Primeiro Pedro Duarte, depois
Vasco Costa. A equipa de sub-23 do Estoril
Praia conheceu dois treinadores ao longo da época, cada um com as suas nuances,
mas nunca abdicou de um modelo de jogo que estimulasse a componente técnica e a
tomada de decisão de cada jogador, sempre com um futebol apoiado desde trás,
com progressão no terreno pautada pelo passe curto.
Se num contexto de alta
competição é discutível se esse é o melhor estilo a implementar, por força das
características técnicas, físicas, táticas e psicológicas dos atletas, num
contexto (ainda) formativo e sem o risco de uma descida de divisão não haja
dúvidas que é fundamental exercitar a relação com bola de cada futebolista em
competição.
O Estoril
Praia não só o faz, como o faz bem. Independentemente dos resultados,
porque muitos fatores os influenciam, tem mostrado que é uma das equipas com
ideias mais definidas e bem trabalhadas da Liga Revelação. A construção curta,
a paciência com bola enquanto se procura espaços para progredir no terreno
mesmo em zonas de algum risco, a projeção dos laterais, a envolvência do ponta
de lança na criação dos ataques e a reação rápida à perda da bola são alguns
dos princípios do futebol dos sub-23 estorilistas.
Nesta conjuntura coletiva, também
têm aparecido individualidades que, a breve prazo, poderão surgir de forma
afirmativa na equipa principal. Dos vários nomes que poderia elencar, destaco
aqui quatro que poderão ter um papel importante ainda nesta época ou aparecer
em grande estilo na próxima pré-temporada.
Toti Gomes |
Comecemos pelo setor defensivo,
onde tem emergido Toti Gomes. Depois de ter terminado a época passada ao
serviço da equipa principal, sofreu uma grave lesão na pré-temporada e só voltou
aos relvados em fevereiro, na Liga Revelação. Apesar dos muitos meses sem
competição, mostrou-se imperial nos quatro jogos que disputou, todos relativos
à fase de apuramento de campeão.
Central possante (1,87) e canhoto,
que também pode atuar no lado esquerdo da defesa, tem primado pela capacidade
para sair a jogar, chegando a aparecer várias vezes no meio-campo ofensivo com
a bola dominada. Os ataques dos estorilistas
começam frequentemente pelos seus pés, capazes de lançar companheiros em
velocidade nas costas da defesa adversária através de passes longos.
Defensivamente mostra acerto
tático, qualidade no jogo aéreo – que também fez valer em termos ofensivos no
jogo com o Benfica, o último antes da pausa devido à covid-19 – e capacidade
para proteger bem a profundidade através da velocidade e de uma boa colocação
dos apoios e utiliza o corpo para ganhar os duelos aos avançados da equipa
contrária.
Está no clube há três anos,
quando integrou os juniores, e recentemente renovou contrato até 30 de junho de
2022. Completou 21 anos em janeiro.
Pedro Albino |
Ainda na linha defensiva, outro
dos nomes a ter em conta é o do lateral direito e capitão Pedro Albino. No
clube desde a temporada passada, tem já experiência de II Liga e Campeonato de
Portugal ao serviço do Olhanense, o clube onde fez praticamente toda a
formação.
Jogador baixo (1,70) mas
entroncado, está constantemente projetado no corredor direito, mostrando ter
pulmão para os constantes vaivéns entre áreas. Se em termos ofensivos exibe cruzamentos
muito satisfatórios, critério com bola e capacidade de oferecer um apoio
exterior aos médios e atacantes, defensivamente recupera bem a posição, ganha
boa parte dos duelos e suja os calções para garantir a posse de bola.
Em época e meia na Linha
de Cascais ainda não foi convocado uma única vez para um jogo da equipa
principal, mas não deverá faltar muito.
Klismahn |
Mais à frente no terreno atua o
médio brasileiro Klismahn, um canhoto que, com a entrada de Vasco Costa
no comando técnico, tem vindo a ganhar influência na primeira fase de
construção dos estorilistas.
O ex-treinador dos juniores introduziu uma nuance no 4x3x3 da equipa, invertendo
o triângulo do meio-campo e passando a jogar com um duplo pivot atrás de um
medio ofensivo, enquanto Pedro Duarte jogava com um médio defensivo e dois
interiores. Com a nova fórmula, o antigo
centrocampista do Desportivo Brasil tem jogado uns metros mais recuado e recua
até entre os centrais, que abrem, para iniciar a construção e começar a pensar
os ataques dos canarinhos. É a partir dessa zona mais recuada do terreno que
vai mostrando capacidade a curta e longa distância, afirmando-se como uma
unidade importante para ajudar a equipa a progredir no terreno com segurança e
critério.
Embora jogue perto dos defesas,
não é propriamente um médio de características defensivas e por isso também
pode envolver-se na manobra ofensiva da equipa já no último terço.
Aos 20 anos, está na segunda
época ao serviço dos sub-23 do Estoril
Praia, mas vai ganhando cada vez mais espaço. Depois de 28 jogos na
temporada passada, dos quais apenas 14 como titular, em 2019-20 levava 26
partidas (18 a titular) até à paragem devido ao novo coronavírus.
João Oliveira |
Do meio-campo saltamos
diretamente para o eixo do ataque, para um avançado que tem os golos no sangue,
João Oliveira. Neto de Fernando
Oliveira, figura da CUF nas décadas de 1960 e 1970 e antigo presidente do
Vitória de Setúbal, está no Estoril
Praia pela segunda temporada e tem vindo a afirmar-se em zona de
finalização, mostrando ser dotado do killer
instinct.
É alto (1,90 m), forte no jogo
aéreo, frio na cara do guarda-redes e está entre os cinco melhores marcadores
da Liga Revelação, com 13 golos, mas o seu trabalho não se esgota na área
adversária.
Também descai nos flancos e recua
uns metros para, de costas para a baliza, dar um apoio frontal aos
companheiros, funcionando como um pivô que proporciona triangulações a um ou
dois toques antes de aparecer desmarcado em zona de finalização. Por ser forte
fisicamente e saber colocar o corpo, é um porto seguro para onde enviar a bola.
No final de dezembro estreou-se
pela equipa principal ao ser lançado por Tiago Fernandes nos últimos minutos de
um jogo em Penafiel,
mas, aos 21 anos, vai mostrando futebol para mais oportunidades.
Ainda assim, é impossível encerrar este texto sem fazer menções honrosas ao guarda-redes Thiago, que mostrou muito bons atributos no pouco que deu para ver dele; ao central Bernardo Vital, muito assertivo, sereno com bola e forte no jogo aéreo embora não seja propriamente muito alto; ao lateral esquerdo Pedro Empis, que envolve-se bem na manobra ofensiva e tem o selo da formação do Sporting; ao médio centro Afonso Valente, ainda júnior, que já revela bom andamento para um escalão acima do seu; e aos médios ofensivos João Cardoso e André Franco, dotados de visão de jogo e qualidade técnica.
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