Lateral leonino Abel vigiado de perto pelo central romano Juan |
Sem muito por onde
escolher – a alternativa era um jogo para o Torneio Teresa Herrera
em 1964, quase três décadas antes de ter nascido –, a minha
primeira memória de um jogo entre Sporting
e AS
Roma remonta à fase de grupos da Liga
dos Campeões em 2007-08.
Vice-campeão nacional
nas duas épocas anteriores, os leões
de Paulo Bento mantinham-se fiéis ao 4x4x2 losango que remontava
desde os tempos de Fernando Santos (2003-04) e que já havia sido
herdado por José
Peseiro e a uma política de construção do plantel low cost,
com aposta na formação e aproveitamento de empréstimos e de
jogadores em fim de contrato.
Depois das transferências
de Ricardo para o Betis
e Nani para o Manchester
United e das saídas a custo zero de Rodrigo Tello, Marco Caneira
(regresso ao Valência
após empréstimo) e Alecsandro (regresso ao Cruzeiro
após empréstimo), os verde
e brancos viram-se obrigados a ir ao mercado contratar o
internacional sérvio Vladimir Stojkovic para assumir a titularidade
da baliza, o brasileiro Gladstone para lutar com Tonel por uma vaga
ao lado de Polga no eixo defensivo, o internacional eslovaco Marián
Had e o brasileiro Pedro Silva para brigarem pelo posto no lado
esquerdo da defesa, Marat Izmailov e Simon Vukcevic para oferecerem
mais soluções às posições mais adiantas do meio-campo e Derlei e
o gigante montenegrino Milan Purovic para preencherem vagas no
ataque. No entanto, o início da temporada 2007-08 ficou marcado por
problemas disciplinares como o de Stojkovic, lesões com a de Derlei
e uma inconstância de resultados e de exibições que até levou o
rapper Valete a fazer uma canção a pedir a saída de Paulo
Bento.
Já a AS
Roma, na ressaca do escândalo Calciocaos, aproveitou a
despromoção administrativa da Juventus
em 2006 e a punição imposta ao AC
Milan (inicialmente perda de 30 pontos, depois 15 e
posteriormente oito) para se assumir como segunda grande força na
Série
A, atrás do Inter
de Milão, tendo conquistado a Taça de Itália em 2006-07. No
plantel de Luciano Spalletti constavam grandes nomes como os do
eterno capitão Francesco Totti e de outros internacionais italianos
como Max Tonetto, Christian Panucci, Marco Cassetti, Daniele De Rossi
e Simone Perrotta, assim como os brasileiros Doni, Juan, Cicinho e
Mancini, os franceses Philippe Mexès e Ludovic Giuly o chileno David
Pizarro e o montenegrino Mirko Vučinić.
O Sporting,
que tal como a AS
Roma partiu para o jogo do Olímpico com três pontos somados nas
duas primeiras jornadas, não foi inferior aos romanos
em nenhum dos encontros, mas acabou por sair derrotado na capital
italiana e não ir além de um empate em Alvalade.
A 23 de outubro de 2007,
os leões
reagiram bem a um golo de Juan na sequência de um canto apontado por
Pizarro (15'), chegando ao empate logo a seguir por intermédio de
Liedson após cruzamento de Abel (18'), mas acabaram por sucumbir na
segunda parte. Depois Mancini desperdiçar uma grande penalidade,
defendida por Tiago, Vučinić fez o 2-1 no seguimento de uma jogada
individual (70').
"Continua bem viva a
maldição que assola o Sporting
nas deslocações a Itália, país onde, nas competições europeias,
nunca foi capaz de conquistar uma vitória. Ontem, apesar de ter
contrariado a teórica superioridade do poderoso Roma
durante quase todo o encontro, voltou a sucumbir ao papel de vítima,
graças a um golo do avançado que rendeu Totti, lesionado na
primeira parte: Vučinić decidiu a contenda aos 70’. A
surpreendente ausência de Polga marcou o início do encontro, tendo
Paulo Bento optado por recuar Miguel Veloso para o eixo da defesa,
enquanto João
Moutinho se encarregava da posição seis, à frente do quarteto
mais recuado. Estava aberta a porta à utilização simultânea de
Izmailov e Vukcevic nos vértices exteriores do losango. O equilíbrio
da estrutura manteve-se, e isso mesmo ficou patente ao longo da
primeira parte. Ainda assim, o fantástico ambiente criado pelos
tifosi romanos
impulsionou a equipa anfitriã nos primeiros minutos do encontro, e,
depois de um período de estudo mútuo, Juan marcou o primeiro na
sequência de um canto, culminando uma fase de maior pressão
transalpina. Instalava-se o receio entre os adeptos leoninos, que,
contudo, foi quase instantaneamente dissipado por um fantástico
remate de Liedson: à cabeçada, deu cabo da maldição pessoal que o
impedia de assinar um golo na Champions
– excelente a incursão de Abel, bem como o cruzamento. O empate
pôs o Roma
em sentido, e a personalidade do leão
começou a sobressair. Então, só de bola parada os italianos
assustavam – perder Polga foi um rude golpe para o jogo aéreo
verde
e branco, departamento no qual Miguel Veloso revela persistentes
limitações –, mas os cantos e livres laterais eram uma
preocupação constante para a baliza de Tiago. Se o início do
segundo tempo fica ligado à defesa de Tiago a penálti apontado por
Mancini, a punir falta inexistente, o equilíbrio que se seguiu
acabou por ser desfeito pelo golo de Vučinić,” escreveu o jornal
O Jogo.
Em Lisboa, a astúcia
romana
voltou a dar frutos, com o lateral esquerdo Cassetti a adiantar os
homens da capital italiana logo aos quatro minutos, após boa
incursão pelo flanco. Tal como em Roma, Liedson voltou a empatar,
aproveitando um desentendimento entre Mexès e Doni (22'). O
levezinho viria a bisar já na segunda parte, através de um
belíssimo golpe de cabeça na resposta a um cruzamento de Izmailov
(64'). Contudo, os giallorossi
chegaram ao empate já ao cair do pano através de um autogolo de
Polga, que desviou para a própria baliza uma bola pontapeada por
Pizarro (89').
“Penalizado por uma
certa dose de dormência que lhe bloqueou a execução de movimentos
agressivos na linha defensiva logo nos instantes iniciais da partida,
o Sporting
parecia ter a noite estragada, quando Cassetti, aos 4’, rompeu
lateralmente, da esquerda para o meio, antes de atirar a bola ao
ângulo superior direito da baliza. A recuperação do choque foi
progressiva, sendo acelerada a seguir ao primeiro toque de morte
sentenciado pelo (inevitável) Liedson (22’), que no segundo tempo
(64’), premiando a aplicação e o desempenho tático do coletivo,
voltaria a fazer vibrar o estádio, com um autêntico pontapé de
cabeça, no aproveitamento de um cruzamento/remate de Izmailov –
isto apenas um minuto depois de Paulo Bento ter trocado Djaló por
Vukcevic, de maneira a passar do 4x4x2 losango para o (em crescente
afirmação) 4x2x3x1. Feito o mais difícil, que era virar o
resultado perante o vice-campeão italiano, os verdes e brancos, sem
se retraírem excessivamente nomeio campo defensivo, foram fortes a
controlar. Quando já se perspetivava o triunfo do sistema… tático,
caiu do céu, aos trambolhões, o (auto)golo do empate que fez as
delícias dos romanos:
Polga teve galo na forma como, de cabeça, tentou travar um remate de
meia-distância de Pizarro, traindo o guarda-redes Tiago – rendeu o
lesionado Stojkovic –, que, note-se, embora tenha sofrido dois
golos, nem uma defesa fez!!!”, podia ler-se no jornal O Jogo.
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