terça-feira, 15 de junho de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Portugal e Hungria

Pepe marcou o golo da vitória portuguesa em Budapeste
Cresci a ler sobre os grandes feitos da Hungria, surpreendido em como a seleção finalista dos Campeonatos do Mundo de 1938 e 1954 e semifinalista dos Campeonatos da Europa de 1964 e 1972 e que teve craques como Ferenc Puskás, Sándor Kocsis ou Flórián Albert tinha desaparecido da órbita das fases finais. Posso até dizer que, à exceção de Miki Fehér, eram pouquíssimos os jogadores húngaros que eu conhecia.
 
Ainda não acompanhava futebol aquando dos jogos entre Portugal e Hungria na qualificação para o Euro 2000, pelo que os primeiros confrontos de que me recordo entre ambas as seleções aconteceram no segundo semestre de 2009, nas derradeiras jornadas da fase de apuramento para o Mundial 2010.
 
Nessa altura, eu já estava enjoado de ver os jogos de Portugal nas fases de qualificação. Mas nessa até havia motivos de interesse, porque o apuramento da equipa das quinas para o Campeonato do Mundo estava tremido. A três jornadas do fim e só com o primeiro lugar a dar acesso direto à fase final, a Dinamarca liderava o grupo com 17 pontos. Seguia-se Hungria com 13, Suécia com 12 e Portugal com 10.
 
À seleção de Carlos Queiroz faltava o duplo compromisso com a Hungria e uma receção a Malta, mas quem podia estar muito otimista quando a equipa das quinas tinha sido incapaz de fazer mais do que empatar com a modesta Albânia em Braga, perder com a Dinamarca em Alvalade, vencer pela margem mínima em Tirana, empatar em Copenhaga e empatar os dois compromissos com a Suécia?
 
Como se não bastasse, a geração que tinha atingido a final do Euro 2004 e as meias-finais do Mundial 2006 estava a chegar ao fim. Olhemos para os titulares dessas equipas: Ricardo estava no Betis mas já não jogava, Miguel era titular no Valencia mas tinha sido ultrapassado por Bosingwa na seleção nacional, Fernando Meira já era trintão e tinha perdido espaço para Bruno Alves e Pepe na seleção, Ricardo Carvalho e Deco já eram trintões e não eram titulares indiscutíveis no Chelsea, Costinha estava na Atalanta mas já não jogava, Maniche estava no Colónia mas já não entrava nas contas da seleção e Jorge Andrade, Nuno Valente, Figo e Pauleta estavam já retirados. Cristiano Ronaldo era o melhor do mundo, mas na seleção vivia uma seca de golos.
 
E os sucessores pareciam não ter a mesma qualidade, com Queiroz a aproveitar o surgimento de Eduardo no Sp. Braga e de um Raul Meireles ainda a atuar no FC Porto e a naturalização de um já trintão Liedson e a chamar pela primeira vez jogadores que tinham sido ignorados por Scolari, como Duda e Danny. Para se ter a noção, nesta fase eram convocados Beto e Nuno Gomes, que nem era titulares no FC Porto e no Benfica.
 
A Hungria não tinha grandes nomes no panorama mundial, mas perante este contexto, os médios Zoltán Gera (Fulham), Krisztián Vadócz (Osasuna) e Pál Dárdai (Hertha Berlim) e o extremo Balázs Dzsudzsák (PSV) chegavam para meter medo.



 
Em Budapeste, a 09.09.09, Pepe marcou o único golo do encontro aos… 9 minutos. Na resposta um livre da esquerda marcado por Deco, Pepe antecipou-se a toda a gente na zona do primeiro poste e cabeceou para o fundo das redes.
 
“A chamada de jogadores naturalizados tem fomentado enorme discussão ao longo dos tempos, mas é com a contribuição de jogadores como Pepe, Deco e Liedson que Portugal continua a alimentar o sonho de estar no Mundial 2010. Foram quatro pontos conseguidos nos últimos dois jogos fora. Na Dinamarca, apareceu o Levezinho a marcar o golo do empate, quando a derrota parecia iminente; ontem surgiram mais dois salvadores, Deco a marcar o livre, Pepe a cabecear vitoriosamente. Agora restam mais dois jogos para ganhar, ambos em casa, contra Hungria e Malta, e esperar que a Suécia não vença na Dinamarca. A Seleção Nacional continua a depender de terceiros, é certo, mas a equipa acredita. A forma como jogou é demonstrativa disso. Não foi uma exibição tão conseguida e com tantas oportunidades como na Dinamarca, longe disso, mas houve espírito de sacrifício na hora de agarrar os três pontos”, escreveu o jornal O Jogo no dia seguinte.
 
 
Um mês depois, Portugal iniciou uma moda que ainda hoje perdura: disputar jogos importantes como visitado no Estádio da Luz. Praticamente à mesma hora que a equipa das quinas entrava em campo para defrontar a Hungria, surgiam boas notícias de Copenhaga: a Dinamarca venceu a Suécia e colocou a seleção de Carlos Queiroz a depender apenas de si para assegurar o segundo lugar e, consequentemente, uma vaga no playoff.
 
Perante 50 mil espetadores na Luz, o herói do jogo foi um jogador que até tinha sido suplente (utilizado) em Budapeste, Simão Sabrosa. O então extremo do Atlético Madrid inaugurou o marcador aos 18 minutos, na recarga a um remate de Cristiano Ronaldo (que logo no início do jogo se lesionou) defendido por Babos, não tendo festejado depois, talvez em jeito de protesto para com Queiroz.
 
Na segunda parte, já à entrada para o último quarto de hora, Liedson fez o 2-0, de cabeça, na resposta a um cruzamento de Bruno Alves só ao alcance de quem pratica muito futevolei. Babos ainda defendeu a bola, mas já no interior da baliza.
 
Poucos minutos depois, Simão bisou através de um remate de primeira na sequência de um grande cruzamento de Duda.
 
“Está conseguido o desígnio nacional de não depender de terceiros para ser segundo e, com isso, tentar resolver, numa eliminatória, o que não foi feito numa fase de qualificação inteira. Tudo soa um pouco estranho, começando por lembrar que Portugal conseguiu a primeira vitória em casa na fase de apuramento. No dia do tudo ou nada, a missão foi cumprida. Mal era se o não fosse frente a uma Hungria fraquinha e depois de saber que a Dinamarca nos dera aquilo que por duas vezes nos tirara. Cristiano Ronaldo ressentiu-se da lesão, mas antes de sair, e quando já se percebera que estava em esforço e que a sua presença em campo já valia pouco mais do que para assustar o adversário, teve um lance à medida daquilo que dele se pode esperar e Simão marcou o primeiro. Três golos sem resposta poderiam até ser uma boa margem se ainda houvesse contas de goal average para fazer; assim corresponderam a dois suspiros e um festejo merecido, porque Simão foi o melhor em campo e o seu segundo pontapé certeiro uma excelente execução. Acabou com veleidades, exorcizou os pecados e mascarou uma exibição pobre e tensa, ainda que marcada pelo querer, pelo nervosismo do tem de ser, por uma série enorme de erros individuais”, resumiu o jornal O Jogo.
 
 
 
 

  









E para o caro leitor, qual é o primeiro jogo entre Portugal e Hungria de que tem memória? E quais foram as melhores e mais marcantes jogos de sempre entre as duas seleções?

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