Pepe marcou o golo da vitória portuguesa em Budapeste |
Cresci a ler sobre os grandes
feitos da Hungria, surpreendido em como a seleção finalista dos Campeonatos do
Mundo de 1938 e 1954 e semifinalista dos Campeonatos da Europa de 1964 e 1972 e
que teve craques como Ferenc Puskás, Sándor Kocsis ou Flórián Albert tinha
desaparecido da órbita das fases finais. Posso até dizer que, à exceção de Miki
Fehér, eram pouquíssimos os jogadores húngaros que eu conhecia.
Ainda não acompanhava futebol
aquando dos jogos entre Portugal e Hungria na qualificação para o Euro 2000,
pelo que os primeiros confrontos de que me recordo entre ambas as seleções
aconteceram no segundo semestre de 2009, nas derradeiras jornadas da fase de
apuramento para o Mundial 2010.
Nessa altura, eu já estava
enjoado de ver os jogos de Portugal nas fases de qualificação. Mas nessa até
havia motivos de interesse, porque o apuramento da equipa das quinas para o
Campeonato do Mundo estava tremido. A três jornadas do fim e só com o primeiro
lugar a dar acesso direto à fase final, a Dinamarca liderava o grupo com 17
pontos. Seguia-se Hungria com 13, Suécia com 12 e Portugal com 10.
À seleção de Carlos Queiroz
faltava o duplo compromisso com a Hungria e uma receção a Malta, mas quem podia
estar muito otimista quando a equipa das quinas tinha sido incapaz de fazer
mais do que empatar com a modesta Albânia em Braga, perder com a Dinamarca em
Alvalade, vencer pela margem mínima em Tirana, empatar em Copenhaga e empatar
os dois compromissos com a Suécia?
Como se não bastasse, a geração
que tinha atingido a final do Euro 2004 e as meias-finais do Mundial 2006
estava a chegar ao fim. Olhemos para os titulares dessas equipas: Ricardo
estava no Betis
mas já não jogava, Miguel era titular no Valencia
mas tinha sido ultrapassado por Bosingwa na seleção nacional, Fernando Meira já
era trintão e tinha perdido espaço para Bruno Alves e Pepe
na seleção, Ricardo Carvalho e Deco já eram trintões e não eram titulares
indiscutíveis no Chelsea,
Costinha estava na Atalanta
mas já não jogava, Maniche estava no Colónia mas já não entrava nas contas da
seleção e Jorge Andrade, Nuno Valente, Figo e Pauleta estavam já retirados. Cristiano
Ronaldo era o melhor do mundo, mas na seleção vivia uma seca de golos.
E os sucessores pareciam não ter
a mesma qualidade, com Queiroz a aproveitar o surgimento de Eduardo no Sp.
Braga e de um Raul Meireles ainda a atuar no FC
Porto e a naturalização de um já trintão Liedson e a chamar pela primeira
vez jogadores que tinham sido ignorados por Scolari, como Duda e Danny. Para se
ter a noção, nesta fase eram convocados Beto
e Nuno Gomes, que nem era titulares no FC
Porto e no Benfica.
A Hungria não tinha grandes nomes
no panorama mundial, mas perante este contexto, os médios Zoltán Gera (Fulham),
Krisztián Vadócz (Osasuna) e Pál Dárdai (Hertha Berlim) e o extremo Balázs Dzsudzsák
(PSV)
chegavam para meter medo.
Em Budapeste, a 09.09.09, Pepe
marcou o único golo do encontro aos… 9 minutos. Na resposta um livre da
esquerda marcado por Deco, Pepe
antecipou-se a toda a gente na zona do primeiro poste e cabeceou para o fundo
das redes.
“A chamada de jogadores
naturalizados tem fomentado enorme discussão ao longo dos tempos, mas é com a
contribuição de jogadores como Pepe,
Deco e Liedson que Portugal continua a alimentar o sonho de estar no Mundial
2010. Foram quatro pontos conseguidos nos últimos dois jogos fora. Na
Dinamarca, apareceu o Levezinho a marcar o golo do empate, quando a derrota
parecia iminente; ontem surgiram mais dois salvadores, Deco a marcar o livre, Pepe
a cabecear vitoriosamente. Agora restam mais dois jogos para ganhar, ambos em
casa, contra Hungria e Malta, e esperar que a Suécia não vença na Dinamarca. A
Seleção Nacional continua a depender de terceiros, é certo, mas a equipa
acredita. A forma como jogou é demonstrativa disso. Não foi uma exibição tão
conseguida e com tantas oportunidades como na Dinamarca, longe disso, mas houve
espírito de sacrifício na hora de agarrar os três pontos”, escreveu o jornal O Jogo no dia seguinte.
Um mês depois, Portugal iniciou
uma moda que ainda hoje perdura: disputar jogos importantes como visitado no
Estádio da Luz. Praticamente à mesma hora que a equipa das quinas entrava em
campo para defrontar a Hungria, surgiam boas notícias de Copenhaga: a Dinamarca
venceu a Suécia e colocou a seleção de Carlos Queiroz a depender apenas de si
para assegurar o segundo lugar e, consequentemente, uma vaga no playoff.
Perante 50 mil espetadores na
Luz, o herói do jogo foi um jogador que até tinha sido suplente (utilizado) em
Budapeste, Simão Sabrosa. O então extremo do Atlético
Madrid inaugurou o marcador aos 18 minutos, na recarga a um remate de Cristiano
Ronaldo (que logo no início do jogo se lesionou) defendido por Babos, não
tendo festejado depois, talvez em jeito de protesto para com Queiroz.
Na segunda parte, já à entrada
para o último quarto de hora, Liedson fez o 2-0, de cabeça, na resposta a um
cruzamento de Bruno Alves só ao alcance de quem pratica muito futevolei. Babos
ainda defendeu a bola, mas já no interior da baliza.
Poucos minutos depois, Simão
bisou através de um remate de primeira na sequência de um grande cruzamento de
Duda.
“Está conseguido o desígnio
nacional de não depender de terceiros para ser segundo e, com isso, tentar
resolver, numa eliminatória, o que não foi feito numa fase de qualificação
inteira. Tudo soa um pouco estranho, começando por lembrar que Portugal
conseguiu a primeira vitória em casa na fase de apuramento. No dia do tudo ou
nada, a missão foi cumprida. Mal era se o não fosse frente a uma Hungria
fraquinha e depois de saber que a Dinamarca nos dera aquilo que por duas vezes
nos tirara. Cristiano
Ronaldo ressentiu-se da lesão, mas antes de sair, e quando já se percebera
que estava em esforço e que a sua presença em campo já valia pouco mais do que
para assustar o adversário, teve um lance à medida daquilo que dele se pode
esperar e Simão marcou o primeiro. Três golos sem resposta poderiam até ser uma
boa margem se ainda houvesse contas de goal
average para fazer; assim corresponderam a dois suspiros e um festejo
merecido, porque Simão foi o melhor em campo e o seu segundo pontapé certeiro
uma excelente execução. Acabou com veleidades, exorcizou os pecados e mascarou
uma exibição pobre e tensa, ainda que marcada pelo querer, pelo nervosismo do
tem de ser, por uma série enorme de erros individuais”, resumiu o jornal O Jogo.
E para o caro leitor, qual é o primeiro jogo entre Portugal e Hungria de que tem memória? E quais foram as melhores e mais marcantes jogos de sempre entre as duas seleções?
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