Suk foi sempre o mais perigoso dos jogadores sadinos |
Liga | Vitória 2-4 Benfica
Neste tipo de jogos em que as
armas são desiguais, não basta que a equipa mais fraca mostre atrevimento e
grande determinação. É necessário também que a mais forte esteja num dia menos
bom para que a mais fraca possa alcançar um resultado positivo. E o Vitória, no
Bonfim, já espera por um dia menos bom do Benfica há pelo menos cinco anos,
quando conseguiu empatar pela última vez as águias. E digo pelo menos cinco
anos porque o último triunfo para o campeonato remonta a 1999.
Essa espera, que caminha para a
maioridade, vai continuar, porque os encarnados, mesmo sem o lesionado Gaitán e
as individualidades que tiveram nos últimos anos, continuam a formar um
coletivo muito forte. Um coletivo que não deve ser, em momento algum, retirado
da equação da luta pelo título nacional. Este Benfica de Rui Vitória deixou
muito boas indicações no Bonfim: muita segurança, circulação de bola fluída,
aproveitamento do jogo interior e exterior e grande capacidade e organização
para recuperar a bola ainda no meio-campo ofensivo. Resumindo: não teve um dia
menos bom, mas sim um dia muito bom.
Quando assim é, impera a lei do
mais forte. Do mais forte fisicamente, do mais capaz em acompanhar um ritmo
elevado, do mais veloz, do mais habilidoso, etc. Foi isso que, no fundo,
aconteceu. Não se pode acusar os jogadores vitorianos de falta de entrega ou de
conformismo. É verdade que houve algumas unidades desinspiradas e que há
aspetos a corrigir, mas o sentimento geral deverá ser o de quem faz o que pode, a mais não é obrigado. O Vitória pressionou,
tentou discutir o resultado, mas não lutou com armas de valor idêntico.
Essa toada foi percetível desde
bem cedo, com o primeiro golo do Benfica a fazer-se desde logo adivinhar.
Apareceu aos 35 minutos. E aos 39’ assistiu-se ao 0-2. Só no segundo tempo,
quando as águias baixaram o ritmo, acusando talvez algum cansaço acumulado por
terem jogado a meio da semana frente ao Atlético Madrid, os setubalenses
conseguiram dividir o encontro e aparecer mais vezes no ataque. Os dois golos
que marcaram atenuaram a desilusão dos seus adeptos, até porque a última imagem
é a que fica e há um jogo importante já na terça-feira, frente ao Rio Ave –
oitavos de final da Taça de Portugal.
Ficha de jogo
I Liga – 13.ª jornada
Estádio do Bonfim, em Setúbal (9.323 espectadores)
Vitória (4x1x3x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Rúben Semedo e
Nuno Pinto; Fábio Pacheco; Arnold (Costinha, 69), André Horta (Dani, 85) e Ruca
(Vasco Costa, int.); Suk e André Claro
Suplentes não utilizados: Miguel
Lázaro (GR), Gorupec, François e Paulo Tavares
Treinador: Quim Machado
Disciplina: Cartão amarelo
a Nuno Pinto (44)
Benfica (4x4x2): Júlio César; André Almeida, Lisandro López, Jardel
c e Eliseu; Pizzi, Renato Sanches (Fejsa, 80), Samaris e
Gonçalo Guedes; Jonas (Djuricic, 70) e Mitroglou (Jiménez, 85)
Suplentes não utilizados: Ederson
(GR), Sílvio, Talisca e Carcela
Treinador: Rui Vitória
Disciplina: Cartão amarelo
a Lisandro López (32), Eliseu (60), André Almeida (65) e Samaris (90+3)
Árbitro: Manuel Mota (AF Braga), assistido por Paulo Vieira e Pedro
Fernandes e com André Moreira como 4.º árbitro
Golos
0-1, por Pizzi (35). André
Almeida pica a bola para Pizzi nas costas de Nuno Pinto e o médio do Benfica
tira Fábio Pacheco do caminho e vê o seu remate não ser segurado por Ricardo e
entrar na baliza do Vitória.
0-2, por Jonas (39). Cruzamento
de André Almeida e Jonas, completamente à vontade, cabeceia na pequena área
para o fundo das redes. Frederico Venâncio não saltou e Ricardo não saiu de
entre os postes.
0-3, por Mitroglou (54). Jonas
desmarcou Mitroglou para as costas de Frederico Venâncio e o grego, com tempo para
tudo, finalizou com classe, de pé esquerdo.
1-3, por Vasco Costa (59).
Suk, desmarcado pela direita, troca as voltas a Jardel, remate de pé esquerdo
para defesa de Júlio César para o poste. Vasco Costa aproveitou as sobras para
fazer golo à boca da baliza.
1-4, por Ricardo (79 p.b.).
Djuricic conduz um lance de contra-ataque e serve Gonçalo Guedes, que remata
para interceção de Costinha. Contudo, o esférico vai direito a Mitroglou que
remata ao poste, mas com a bola a embater ainda em Ricardo, novamente no poste
e a entrar.
2-4, por Suk (88). Na
ressaca de um pontapé de canto, Vasco Costa remata à entrada da área e Suk
desvia a bola para o fundo das redes.
Estatísticas (Vitória-Benfica)
Posse de bola (%): 42-58
Remates: 8-14
Remates perigosos: 6-6
Remates perigosos: 6-6
Cantos: 12-4
Faltas cometidas: 17-10
Foras de jogo: 2-2
Apreciação individual
Ricardo: Até começou bem,
com boas intervenções a remate Jonas (7’) e a cabeceamento de Lisandro López
(21’), mas acabou por ser um dos réus. Deu um autêntico frango no golo de Pizzi
(35’), não saiu de entre os postes no de Jonas (39’) e como se não bastasse,
ainda teve a infelicidade de marcar na própria baliza o quarto tento do Benfica
(79’). Melhores dias virão.
William Alves: Não teve um
jogo fácil, tanto do ponto de vista defensivo como ofensivo, mas pode olhar com
satisfação para o facto de não ter estado propriamente ligado a nenhum dos
golos encarnados.
Venâncio e Semedo tiveram uma noite desinspirada |
Frederico Venâncio: Exibição
irreconhecível do capitão. Deixou Jonas cabecear sozinho no lance do 0-2 (35’)
e deixou fugir Mitroglou nas suas costas na jogada do terceiro golo do Benfica
(54’). Acusou os nervos logo após o primeiro erro e aos 48 minutos praticamente
entregou o ouro ao bandido Jonas, deixando-lhe a bola redondinha quando era o
penúltimo homem – valeu a desinspiração do brasileiro, que não conseguiu bater
Ricardo. Tentou limpar a imagem com um belo remate à entrada da área para
defesa de Júlio César (77’).
Rúben Semedo: Contra o FC
Porto tinha apontado uma das melhores exibições da época, utilizando a
adrenalina de um jogo dessa natureza para se manter concentrado. Contudo, desta
feita a combinação dos mesmos ingredientes não resultou. Teve alguns cortes difíceis
e importantes, é verdade, mas também acumulou várias desconcentrações imperdoáveis.
Nuno Pinto: Os dois
primeiros golos do Benfica nasceram do seu lado. Os seus cantos e livres não
chegavam sequer ao primeiro poste. Esteve bastante desinspirado. Viu cartão
amarelo aos 44 minutos por falta sobre Renato Sanches junto à linha lateral.
Fábio Pacheco: Forte na
abordagem às primeiras e segundas bolas, foi tratando da limpeza a meio-campo.
Lutou imenso e foi mesmo dos melhores do Vitória. Não merecia ter sido
gato-sapato de Pizzi no lance do 0-1 (35’). O seu cansaço na parte final do
encontro foi visível das bancadas.
Arnold: Procurou
desequilibrar ora em velocidade ora em drible curto, algumas vezes até o
conseguiu fazer, mas na esmagadora maioria teve de se contentar em ganhar
cantos. Ainda assim, esgrimiu argumentos com Eliseu.
André Horta: Tal como no
encontro diante do Belenenses, andou aos papéis um pouco no início do jogo,
nunca estando no sítio certo para funcionar como tampão à boa circulação de
bolas dos encarnados. Na primeira parte, raramente conseguiu utilizar a sua técnica
individual ao serviço do coletivo. Melhorou no segundo tempo, tanto
defensivamente como ofensivamente. Esteve perto do 2-3, mas não acertou bem na
bola e o seu remate foi para as nuvens (71’).
Ruca: Uma das missões que
tinha era a de acompanhar as subidas de André Almeida. O forte do lateral do
Benfica nem é a profundidade nem a capacidade ofensiva, mas nesta partida fez
duas assistências e Ruca é culpado. Vem do CNS e mostrou-se surpreendido pelo
ritmo das águias. Ofensivamente não esteve mal, entrou bem em combinações, mas
com naturalidade foi sacrificado ao intervalo.
Suk: A grande arma
ofensiva do Vitória: deu profundidade, foi para cima dos defesas no um contra
um, discutiu inúmeros lances no futebol aéreo e foi quase sempre o primeiro
homem a exercer pressão sobre os defesas do Benfica. Fez um jogo muito completo
e bem mereceu o golo que marcou, já na reta final da partida (88’), ao desviar
um remate de Vasco Costa. Já tinha estado perto de marcar aos 26 minutos, mas o
seu disparo de pé esquerdo foi desviado.
Entrada de Vasco Costa fez melhorar a equipa |
André Claro: Nunca foi tão
protagonista como Suk na frente de ataque. Melhorou no segundo tempo, quando
passou para o corredor esquerdo, ainda quem esteja a mostrar estar a perder
algum gás, relativamente ao que foram as suas exibições no início de temporada.
Vasco Costa: Entrou muitíssimo
bem no jogo, mexeu com a dinâmica ofensiva da equipa, ainda deu alguma
esperança ao reduzir para 1-3 (59’) e foi da sua autoria o remate que Suk
desviou para o 2-4 (88’). Já tinha mostrado bons atributos frente ao União e
agora apresenta-se como sério candidato ao onze já na terça-feira, frente ao
Rio Ave, para a Taça de Portugal.
Costinha: É outro elemento
que está a perder algum gás, embora não tenha estado mal, tendo em conta até o
grau de dificuldade. Adiou o 1-4 ao intercetar in extremis o remate de Gonçalo Guedes (79’).
Dani: Refrescou o miolo
nos últimos minutos, quando o assunto já estava mais do que resolvido.
Outras notas
Nuno Pinto foi substituído nos
últimos minutos do encontro diante do Belenenses, devido a cansaço muscular.
André Claro está na mira dos
italianos do Empoli, Cagliari e Torino, dos espanhóis do Bétis e dos franceses
do Bordéus e Metz.
Depois do bis ao Belenenses, Suk
está cada vez mais valorizando, mas os dirigentes da SAD do Vitória não aceitam
vender o seu passe por menos de €3 milhões.
Nuno Pinto, que já jogou na
Roménia ao serviço do Astra Giurgiu, interessa ao campeão romeno Steaua
Bucareste. Os dirigentes sadinos só aceitarão negocia-lo por 400 mil euros.
O Vitória treinou-se na quarta e
quinta-feira em Vendas Novas, para poupar o relvado do Bonfim.
Com naturalidade, a receção ao
Benfica resultou na maior enchente do Bonfim na presente temporada (9.323
espetadores), superando os 3.597 que estiveram na partida diante do União, duassemanas antes.
O grande craque do Benfica, Nico
Gaitán, falhou o encontro devido a uma lesão no joelho esquerdo. Também de fora
do lado encarnado ficaram Luisão, Nélson Semedo e Salvio, todos lesionados.
Os atletas vitorianos Frederico
Venâncio e André Horta passaram pela formação do Benfica.
Os italianos do Génova, Fiorentina e Novara estiveram no Bonfim em missão de espionagem.
Números
Frederico Venâncio mantém-se como
o único totalista da equipa na Liga: 1170 minutos. À entrada para a mesma
jornada, apenas mais 20 jogadores tinham esse estatuto.
O Vitória não perdia em casa, em
jogos oficiais, desde 3 de maio (0-2 diante do FC Porto). Até à derrotado diante do Benfica, duas
vitórias e cinco empates.
No confronto entre sadinos e
águias no Bonfim, para a Liga, a vantagem é dos visitantes: 39 triunfos, 15
empates e 14 derrotas (68 jogos). Os setubalenses não vencem o Benfica para o
campeonato 10 de maio de 1999 (1-0, golo de Toñito). Desde então, somam três
empates e 12 desaires.
Na temporada transata, o Vitória
só atingiu os 18 pontos à 19.ª jornada e só chegou aos 23 golos marcados à 33.ª.
Os sadinos já não somavam 18 ou
mais pontos à 13.ª jornada desde 2007/08 (22), não saíam dessa ronda com 20 ou
menos golos sofridos desde 2011/12 (19) e não tinham tantos golos (23 ou mais)
marcados à 13.ª jornada desde 1976/77 (28).
Com oito golos e quatro
assistências, Suk participou diretamente em 12 dos 23 golos do Vitória na Liga.
Ao faturar ao Benfica, o Vitória
já soma mais golos marcados (23) do que em 2006/07 e 2008/09 (21 em ambos, em 30
jornadas).
Os sadinos já não marcavam dois
golos às águias no mesmo encontro desde 1 de dezembro de 2008 (2-2 na Luz).
Vasco Costa estreou-se a marcar
na Liga.
Outras análises
Vitória – Boavista (1.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/das-boas-transicoes-ao-amargo-empate.html
Académica - Vitória (2.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/o-aleatorio-deu-o-mote-para-goleada.html
Vitória – Rio Ave (3.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/tornou-se-frustrante-o-empate-que-antes.html
Vitória – V. Guimarães (5.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/09/em-duelo-de-vitorias-so-o-de-setubal.html
Vitória – Estoril (7.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/10/a-quarta-tentativa-bonfim-viu-vitoria.html
FC Porto – Vitória (10.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/11/resistencia-sadina-no-dragao-durou-70.html
Vitória – União (11.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/11/o-impensavel-pontinho-foi-festejado-no.html
Belenenses – Vitória (12.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/12/pressao-do-vitoria-deixou-belenenses-de.html
Artigos de opinião
O Pirlo do Bonfim: http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/09/o-pirlo-do-bonfim.html
Concentra-te, Rúben!: http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/11/concentra-te-ruben.html
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