Luisão saltou mais alto do que toda a gente para fazer o 4-0 |
O Arouca
conquistou ao longo da última década algum estatuto no futebol português, fruto
de cinco participações na I
Liga e de uma presença na Liga
Europa, mas em outubro de 2010 era apenas um estreante na II
Liga e o clube em que o apresentador de televisão Jorge Gabriel tinha
trabalhado como treinador (em 2006-07 como adjunto e na época seguinte como
treinador principal).
Após terem afastado o Esposende
na 2.ª eliminatória da Taça
de Portugal (2-0 no Minho),
os beirões
visitaram o então campeão nacional Benfica,
que não tinha propriamente começado da melhor maneira a segunda temporada de Jorge
Jesus no comando técnico, mas que mostrava qualidade para golear
praticamente todas as equipas que lhe aparecessem pela frente.
Recordo-me perfeitamente de ter
ido a um café com uma amiga no Lavradio, no concelho do Barreiro, e que fui
assistindo no interior do estabelecimento à goleada das águias, que
apresentaram um misto de habituais titulares como Luisão, Javi García, Pablo
Aimar, Toto Salvio, Nico Gaitán e Javier Saviola e segundas linhas como o
guarda-redes Júlio César (o ex-Belenenses,
não o ex-Inter
de Milão), Sidnei, César Peixoto, Airton e Alan Kardec. Os laterais Maxi
Pereira, com uma gastroenterite, e Fábio
Coentrão, que apresentava uma entorse na tibiotársica, ficaram de fora.
Já o Arouca
de Henrique Nunes tinha como nome mais sonante o avançado Jorge Leitão,
goleador do Walsall nas divisões secundárias de Inglaterra nas primeiras épocas
após a viragem do milénio.
Após 24 minutos sem golos, o
brasileiro Alan Kardec inaugurou o marcador, de cabeça, após cruzamento de Gaitán
a partir do lado direito. Aos 31’, Kardec cabeceou ao poste na resposta um
livre de Aimar na esquerda, mas Saviola fez o 2-0 na recarga, com… os joelhos. E
à beira do intervalo, o avançado brasileiro chegou ao bis, na sequência de um
canto apontado na esquerda por Gaitán.
No segundo tempo, apenas se
cumpriu calendário. Ao minuto 66, no seguimento de um livre lateral de César
Peixoto na esquerda, Luisão saltou mais alto do que toda a gente e cabeceou
para o 4-0. E aos 86’, Gaitán tabelou com Nuno Gomes e picou a bola sobre o
guarda-redes Pedro Soares, completando a mão cheia de golos do Benfica.
O tento de honra do Arouca
chegou no minuto a seguir ao 5-0, pelo médio Diogo Santos, a encostar ao
segundo poste na sequência de um canto executado na direita.
“Ele tinha avisado, não tinha?
Kardec acreditava que iria marcar o primeiro golo oficial em Portugal (só tinha
faturado na Liga
Europa, em Marselha, na última temporada) diante do Arouca.
Dito e feito, prometeu e cumpriu, abusando até um pouco da premonição, pois em
vez de um apontou dois, ajudando a equipa a despachar o Arouca
na terceira eliminatória da Taça
de Portugal. Kardec só descansou depois de ver duas bolas saídas da sua
cabeça com destino certo, satisfazendo também Jorge
Jesus. Afinal, o treinador pedira entrega total, pois 'o descanso só faz é
mal'. Os encarnados carimbaram o acesso à próxima fase da prova com uma goleada
(5-1) frente a um adversário que resistiu 24’, mas depois cedeu pouco a pouco,
não se conseguindo opor à melhor organização e qualidade dos jogadores
benfiquistas. A equipa da II
Liga também teve, contudo, o seu prémio na parte final do jogo pondo a bola
no fundo das redes de Júlio César, um espectador durante quase todo o desafio”,
escreveu o jornal O Jogo na edição do
dia seguinte.
Os confrontos que se seguiram entre
as duas equipas já aconteceram com o Arouca
na condição de primodivisionário.
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