quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre FC Porto e Lazio

Fernando Couto e Jorge Costa capitaneavam Lazio e FC Porto
Falar da minha primeira memória de um jogo entre FC Porto e Lazio é recordar uma das noites mais épicas que os adeptos portistas e o antigo Estádio das Antas viveram, a 10 de abril de 2003, numa partida da primeira-mão das meias-finais da Taça UEFA. Hoje, a formação laziale até pode ser uma presença assídua nas provas europeias e até pode ter estado recentemente na Liga dos Campeões, mas em 2003 era uma das principais equipas daquela que ainda era a era dourada do calcio.
 
Afinal, o emblema romano tinha sido campeão italiano e vencedor da Taça de Itália em 1999-00, vice-campeão na época anterior e 3.º classificado em 2000-01.  Em termos internacionais, vinha de três participações consecutivas na Liga dos Campeões – tendo atingido os quartos de final em 1999-00 – e na década anterior tinha sido finalista da Taça UEFA em 1997-98 e vencedor da Taça das Taças e da Supertaça Europeia em 1999.
 
O plantel, esse, era recheado de jogadores internacionais: os guarda-redes italianos Angelo Peruzzi e Luca Marchegiani, o central português Fernando Couto, o central/médio defensivo sérvio Sinisa Mihajlovic, o defesa central/esquerdo italiano Giuseppe Favalli, os defesas centrais/direitos italianos Massimo Oddo e Paolo Negro, o lateral italiano Giuseppe Pancaro, o lateral/médio esquerdo César, o médio defensivo argentino Diego Simeone, o médio defensivo italiano Dino Baggio, o médio sérvio Dejan Stankovic, os médios italianos Giuliano Giannichedda e Fabio Liverani, o médio ofensivo italiano Stefano Fiore, o extremo argentino Lucas Castromán, o extremo sérvio Nikola Lazetic, o avançado argentino Claudio López e os avançados italianos Enrico Chiesa e Simone Inzaghi. Difícil era encontrar um não internacional no plantel às ordens de Roberto Mancini, na altura um treinador em início de carreira, mas já numa trajetória ascendente no muito tático e competitivo futebol italiano.


Quando Claudio López inaugurou o marcador para a Lazio logo aos seis minutos, a passe de Favalli, não se podia dizer que a formação italiana estava a causar algum tipo de surpresa na Invicta, por muito forte que esse FC Porto de José Mourinho fosse.
 
No entanto, os dragões reagiram bem e avançaram para uma noite mágica, com direito a uma impensável goleada: 4-1. Maniche, através de um remate colocado de fora da área, empatou a partida logo a seguir (10’). Derlei marcou o segundo, de cabeça após canto de Deco (28’), e o terceiro, na recarga a um livre de Deco depois de defesa incompleta de Peruzzi (50’). Postiga, servido por Alenichev, sentenciou o resultado quando faltava ainda mais de meia hora para jogar (56’). Até ao apito final, José Mourinho foi expulso ao impedir um lançamento de linha lateral de Castromán.
 
“Se há noites europeias que vão ficar na história do FC Porto e do Estádio das Antas (e aqui já não vai haver muitas mais), a de ontem é seguramente uma delas. Não apenas porque terá carimbado o apuramento do FC Porto para a final da Taça UEFA em Sevilha, mas também por tudo o resto que a envolveu. Simplesmente memorável! O jogo, a exibição, o ambiente, o espetáculo. Quem acompanhou tudo isto ao vivo não lamentará um só pingo da chuva que ininterruptamente caiu durante o jogo e abençoou a noite mágica do dragão. O único arrepio que escorreu pela espinha dos portistas foi naquele momento em que esse tal Cláudio Lopez fez o primeiro golo da noite. Mas não haveria de ser um piolho a atravessar-se no caminho do dragão e a travar o ímpeto dos portugueses quando ainda o jogo era uma criança. Era o que faltava! Há males que vêm por bem e esse balde de água fria aqueceu ainda mais a alma portista e tornou a vida dos romanos num inferno. Aliás, com todo aquele fogo que se seguiu não admira que Roma ainda esteja a arder... José Mourinho começou a ganhar o jogo na equipa que armou para o encontro. A inclusão de Alenichev revelou-se uma medida fundamental na decisão do jogo tal foi o contributo que o russo deu à manobra atacante e não só, pois mais do que uma vez ele foi visto a fazer carrinhos no meio-campo portista. Mas se Alenichev já era previsível no onze, já Ricardo Carvalho foi uma meia surpresa. Mas foi também outra aposta certa para controlar e acompanhar os movimentos velozes de López e Chiesa. E se Mourinho optou pela arte, Mancini preferiu o músculo. Simeone não estava no programa, mas a auréola de Deco terá motivado cautelas redobradas dos italianos. Mas nem isso chegou, apesar dos romanos terem começado o jogo a ganhar. Foram os seis minutos de fama da Lazio, pois a partir daí só se viu uma equipa em campo”, escreveu o Record.
 
 
 
Na segunda-mão, no Olímpico de Roma, o FC Porto resistiu e segurou um empate a zero. “Fibra de campeão, nervos de aço e uma coragem sem limites, eis as características determinantes que permitiram ao FC Porto sobreviver à batalha de Roma. Sim, porque acima de tudo foi de uma batalha que se tratou. Num ambiente fantástico que contribuído forma decisiva para que a Lazio acentuasse o registo intimidatório com que atuou durante largo período do jogo, cada jogador do FC Porto teve de recorrer à força do seu carácter para não se deixar engolir por um autêntico vulcão. Mas o dragão a tudo isto resistiu e chegou com brilho e justiça à tão desejada final de Sevilha. Pena é que Hélder Postiga não possa jogá-la. É evidente que a vantagem das Antas permitiu ao FC Porto encarar o jogo de Roma com alguma segurança. E embora a lesão de Costinha, a juntar à ausência de José Mourinho do banco e a ilusão que a Lazio conseguiu criar entre os seus adeptos (impressionante o ambiente do Olímpico!) pudessem colocar ainda sob prudente reserva a passagem do FC Porto à final da Taça UEFA, a verdade é que só mesmo uma calamidade poderia desviar o dragão de um caminho que soube construir de forma tão notável e tão sólida”, resumiu o Record.
 








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