terça-feira, 19 de julho de 2022

A minha primeira memória de... um jogo entre Sporting e AS Roma

Lateral leonino Abel vigiado de perto pelo central romano Juan
Sem muito por onde escolher – a alternativa era um jogo para o Torneio Teresa Herrera em 1964, quase três décadas antes de ter nascido –, a minha primeira memória de um jogo entre Sporting e AS Roma remonta à fase de grupos da Liga dos Campeões em 2007-08.

Vice-campeão nacional nas duas épocas anteriores, os leões de Paulo Bento mantinham-se fiéis ao 4x4x2 losango que remontava desde os tempos de Fernando Santos (2003-04) e que já havia sido herdado por José Peseiro e a uma política de construção do plantel low cost, com aposta na formação e aproveitamento de empréstimos e de jogadores em fim de contrato.

Depois das transferências de Ricardo para o Betis e Nani para o Manchester United e das saídas a custo zero de Rodrigo Tello, Marco Caneira (regresso ao Valência após empréstimo) e Alecsandro (regresso ao Cruzeiro após empréstimo), os verde e brancos viram-se obrigados a ir ao mercado contratar o internacional sérvio Vladimir Stojkovic para assumir a titularidade da baliza, o brasileiro Gladstone para lutar com Tonel por uma vaga ao lado de Polga no eixo defensivo, o internacional eslovaco Marián Had e o brasileiro Pedro Silva para brigarem pelo posto no lado esquerdo da defesa, Marat Izmailov e Simon Vukcevic para oferecerem mais soluções às posições mais adiantas do meio-campo e Derlei e o gigante montenegrino Milan Purovic para preencherem vagas no ataque. No entanto, o início da temporada 2007-08 ficou marcado por problemas disciplinares como o de Stojkovic, lesões com a de Derlei e uma inconstância de resultados e de exibições que até levou o rapper Valete a fazer uma canção a pedir a saída de Paulo Bento.


Já a AS Roma, na ressaca do escândalo Calciocaos, aproveitou a despromoção administrativa da Juventus em 2006 e a punição imposta ao AC Milan (inicialmente perda de 30 pontos, depois 15 e posteriormente oito) para se assumir como segunda grande força na Série A, atrás do Inter de Milão, tendo conquistado a Taça de Itália em 2006-07. No plantel de Luciano Spalletti constavam grandes nomes como os do eterno capitão Francesco Totti e de outros internacionais italianos como Max Tonetto, Christian Panucci, Marco Cassetti, Daniele De Rossi e Simone Perrotta, assim como os brasileiros Doni, Juan, Cicinho e Mancini, os franceses Philippe Mexès e Ludovic Giuly o chileno David Pizarro e o montenegrino Mirko Vučinić.

O Sporting, que tal como a AS Roma partiu para o jogo do Olímpico com três pontos somados nas duas primeiras jornadas, não foi inferior aos romanos em nenhum dos encontros, mas acabou por sair derrotado na capital italiana e não ir além de um empate em Alvalade.

A 23 de outubro de 2007, os leões reagiram bem a um golo de Juan na sequência de um canto apontado por Pizarro (15'), chegando ao empate logo a seguir por intermédio de Liedson após cruzamento de Abel (18'), mas acabaram por sucumbir na segunda parte. Depois Mancini desperdiçar uma grande penalidade, defendida por Tiago, Vučinić fez o 2-1 no seguimento de uma jogada individual (70').

"Continua bem viva a maldição que assola o Sporting nas deslocações a Itália, país onde, nas competições europeias, nunca foi capaz de conquistar uma vitória. Ontem, apesar de ter contrariado a teórica superioridade do poderoso Roma durante quase todo o encontro, voltou a sucumbir ao papel de vítima, graças a um golo do avançado que rendeu Totti, lesionado na primeira parte: Vučinić decidiu a contenda aos 70’. A surpreendente ausência de Polga marcou o início do encontro, tendo Paulo Bento optado por recuar Miguel Veloso para o eixo da defesa, enquanto João Moutinho se encarregava da posição seis, à frente do quarteto mais recuado. Estava aberta a porta à utilização simultânea de Izmailov e Vukcevic nos vértices exteriores do losango. O equilíbrio da estrutura manteve-se, e isso mesmo ficou patente ao longo da primeira parte. Ainda assim, o fantástico ambiente criado pelos tifosi romanos impulsionou a equipa anfitriã nos primeiros minutos do encontro, e, depois de um período de estudo mútuo, Juan marcou o primeiro na sequência de um canto, culminando uma fase de maior pressão transalpina. Instalava-se o receio entre os adeptos leoninos, que, contudo, foi quase instantaneamente dissipado por um fantástico remate de Liedson: à cabeçada, deu cabo da maldição pessoal que o impedia de assinar um golo na Champions – excelente a incursão de Abel, bem como o cruzamento. O empate pôs o Roma em sentido, e a personalidade do leão começou a sobressair. Então, só de bola parada os italianos assustavam – perder Polga foi um rude golpe para o jogo aéreo verde e branco, departamento no qual Miguel Veloso revela persistentes limitações –, mas os cantos e livres laterais eram uma preocupação constante para a baliza de Tiago. Se o início do segundo tempo fica ligado à defesa de Tiago a penálti apontado por Mancini, a punir falta inexistente, o equilíbrio que se seguiu acabou por ser desfeito pelo golo de Vučinić,” escreveu o jornal O Jogo.



Em Lisboa, a astúcia romana voltou a dar frutos, com o lateral esquerdo Cassetti a adiantar os homens da capital italiana logo aos quatro minutos, após boa incursão pelo flanco. Tal como em Roma, Liedson voltou a empatar, aproveitando um desentendimento entre Mexès e Doni (22'). O levezinho viria a bisar já na segunda parte, através de um belíssimo golpe de cabeça na resposta a um cruzamento de Izmailov (64'). Contudo, os giallorossi chegaram ao empate já ao cair do pano através de um autogolo de Polga, que desviou para a própria baliza uma bola pontapeada por Pizarro (89').

“Penalizado por uma certa dose de dormência que lhe bloqueou a execução de movimentos agressivos na linha defensiva logo nos instantes iniciais da partida, o Sporting parecia ter a noite estragada, quando Cassetti, aos 4’, rompeu lateralmente, da esquerda para o meio, antes de atirar a bola ao ângulo superior direito da baliza. A recuperação do choque foi progressiva, sendo acelerada a seguir ao primeiro toque de morte sentenciado pelo (inevitável) Liedson (22’), que no segundo tempo (64’), premiando a aplicação e o desempenho tático do coletivo, voltaria a fazer vibrar o estádio, com um autêntico pontapé de cabeça, no aproveitamento de um cruzamento/remate de Izmailov – isto apenas um minuto depois de Paulo Bento ter trocado Djaló por Vukcevic, de maneira a passar do 4x4x2 losango para o (em crescente afirmação) 4x2x3x1. Feito o mais difícil, que era virar o resultado perante o vice-campeão italiano, os verdes e brancos, sem se retraírem excessivamente nomeio campo defensivo, foram fortes a controlar. Quando já se perspetivava o triunfo do sistema… tático, caiu do céu, aos trambolhões, o (auto)golo do empate que fez as delícias dos romanos: Polga teve galo na forma como, de cabeça, tentou travar um remate de meia-distância de Pizarro, traindo o guarda-redes Tiago – rendeu o lesionado Stojkovic –, que, note-se, embora tenha sofrido dois golos, nem uma defesa fez!!!”, podia ler-se no jornal O Jogo.










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