domingo, 13 de dezembro de 2015

Continua a espera por um dia menos bom do Benfica

Suk foi sempre o mais perigoso dos jogadores sadinos

Liga | Vitória 2-4 Benfica


Neste tipo de jogos em que as armas são desiguais, não basta que a equipa mais fraca mostre atrevimento e grande determinação. É necessário também que a mais forte esteja num dia menos bom para que a mais fraca possa alcançar um resultado positivo. E o Vitória, no Bonfim, já espera por um dia menos bom do Benfica há pelo menos cinco anos, quando conseguiu empatar pela última vez as águias. E digo pelo menos cinco anos porque o último triunfo para o campeonato remonta a 1999.


Essa espera, que caminha para a maioridade, vai continuar, porque os encarnados, mesmo sem o lesionado Gaitán e as individualidades que tiveram nos últimos anos, continuam a formar um coletivo muito forte. Um coletivo que não deve ser, em momento algum, retirado da equação da luta pelo título nacional. Este Benfica de Rui Vitória deixou muito boas indicações no Bonfim: muita segurança, circulação de bola fluída, aproveitamento do jogo interior e exterior e grande capacidade e organização para recuperar a bola ainda no meio-campo ofensivo. Resumindo: não teve um dia menos bom, mas sim um dia muito bom.

Quando assim é, impera a lei do mais forte. Do mais forte fisicamente, do mais capaz em acompanhar um ritmo elevado, do mais veloz, do mais habilidoso, etc. Foi isso que, no fundo, aconteceu. Não se pode acusar os jogadores vitorianos de falta de entrega ou de conformismo. É verdade que houve algumas unidades desinspiradas e que há aspetos a corrigir, mas o sentimento geral deverá ser o de quem faz o que pode, a mais não é obrigado. O Vitória pressionou, tentou discutir o resultado, mas não lutou com armas de valor idêntico.

Essa toada foi percetível desde bem cedo, com o primeiro golo do Benfica a fazer-se desde logo adivinhar. Apareceu aos 35 minutos. E aos 39’ assistiu-se ao 0-2. Só no segundo tempo, quando as águias baixaram o ritmo, acusando talvez algum cansaço acumulado por terem jogado a meio da semana frente ao Atlético Madrid, os setubalenses conseguiram dividir o encontro e aparecer mais vezes no ataque. Os dois golos que marcaram atenuaram a desilusão dos seus adeptos, até porque a última imagem é a que fica e há um jogo importante já na terça-feira, frente ao Rio Ave – oitavos de final da Taça de Portugal.



Ficha de jogo


I Liga – 13.ª jornada

Estádio do Bonfim, em Setúbal (9.323 espectadores)


Vitória (4x1x3x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Rúben Semedo e Nuno Pinto; Fábio Pacheco; Arnold (Costinha, 69), André Horta (Dani, 85) e Ruca (Vasco Costa, int.); Suk e André Claro

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), Gorupec, François e Paulo Tavares

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Nuno Pinto (44)


Benfica (4x4x2): Júlio César; André Almeida, Lisandro López, Jardel c e Eliseu; Pizzi, Renato Sanches (Fejsa, 80), Samaris e Gonçalo Guedes; Jonas (Djuricic, 70) e Mitroglou (Jiménez, 85)

Suplentes não utilizados: Ederson (GR), Sílvio, Talisca e Carcela

Treinador: Rui Vitória

Disciplina: Cartão amarelo a Lisandro López (32), Eliseu (60), André Almeida (65) e Samaris (90+3)


Árbitro: Manuel Mota (AF Braga), assistido por Paulo Vieira e Pedro Fernandes e com André Moreira como 4.º árbitro


Golos


0-1, por Pizzi (35). André Almeida pica a bola para Pizzi nas costas de Nuno Pinto e o médio do Benfica tira Fábio Pacheco do caminho e vê o seu remate não ser segurado por Ricardo e entrar na baliza do Vitória.  

0-2, por Jonas (39). Cruzamento de André Almeida e Jonas, completamente à vontade, cabeceia na pequena área para o fundo das redes. Frederico Venâncio não saltou e Ricardo não saiu de entre os postes.

0-3, por Mitroglou (54). Jonas desmarcou Mitroglou para as costas de Frederico Venâncio e o grego, com tempo para tudo, finalizou com classe, de pé esquerdo.

1-3, por Vasco Costa (59). Suk, desmarcado pela direita, troca as voltas a Jardel, remate de pé esquerdo para defesa de Júlio César para o poste. Vasco Costa aproveitou as sobras para fazer golo à boca da baliza.

1-4, por Ricardo (79 p.b.). Djuricic conduz um lance de contra-ataque e serve Gonçalo Guedes, que remata para interceção de Costinha. Contudo, o esférico vai direito a Mitroglou que remata ao poste, mas com a bola a embater ainda em Ricardo, novamente no poste e a entrar.

2-4, por Suk (88). Na ressaca de um pontapé de canto, Vasco Costa remata à entrada da área e Suk desvia a bola para o fundo das redes.



Estatísticas (Vitória-Benfica)


Posse de bola (%): 42-58

Remates: 8-14

Remates perigosos: 6-6

Cantos: 12-4

Faltas cometidas: 17-10

Foras de jogo: 2-2


Apreciação individual


Ricardo: Até começou bem, com boas intervenções a remate Jonas (7’) e a cabeceamento de Lisandro López (21’), mas acabou por ser um dos réus. Deu um autêntico frango no golo de Pizzi (35’), não saiu de entre os postes no de Jonas (39’) e como se não bastasse, ainda teve a infelicidade de marcar na própria baliza o quarto tento do Benfica (79’). Melhores dias virão.

William Alves: Não teve um jogo fácil, tanto do ponto de vista defensivo como ofensivo, mas pode olhar com satisfação para o facto de não ter estado propriamente ligado a nenhum dos golos encarnados.

Venâncio e Semedo tiveram uma noite desinspirada
Frederico Venâncio: Exibição irreconhecível do capitão. Deixou Jonas cabecear sozinho no lance do 0-2 (35’) e deixou fugir Mitroglou nas suas costas na jogada do terceiro golo do Benfica (54’). Acusou os nervos logo após o primeiro erro e aos 48 minutos praticamente entregou o ouro ao bandido Jonas, deixando-lhe a bola redondinha quando era o penúltimo homem – valeu a desinspiração do brasileiro, que não conseguiu bater Ricardo. Tentou limpar a imagem com um belo remate à entrada da área para defesa de Júlio César (77’).

Rúben Semedo: Contra o FC Porto tinha apontado uma das melhores exibições da época, utilizando a adrenalina de um jogo dessa natureza para se manter concentrado. Contudo, desta feita a combinação dos mesmos ingredientes não resultou. Teve alguns cortes difíceis e importantes, é verdade, mas também acumulou várias desconcentrações imperdoáveis.

Nuno Pinto: Os dois primeiros golos do Benfica nasceram do seu lado. Os seus cantos e livres não chegavam sequer ao primeiro poste. Esteve bastante desinspirado. Viu cartão amarelo aos 44 minutos por falta sobre Renato Sanches junto à linha lateral.

Fábio Pacheco: Forte na abordagem às primeiras e segundas bolas, foi tratando da limpeza a meio-campo. Lutou imenso e foi mesmo dos melhores do Vitória. Não merecia ter sido gato-sapato de Pizzi no lance do 0-1 (35’). O seu cansaço na parte final do encontro foi visível das bancadas.

Arnold: Procurou desequilibrar ora em velocidade ora em drible curto, algumas vezes até o conseguiu fazer, mas na esmagadora maioria teve de se contentar em ganhar cantos. Ainda assim, esgrimiu argumentos com Eliseu.

André Horta: Tal como no encontro diante do Belenenses, andou aos papéis um pouco no início do jogo, nunca estando no sítio certo para funcionar como tampão à boa circulação de bolas dos encarnados. Na primeira parte, raramente conseguiu utilizar a sua técnica individual ao serviço do coletivo. Melhorou no segundo tempo, tanto defensivamente como ofensivamente. Esteve perto do 2-3, mas não acertou bem na bola e o seu remate foi para as nuvens (71’).

Ruca: Uma das missões que tinha era a de acompanhar as subidas de André Almeida. O forte do lateral do Benfica nem é a profundidade nem a capacidade ofensiva, mas nesta partida fez duas assistências e Ruca é culpado. Vem do CNS e mostrou-se surpreendido pelo ritmo das águias. Ofensivamente não esteve mal, entrou bem em combinações, mas com naturalidade foi sacrificado ao intervalo.

Suk: A grande arma ofensiva do Vitória: deu profundidade, foi para cima dos defesas no um contra um, discutiu inúmeros lances no futebol aéreo e foi quase sempre o primeiro homem a exercer pressão sobre os defesas do Benfica. Fez um jogo muito completo e bem mereceu o golo que marcou, já na reta final da partida (88’), ao desviar um remate de Vasco Costa. Já tinha estado perto de marcar aos 26 minutos, mas o seu disparo de pé esquerdo foi desviado.

Entrada de Vasco Costa fez melhorar a equipa
André Claro: Nunca foi tão protagonista como Suk na frente de ataque. Melhorou no segundo tempo, quando passou para o corredor esquerdo, ainda quem esteja a mostrar estar a perder algum gás, relativamente ao que foram as suas exibições no início de temporada.

Vasco Costa: Entrou muitíssimo bem no jogo, mexeu com a dinâmica ofensiva da equipa, ainda deu alguma esperança ao reduzir para 1-3 (59’) e foi da sua autoria o remate que Suk desviou para o 2-4 (88’). Já tinha mostrado bons atributos frente ao União e agora apresenta-se como sério candidato ao onze já na terça-feira, frente ao Rio Ave, para a Taça de Portugal.

Costinha: É outro elemento que está a perder algum gás, embora não tenha estado mal, tendo em conta até o grau de dificuldade. Adiou o 1-4 ao intercetar in extremis o remate de Gonçalo Guedes (79’).

Dani: Refrescou o miolo nos últimos minutos, quando o assunto já estava mais do que resolvido.



Outras notas


Nuno Pinto foi substituído nos últimos minutos do encontro diante do Belenenses, devido a cansaço muscular.

André Claro está na mira dos italianos do Empoli, Cagliari e Torino, dos espanhóis do Bétis e dos franceses do Bordéus e Metz.

Depois do bis ao Belenenses, Suk está cada vez mais valorizando, mas os dirigentes da SAD do Vitória não aceitam vender o seu passe por menos de €3 milhões.

Nuno Pinto, que já jogou na Roménia ao serviço do Astra Giurgiu, interessa ao campeão romeno Steaua Bucareste. Os dirigentes sadinos só aceitarão negocia-lo por 400 mil euros.

O Vitória treinou-se na quarta e quinta-feira em Vendas Novas, para poupar o relvado do Bonfim.

Com naturalidade, a receção ao Benfica resultou na maior enchente do Bonfim na presente temporada (9.323 espetadores), superando os 3.597 que estiveram na partida diante do União, duassemanas antes.

O grande craque do Benfica, Nico Gaitán, falhou o encontro devido a uma lesão no joelho esquerdo. Também de fora do lado encarnado ficaram Luisão, Nélson Semedo e Salvio, todos lesionados.

Os atletas vitorianos Frederico Venâncio e André Horta passaram pela formação do Benfica.

Os italianos do Génova, Fiorentina e Novara estiveram no Bonfim em missão de espionagem.


Números


Frederico Venâncio mantém-se como o único totalista da equipa na Liga: 1170 minutos. À entrada para a mesma jornada, apenas mais 20 jogadores tinham esse estatuto.

O Vitória não perdia em casa, em jogos oficiais, desde 3 de maio (0-2 diante do FC Porto). Até à derrotado diante do Benfica, duas vitórias e cinco empates.

No confronto entre sadinos e águias no Bonfim, para a Liga, a vantagem é dos visitantes: 39 triunfos, 15 empates e 14 derrotas (68 jogos). Os setubalenses não vencem o Benfica para o campeonato 10 de maio de 1999 (1-0, golo de Toñito). Desde então, somam três empates e 12 desaires.

Na temporada transata, o Vitória só atingiu os 18 pontos à 19.ª jornada e só chegou aos 23 golos marcados à 33.ª.

Os sadinos já não somavam 18 ou mais pontos à 13.ª jornada desde 2007/08 (22), não saíam dessa ronda com 20 ou menos golos sofridos desde 2011/12 (19) e não tinham tantos golos (23 ou mais) marcados à 13.ª jornada desde 1976/77 (28).

Com oito golos e quatro assistências, Suk participou diretamente em 12 dos 23 golos do Vitória na Liga.

Ao faturar ao Benfica, o Vitória já soma mais golos marcados (23) do que em 2006/07 e 2008/09 (21 em ambos, em 30 jornadas).

Os sadinos já não marcavam dois golos às águias no mesmo encontro desde 1 de dezembro de 2008 (2-2 na Luz).

Vasco Costa estreou-se a marcar na Liga.



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