Costinha e Rúben Neves disputam a bola |
Liga | FC Porto 2-0 Vitória
Quim Machado tinha prometido um
Vitória fiel a si próprio e, apesar da inclusão de Ruca no onze em detrimento
de Arnold, apresentou-se a pressionar no campo todo, dificultando a primeira
fase de construção portista. Casillas e os defesas portistas chegaram mesmo a
ser obrigados a bombear a bola, o que deverá ter provocado alguns nós no
estômago de Julen Lopetegui, que gosta de ver a redondinha a circular de pé
para pé.
Havia a preocupação de saber o
que aconteceria quando o FC Porto conseguisse ultrapassar essa zona de pressão,
mas a circulação de bola dos azuis e brancos era feita a um ritmo tão baixo
que, quando chegava ao meio-campo ofensivo, já a defesa sadina estava
reposicionada.
Nessa segunda fase, os jogadores
que viajaram desde Setúbal estiveram sempre bem posicionados, ocupando bem os
espaços e obrigando os vice-campeões nacionais a abrandar (ainda mais) o ritmo
da sua circulação. De falta de posse de bola não se podem queixar para alvejar
a baliza de Raeder (bem entre os postes, um prega-sustos
quando de lá sai), uma vez que esta esteve sempre na casa dos 70 por cento.
Quando era a vez do Vitória
atacar, percebeu-se a razão pela qual André Horta entrou de início. Era o único
(ou dos poucos, vá!) que, mesmo sob pressão, conseguia desenvencilhar-se e
deixar a bola jogável, ora para si, ora para um companheiro. As transições
rápidas, com Suk como jogador alvo, também foram meios para chegar ao último
terço.
Ainda assim, por uma via ou por
outra, o Vitória chegou poucas vezes à área portista e não criou uma única
ocasião de golo digna desse nome. Não é uma crítica. Quem faz o que pode a mais
não é obrigado e a verdade é que o FC Porto defensivamente não deu grandes
hipóteses. Não é por acaso que, para a Liga, não sofre golos no Dragão há 16
jogos.
Pressão alta do Vitória, obrigando os defesas a jogar feio |
No segundo tempo, já com André
dentro das quatro linhas, os dragões apareceram com uma circulação de bola
acelerada e instalaram-se no meio-campo adversário, cortando logo aí as tentativas
dos vitorianos se soltarem do sufoco.
Apesar das dificuldades, os
visitantes continuaram bem posicionados, obrigando o técnico espanhol a
reformular o sistema tático (e talvez até a engolir o orgulho, uma vez que é
obcecado pelo 4x3x3), lançando Osvaldo para o ataque, para o lado de Aboubakar.
Com dois avançados para marcar, a
tarefa complicou-se ainda mais para a equipa do Sado e essa lógica imperou aos
70 minutos, quando a resistência dos sadinos terminou. Um dos centrais,
Frederico Venâncio, foi acompanhar André até à saída da área setubalense e, na
sequência da jogada, Aboubakar apareceu no espaço entre Rúben Semedo e Nuno
Pinto para, de cabeça, dar o melhor seguimento a (mais um!) grande cruzamento
de Layún.
Quim Machado em momento algum se
contentou com uma vitória moral, tendo em conta a duração que o nulo teve no
marcador. Rapidamente chamou para dentro de campo Arnold e logo a seguir Uli
Dávila, fazendo até recuar Costinha para lateral. Merece o aplauso pela
irreverência, mas não merecia que um dos homens que colocou em campo,
precisamente Arnold, tivesse sido negligente ao ponto de não acompanhar a
subida de Layún no lance do 2-0. O próprio mexicano marcou através de um remate
de fora da área. O relógio marcava 84 minutos, mas a partida tinha acabado aí.
Ficha de jogo
I Liga – 10.ª jornada
Estádio do Dragão, no Porto (32.211 espectadores)
FC Porto (4x3x3): Casillas; Maxi Pereira, Martins Indi, Marcano, Layún;
Evandro (Osvaldo, 59); Danilo Pereira, Rúben Neves c
(André, int.); Tello, Aboubakar e Brahimi (Imbula, 73)
Suplentes não utilizados: Helton
(GR), Varela, Herrera e Corona
Treinador: Julen Lopetegui
Disciplina: Cartão amarelo
a Rúben Neves (11), Evandro (59), Bruno Martins Indi (81) e Danilo Pereira (86)
Vitória (4x1x3x2): Raeder; Gorupec (Uli Dávila, 80), Frederico
Venâncio c, Rúben Semedo, Nuno Pinto; Fábio Pacheco; Costinha, André
Horta (Paulo Tavares, 67), Ruca; Suk e André Claro (Arnold, 73)
Suplentes não utilizados: Miguel
Lázaro (GR), Cléber, Alexandre e Hassan
Treinador: Quim Machado
Disciplina: Cartão amarelo
a Fábio Pacheco (40’ )
Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa), assistido por André Campos e Pedro
Mota e com Bruno Jesus como 4.º árbitro
Golos
1-0, por Aboubakar (70). Em
jogada de ataque do FC Porto pela esquerda, André, vigiado de perto por
Frederico Venâncio, atrasou para Layún, que cruzou milimetricamente para
Aboubakar, que atacou o espaço entre Rúben Semedo e Nuno Pinto para cabecear
para o fundo das redes.
2-0, por Layún (84).
Imbula arrancou pelo meio-campo e entregou a bola a Tello, sobre o lado
direito. Este virou o jogo para o outro lado, onde Layún, ainda de fora da área
e completamente à vontade, rematou colocado para o 2-0.
Estatísticas (FC Porto-Vitória)
Posse de bola (%): 69-31
Remates: 17-5
Remates perigosos: 8-0
Remates perigosos: 8-0
Cantos: 11-4
Faltas cometidas: 16-7
Foras de jogo: 1-0
Apreciação individual
Raeder: É um guarda-redes
sem presença na área. Permite que muita coisa aconteça naquele que devia ser o
seu raio de ação e falha imenso nas saídas de entre os postes. Pontapé de
baliza ridículo aos 44’ ,
felizmente bem resolvido depois por Rúben Semedo. Ainda assim, a nível de
reflexos pouco se lhe pode apontar: boa intervenção com o pé direito aos 38’ , a remate de Tello; aos 45+2’ , a remate forte de Layún; e
aos 90’ ,
para travar um remate violentíssimo de Imbula.
Muito espaço entre Gorupec e Venâncio foi uma constante |
Gorupec: Deixou demasiado
espaço entre ele e Frederico Venâncio, abrindo um autêntico buraco na defesa,
mas há que lhe dar o benefício da dúvida: foi o seu primeiro jogo oficial pelo
Vitória e ainda está a ganhar rotinas. Beneficiou de alguma desinspiração de
Brahimi defensivamente. A atacar, mostrou bons pormenores.
Frederico Venâncio: Com
bigode no rosto e braçadeira de capitão no braço, esteve sempre muito
concentrado. Foi dos que não merecia ter perdido o jogo.
Rúben Semedo: Mostrou a
sua agilidade nas diversas vezes em que esticou uma das pernas para cortar
jogadas de ataque do FC Porto, parecendo um polvo a estender os tentáculos para
alcançar a bola. Apareceu a sair a jogar algumas vezes no segundo tempo.
Aboubakar atacou o espaço nas suas costas para fazer marcar o golo inaugural (70’ ), mas com dois avançados
pela frente, só com olhos na nuca…
Nuno Pinto: Bom cruzamento
aos 28’ , a
colocar a bola no coração da área, onde Costinha, em dificuldades, atirou para
fora. Aboubakar atacou o seu espaço no lance do 1-0 (70’ ). Jogo consistente.
Fábio Pacheco: Amarelado
aos 40’ ,
por falta sobre Aboubakar junto à entrada da área. Sempre bem posicionado,
deixou a equipa equilibrada a meio-campo, obrigando o FC Porto a abrandar
(ainda mais) o ritmo da circulação de bola.
Costinha: Sacou o cartão
amarelo a Rúben Neves (11’ ).
Voltou ao corredor direito, onde já não atuava há alguns encontros. Nunca se
demitiu de tarefas defensivas, num jogo ingrato para si, pois não teve a
oportunidade de se mostrar do ponto de vista ofensivo.
André Horta: Foi dos
poucos da sua equipa a ter capacidade de guardar a bola em situações de aperto.
Desenvencilhou-se bem sob pressão, mostrando clarividência e qualidade técnica.
Vítima do sucesso da dupla Suk/André Claro e da necessidade de estar
equilibrada, começou os jogos anteriores no banco, mas pela capacidade de
decidir bem a um ritmo elevado, parece estar talhado para jogos com equipas de
maior dimensão. Não surpreenderia se voltasse a aparecer no onze na receção ao
Benfica, já em
dezembro. Saiu esgotado, aos 67 minutos. Correu 5,9 quilómetros e
acertou oito passes em onze (72 por cento).
Ruca: Por vezes, parece
que a bola lhe pica, mas há que o elogiar pela forma como se desunhou nas
tarefas defensivas. Foi um autêntico segundo lateral.
Suk a disputar primeira bola, bombeada por Raeder |
Suk: Foi o jogador alvo
nas transições do Vitória, acabando por sofrer algumas mazelas nas primeiras
bolas que disputou pelo ar. Procurou fazer um golo parecido ao que tinha
marcado à Académica aos 90+1’ ,
mas desta vez falhou a pontaria.
André Claro: Teve pouca
bola, saindo claramente prejudicado de um jogo onde o ritmo foi mais elevado. Desgastou-se
muito na pressão alta que a equipa exerceu no último terço.
Paulo Tavares: Refrescou o
miolo, substituindo o já desgastado André Horta. Sem a mesma velocidade de quem
rendeu, tentou emprestar ao meio-campo alguma capacidade de passe.
Arnold: Foi o principal
culpado no lance do 2-0. Estava fresco, mas nem assim acompanhou Layún. Não
teve oportunidade para exibir a sua velocidade no Dragão.
Uli Dávila: Entrou bem no
jogo, obrigando Casillas a aplicar-se logo no minuto a seguir a ter entrado em
campo (81’ ).
Outras notas
William Alves e Dani, por
castigo, e Ricardo, por estar cedido pelo FC Porto, desfalcaram o Vitória no
Estádio do Dragão.
André Claro passou oito anos na
formação do FC Porto (entre 2002/03 e 2009/10). O avançado, que esta temporada
chegou ao Sado proveniente do Arouca, é seguido pelos franceses do Metz (Liga
2) e pelos italianos do Bari (Serie B), apesar de estar blindado com uma
cláusula de 5 milhões de euros.
O lateral-direito dos juniores
Gonçalo Duarte, 18 anos, foi chamado na sexta-feira a trabalhar com o plantel
principal.
Maicon, lesionado, era a única
ausência no FC Porto.
Machester United, Mónaco, Montpellier, Wisla Cracóvia e Rayo Vallecano foram alguns dos clubes que enviaram emissários ao Dragão para assistir ao encontro.
Machester United, Mónaco, Montpellier, Wisla Cracóvia e Rayo Vallecano foram alguns dos clubes que enviaram emissários ao Dragão para assistir ao encontro.
‘Opta Vitória’
Frederico Venâncio mantém-se como
o único totalista da equipa: 900 minutos. Quem mais se aproxima é Suk, com 889,
tendo sido substituído na visita ao Moreirense (2-0, na 8.ª jornada).
Em 67 jogos no terreno do FC
Porto, o Vitória apenas conquistou quatro triunfos: 1954/55 (2-0), 1969/70
(3-0), 1971/72 (1-0) e 1988/89 (1-0). Em outras seis ocasiões, os sadinos
saíram da cidade invicta com um empate, a última das quais em 2005/06 (0-0).
Essa foi a última vez que os setubalenses roubaram pontos aos portistas na
Liga.
Lukas Raeder já não jogava pelo
Vitória, em todas as competições, desde a goleada imposta pelo Marítimo no Funchal
(5-2), a 13 de setembro, na 4.ª jornada da Liga.
Toni Gorupec estreou-se
oficialmente com a camisola verde e branca.
O Vitória não somava 14 ou mais
pontos à 10.ª jornada em 2007/08 (18), com Carlos Carvalhal ao leme. Essa tinha
sido também a última vez que os sadinos cumpriram as dez primeiras rondas com
menos de três derrotas (0) e tinham marcado 16 ou mais golos (18).
Desde 2011/12 que o Vitória não
sofria apenas 14 golos nas primeiras dez jornadas.
O último jogador sadino a marcar
no Dragão para a Liga foi Bruno Ribeiro, a 6 de abril de 2007. Nesse encontro o
Vitória saiu de lá goleado por 1-5.
O FC Porto aumentou para 16 o
número de jogos sem sofrer golos no Dragão para a Liga. A série começou
exatamente contra o Vitória, a 19 de dezembro de 2014 (4-0).
Outras análises
Vitória – Boavista (1.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/das-boas-transicoes-ao-amargo-empate.html
Académica - Vitória (2.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/o-aleatorio-deu-o-mote-para-goleada.html
Vitória – Rio Ave (3.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/08/tornou-se-frustrante-o-empate-que-antes.html
Vitória – V. Guimarães (5.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/09/em-duelo-de-vitorias-so-o-de-setubal.html
Vitória – Estoril (7.ª jornada da Liga): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/10/a-quarta-tentativa-bonfim-viu-vitoria.html
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