não atrair o azar. Antes, os responsáveis do Maracanã mandaram
entregar-lhe em casa os ferros da baliza dos golos uruguaios, para que ele
nunca esquecesse aquele jogo. “No Brasil a pena maior por um crime são 30 anos.
Eu pago há 43 por um crime que não cometi”, afirmou um dia.
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