Fernando Couto e Jorge Costa capitaneavam Lazio e FC Porto |
Falar da minha primeira memória
de um jogo entre FC
Porto e Lazio
é recordar uma das noites mais épicas que os adeptos portistas
e o antigo Estádio das Antas viveram, a 10 de abril de 2003, numa partida da
primeira-mão das meias-finais da Taça
UEFA. Hoje, a formação
laziale até pode ser uma presença
assídua nas provas europeias e até pode ter estado recentemente na Liga
dos Campeões, mas em 2003 era uma das principais equipas daquela que ainda
era a era dourada do calcio.
Afinal, o emblema
romano tinha sido campeão italiano e vencedor da Taça de Itália em 1999-00,
vice-campeão na época anterior e 3.º classificado em 2000-01. Em termos internacionais, vinha de três
participações consecutivas na Liga
dos Campeões – tendo atingido os quartos de final em 1999-00 – e na década
anterior tinha sido finalista da Taça
UEFA em 1997-98 e vencedor da Taça das Taças e da Supertaça Europeia em
1999.
O plantel, esse, era recheado de
jogadores internacionais: os guarda-redes italianos Angelo Peruzzi e Luca
Marchegiani, o central português Fernando Couto, o central/médio defensivo
sérvio Sinisa Mihajlovic, o defesa central/esquerdo italiano Giuseppe Favalli, os
defesas centrais/direitos italianos Massimo Oddo e Paolo Negro, o lateral italiano
Giuseppe Pancaro, o lateral/médio esquerdo César, o médio defensivo argentino Diego
Simeone, o médio defensivo italiano Dino Baggio, o médio sérvio Dejan Stankovic,
os médios italianos Giuliano Giannichedda e Fabio Liverani, o médio ofensivo
italiano Stefano Fiore, o extremo argentino Lucas Castromán, o extremo sérvio Nikola
Lazetic, o avançado argentino Claudio López e os avançados italianos Enrico
Chiesa e Simone Inzaghi. Difícil era encontrar um não internacional no plantel às
ordens de Roberto Mancini, na altura um treinador em início de carreira, mas já
numa trajetória ascendente no muito tático e competitivo futebol italiano.
Quando Claudio López inaugurou o
marcador para a Lazio
logo aos seis minutos, a passe de Favalli, não se podia dizer que a formação
italiana estava a causar algum tipo de surpresa na Invicta, por muito forte
que esse FC
Porto de José
Mourinho fosse.
No entanto, os dragões
reagiram bem e avançaram para uma noite mágica, com direito a uma impensável
goleada: 4-1. Maniche, através de um remate colocado de fora da área, empatou a
partida logo a seguir (10’). Derlei marcou o segundo, de cabeça após canto de
Deco (28’), e o terceiro, na recarga a um livre de Deco depois de defesa
incompleta de Peruzzi (50’). Postiga, servido por Alenichev, sentenciou o
resultado quando faltava ainda mais de meia hora para jogar (56’). Até ao apito
final, José
Mourinho foi expulso ao impedir um lançamento de linha lateral de
Castromán.
“Se há noites europeias que vão
ficar na história do FC
Porto e do Estádio das Antas (e aqui já não vai haver muitas mais), a de
ontem é seguramente uma delas. Não apenas porque terá carimbado o apuramento do
FC
Porto para a final da Taça
UEFA em Sevilha, mas também por tudo o resto que a envolveu. Simplesmente
memorável! O jogo, a exibição, o ambiente, o espetáculo. Quem acompanhou tudo
isto ao vivo não lamentará um só pingo da chuva que ininterruptamente caiu
durante o jogo e abençoou a noite mágica do dragão.
O único arrepio que escorreu pela espinha dos portistas
foi naquele momento em que esse tal Cláudio Lopez fez o primeiro golo da noite.
Mas não haveria de ser um piolho a atravessar-se no caminho do dragão
e a travar o ímpeto dos portugueses quando ainda o jogo era uma criança. Era o
que faltava! Há males que vêm por bem e esse balde de água fria aqueceu ainda
mais a alma portista
e tornou a vida dos romanos num inferno. Aliás, com todo aquele fogo que se
seguiu não admira que Roma ainda esteja a arder... José
Mourinho começou a ganhar o jogo na equipa que armou para o encontro. A
inclusão de Alenichev revelou-se uma medida fundamental na decisão do jogo tal
foi o contributo que o russo deu à manobra atacante e não só, pois mais do que
uma vez ele foi visto a fazer carrinhos no meio-campo portista.
Mas se Alenichev já era previsível no onze, já Ricardo Carvalho foi uma meia
surpresa. Mas foi também outra aposta certa para controlar e acompanhar os
movimentos velozes de López e Chiesa. E se Mourinho
optou pela arte, Mancini preferiu o músculo. Simeone não estava no programa,
mas a auréola de Deco terá motivado cautelas redobradas dos italianos. Mas nem
isso chegou, apesar dos romanos terem começado o jogo a ganhar. Foram os seis
minutos de fama da Lazio,
pois a partir daí só se viu uma equipa em campo”, escreveu o Record.
Na segunda-mão, no Olímpico de
Roma, o FC
Porto resistiu e segurou um empate a zero. “Fibra de campeão, nervos de aço
e uma coragem sem limites, eis as características determinantes que permitiram
ao FC
Porto sobreviver à batalha de Roma. Sim, porque acima de tudo foi de uma
batalha que se tratou. Num ambiente fantástico que contribuído forma decisiva
para que a Lazio
acentuasse o registo intimidatório com que atuou durante largo período do jogo,
cada jogador do FC
Porto teve de recorrer à força do seu carácter para não se deixar engolir
por um autêntico vulcão. Mas o dragão
a tudo isto resistiu e chegou com brilho e justiça à tão desejada final de
Sevilha. Pena é que Hélder Postiga não possa jogá-la. É evidente que a vantagem
das Antas permitiu ao FC
Porto encarar o jogo de Roma com alguma segurança. E embora a lesão de
Costinha, a juntar à ausência de José
Mourinho do banco e a ilusão que a Lazio
conseguiu criar entre os seus adeptos (impressionante o ambiente do Olímpico!)
pudessem colocar ainda sob prudente reserva a passagem do FC
Porto à final da Taça
UEFA, a verdade é que só mesmo uma calamidade poderia desviar o dragão
de um caminho que soube construir de forma tão notável e tão sólida”, resumiu o
Record.
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