A minha primeira memória de um confronto
entre Real Madrid e Getafe é relativa a um jogo que tinha tudo para passar
discreto nos anais da história. À entrada para esse jogo de 21 de abril de
2009, os merengues estavam a seis
pontos do líder Barcelona,
quando faltavam apenas sete jornadas para o fim da edição de 2008-09 da I
Liga espanhola. Já o Getafe estava quatro pontos acima da zona de
despromoção, ocupada por Recreativo Huelva, Espanyol e Numancia.
Num encontro bem disputado, o Getafe
adiantou-se no marcador aos 10 minutos, por Roberto Soldado, avançado formado precisamente
no Real Madrid.
Mas a jogar em casa, os
madridistas, então orientados por Juande Ramos, empataram à beira do intervalo,
por intermédio do avançado argentino Gonzalo Higuaín.
À entrada para os últimos dez
minutos, o extremo uruguaio Juan Ángel Albín voltou a dar vantagem aos
visitantes (83’), mas Guti empatou logo a seguir (86’).
Se a reta final estava a ser
frenética, mas ainda ficou ao minuto 87, quando o impensável aconteceu. Numa
jogada de ataque do Getafe já na área do Real Madrid, Pepe
derrubou o médio Javier Casquero e foi expulso. Frustrado, o internacional
português pontapeou duas vezes o adversário, uma na canela e outra na parte
inferior das costas, puxou-lhe o cabeça e pisoteou-o. E quando já estava a ser travado
por companheiros de equipa, atingiu Albín a soco. E a caminho dos balneários,
ainda foi veemente nos protestos para com um dos árbitros assistentes.
Como resultado desta atitude, Pepe
levou dez jogos de castigo, falhando o que restava jogar dessa época e o início
da temporada seguinte.
Não assisti ao encontro, mas lembro-me
de se falar muito do ocorrido nos dias que se seguiram. E por muito que se
tivesse tornado um jogador mais leal e limpo, a carreira de Pepe
ficou marcada por este acontecimento. “Fiquei extremamente marcado pelo que se
passou frente ao Getafe. Mas eu não vou mudar a minha forma de jogar, a verdade
é que ali tentei encontrar uma explicação, mas não encontro, mas faz parte do
passado”, recordou Pepe
em 2017.
Em 2019, quando passaram dez anos
do incidente, Casquero revelou que o assunto estava esquecido, mas que ainda
não lhe tinha chegado o… pedido de desculpas. “Por mim, está esquecido. Cada um
faz o que quer com a sua vida. A mim, se me tivesse dito em privado 'olha,
desculpa, perdi a cabeça', já estava. Posso entender que no terreno de jogo,
num momento de frustração, alguém perca as estribeiras e pontapeie tudo o que
encontra. Mas depois as pulsações baixam e somos pessoas, companheiros,
desculpamo-nos e já está. É uma ação feia e má de um profissional contra um
companheiro de profissão. O que nunca compreendi é que tenha querido pedir-me
desculpa apenas através de um meio de comunicação. Parecia que precisava que
todos soubessem... Até porque eu me ia encarregar de dizer publicamente que me
tinha pedido desculpa. Não tinha de chegar a esse circo, bastava algo tão
normal como um pedido de desculpas entre duas pessoas”, comentou.
Relativamente ao jogo, o Real
Madrid ainda conseguiu chegar à vitória, com um golo de Higuaín aos 90 minutos
a valer o triunfo.
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