Hao Gao foi quatro vezes titular e sempre substituído na primeira parte |
Já ultrapassou o ponto em que
podemos apelidar a situação de coincidência. Em oito jogos do Campeonato de
Portugal desde 27 de outubro, o Sintrense efetuou nove substituições até ao
apito inicial da segunda parte e sete delas foram de jogadores chineses,
aparentemente retirados de campo após cumprirem os 'mínimos olímpicos'.
Neste período, que por acaso até
tem coincidido com a fase de maior fulgor da equipa de Tiago Zorro, que
atravessa uma série de seis vitórias consecutivas, o recorde de presença de um
jogador chinês da formação de Sintra no interior das quatro linhas foi obtido
na 8.ª jornada, quando Mingao
Ma aguentou toda a primeira parte do empate a dois golos no terreno do
Mineiro Aljustrelense. Nas duas rondas seguintes, o mesmo jogador foi substituído
aos 30 minutos na receção ao Alverca (1-2) e 25’ na visita ao Sintra Football
(1-0).
E quando Mingao Ma saiu da equipa
para não mais voltar, entrou prontamente em cena Hao
Gao, outro avançado e cujo recorde de permanência em campo é de 31 minutos,
na visita ao Fabril (3-1), tendo até aproveitado a meia horinha a que teve
direito para marcar um golo. Nos outros três jogos que disputou, curiosamente
todos em casa, saiu aos 20’ (!) diante do Lusitano Évora (1-0) e aos 28’ frente
a Sacavenense (3-1) e 1º Dezembro (1-0), todos entre a 11.ª e 15.ª jornada. E já
deu para perceber que pouco importa se o Sintrense está a ganhar, perder ou
empatar: é para tirar o jogador chinês de campo por volta da meia hora e pronto!
Já
aqui falei do que se passa na equipa principal do Cova da Piedade e este é
mais um caso de um projeto que passa pela valorização de jogadores chineses com
o objetivo de os transferir para o superinflacionado mercado chinês.
Se tivermos em conta que cada
clube da Superliga Chinesa apenas pode ter quatro estrangeiros no plantel e
apenas três em campo em simultâneo e que há escassez de futebolistas daquele
país com experiência em ligas profissionais da Europa, o modelo de negócio
parece bem delineado e exequível, o que permitiria um encaixe que para a SAD do
Sintrense cairia que nem um Euromilhões.
O problema é a deturpação da
competição e a perversidade a que chegou a cada vez maior sobreposição do
futebol-negócio ao mérito desportivo, até num patamar não profissional. Ainda há espaço para o futebol que aprendi
a amar?
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