domingo, 8 de novembro de 2015

Resistência sadina no Dragão durou 70 minutos

Costinha e Rúben Neves disputam a bola

Liga | FC Porto 2-0 Vitória


Quim Machado tinha prometido um Vitória fiel a si próprio e, apesar da inclusão de Ruca no onze em detrimento de Arnold, apresentou-se a pressionar no campo todo, dificultando a primeira fase de construção portista. Casillas e os defesas portistas chegaram mesmo a ser obrigados a bombear a bola, o que deverá ter provocado alguns nós no estômago de Julen Lopetegui, que gosta de ver a redondinha a circular de pé para pé.

Havia a preocupação de saber o que aconteceria quando o FC Porto conseguisse ultrapassar essa zona de pressão, mas a circulação de bola dos azuis e brancos era feita a um ritmo tão baixo que, quando chegava ao meio-campo ofensivo, já a defesa sadina estava reposicionada.


Nessa segunda fase, os jogadores que viajaram desde Setúbal estiveram sempre bem posicionados, ocupando bem os espaços e obrigando os vice-campeões nacionais a abrandar (ainda mais) o ritmo da sua circulação. De falta de posse de bola não se podem queixar para alvejar a baliza de Raeder (bem entre os postes, um prega-sustos quando de lá sai), uma vez que esta esteve sempre na casa dos 70 por cento.

Quando era a vez do Vitória atacar, percebeu-se a razão pela qual André Horta entrou de início. Era o único (ou dos poucos, vá!) que, mesmo sob pressão, conseguia desenvencilhar-se e deixar a bola jogável, ora para si, ora para um companheiro. As transições rápidas, com Suk como jogador alvo, também foram meios para chegar ao último terço.


Ainda assim, por uma via ou por outra, o Vitória chegou poucas vezes à área portista e não criou uma única ocasião de golo digna desse nome. Não é uma crítica. Quem faz o que pode a mais não é obrigado e a verdade é que o FC Porto defensivamente não deu grandes hipóteses. Não é por acaso que, para a Liga, não sofre golos no Dragão há 16 jogos.

Pressão alta do Vitória, obrigando os defesas a jogar feio
No segundo tempo, já com André dentro das quatro linhas, os dragões apareceram com uma circulação de bola acelerada e instalaram-se no meio-campo adversário, cortando logo aí as tentativas dos vitorianos se soltarem do sufoco.

Apesar das dificuldades, os visitantes continuaram bem posicionados, obrigando o técnico espanhol a reformular o sistema tático (e talvez até a engolir o orgulho, uma vez que é obcecado pelo 4x3x3), lançando Osvaldo para o ataque, para o lado de Aboubakar.

Com dois avançados para marcar, a tarefa complicou-se ainda mais para a equipa do Sado e essa lógica imperou aos 70 minutos, quando a resistência dos sadinos terminou. Um dos centrais, Frederico Venâncio, foi acompanhar André até à saída da área setubalense e, na sequência da jogada, Aboubakar apareceu no espaço entre Rúben Semedo e Nuno Pinto para, de cabeça, dar o melhor seguimento a (mais um!) grande cruzamento de Layún.

Quim Machado em momento algum se contentou com uma vitória moral, tendo em conta a duração que o nulo teve no marcador. Rapidamente chamou para dentro de campo Arnold e logo a seguir Uli Dávila, fazendo até recuar Costinha para lateral. Merece o aplauso pela irreverência, mas não merecia que um dos homens que colocou em campo, precisamente Arnold, tivesse sido negligente ao ponto de não acompanhar a subida de Layún no lance do 2-0. O próprio mexicano marcou através de um remate de fora da área. O relógio marcava 84 minutos, mas a partida tinha acabado aí.


Ficha de jogo


I Liga – 10.ª jornada

Estádio do Dragão, no Porto (32.211 espectadores)


FC Porto (4x3x3): Casillas; Maxi Pereira, Martins Indi, Marcano, Layún; Evandro (Osvaldo, 59); Danilo Pereira, Rúben Neves c (André, int.); Tello, Aboubakar e Brahimi (Imbula, 73)

Suplentes não utilizados: Helton (GR), Varela, Herrera e Corona

Treinador: Julen Lopetegui

Disciplina: Cartão amarelo a Rúben Neves (11), Evandro (59), Bruno Martins Indi (81) e Danilo Pereira (86)


Vitória (4x1x3x2): Raeder; Gorupec (Uli Dávila, 80), Frederico Venâncio c, Rúben Semedo, Nuno Pinto; Fábio Pacheco; Costinha, André Horta (Paulo Tavares, 67), Ruca; Suk e André Claro (Arnold, 73)

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), Cléber, Alexandre e Hassan

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Fábio Pacheco (40’)


Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa), assistido por André Campos e Pedro Mota e com Bruno Jesus como 4.º árbitro


Golos


1-0, por Aboubakar (70). Em jogada de ataque do FC Porto pela esquerda, André, vigiado de perto por Frederico Venâncio, atrasou para Layún, que cruzou milimetricamente para Aboubakar, que atacou o espaço entre Rúben Semedo e Nuno Pinto para cabecear para o fundo das redes.

2-0, por Layún (84). Imbula arrancou pelo meio-campo e entregou a bola a Tello, sobre o lado direito. Este virou o jogo para o outro lado, onde Layún, ainda de fora da área e completamente à vontade, rematou colocado para o 2-0.




Estatísticas (FC Porto-Vitória)


Posse de bola (%): 69-31

Remates: 17-5

Remates perigosos: 8-0

Cantos: 11-4

Faltas cometidas: 16-7

Foras de jogo: 1-0


Apreciação individual


Raeder: É um guarda-redes sem presença na área. Permite que muita coisa aconteça naquele que devia ser o seu raio de ação e falha imenso nas saídas de entre os postes. Pontapé de baliza ridículo aos 44’, felizmente bem resolvido depois por Rúben Semedo. Ainda assim, a nível de reflexos pouco se lhe pode apontar: boa intervenção com o pé direito aos 38’, a remate de Tello; aos 45+2’, a remate forte de Layún; e aos 90’, para travar um remate violentíssimo de Imbula.

Muito espaço entre Gorupec e Venâncio foi uma constante
Gorupec: Deixou demasiado espaço entre ele e Frederico Venâncio, abrindo um autêntico buraco na defesa, mas há que lhe dar o benefício da dúvida: foi o seu primeiro jogo oficial pelo Vitória e ainda está a ganhar rotinas. Beneficiou de alguma desinspiração de Brahimi defensivamente. A atacar, mostrou bons pormenores.

Frederico Venâncio: Com bigode no rosto e braçadeira de capitão no braço, esteve sempre muito concentrado. Foi dos que não merecia ter perdido o jogo.

Rúben Semedo: Mostrou a sua agilidade nas diversas vezes em que esticou uma das pernas para cortar jogadas de ataque do FC Porto, parecendo um polvo a estender os tentáculos para alcançar a bola. Apareceu a sair a jogar algumas vezes no segundo tempo. Aboubakar atacou o espaço nas suas costas para fazer marcar o golo inaugural (70’), mas com dois avançados pela frente, só com olhos na nuca…

Nuno Pinto: Bom cruzamento aos 28’, a colocar a bola no coração da área, onde Costinha, em dificuldades, atirou para fora. Aboubakar atacou o seu espaço no lance do 1-0 (70’). Jogo consistente.

Fábio Pacheco: Amarelado aos 40’, por falta sobre Aboubakar junto à entrada da área. Sempre bem posicionado, deixou a equipa equilibrada a meio-campo, obrigando o FC Porto a abrandar (ainda mais) o ritmo da circulação de bola.

Costinha: Sacou o cartão amarelo a Rúben Neves (11’). Voltou ao corredor direito, onde já não atuava há alguns encontros. Nunca se demitiu de tarefas defensivas, num jogo ingrato para si, pois não teve a oportunidade de se mostrar do ponto de vista ofensivo.

André Horta: Foi dos poucos da sua equipa a ter capacidade de guardar a bola em situações de aperto. Desenvencilhou-se bem sob pressão, mostrando clarividência e qualidade técnica. Vítima do sucesso da dupla Suk/André Claro e da necessidade de estar equilibrada, começou os jogos anteriores no banco, mas pela capacidade de decidir bem a um ritmo elevado, parece estar talhado para jogos com equipas de maior dimensão. Não surpreenderia se voltasse a aparecer no onze na receção ao Benfica, já em dezembro. Saiu esgotado, aos 67 minutos. Correu 5,9 quilómetros e acertou oito passes em onze (72 por cento).

Ruca: Por vezes, parece que a bola lhe pica, mas há que o elogiar pela forma como se desunhou nas tarefas defensivas. Foi um autêntico segundo lateral.
Suk a disputar primeira bola, bombeada por Raeder

Suk: Foi o jogador alvo nas transições do Vitória, acabando por sofrer algumas mazelas nas primeiras bolas que disputou pelo ar. Procurou fazer um golo parecido ao que tinha marcado à Académica aos 90+1’, mas desta vez falhou a pontaria.

André Claro: Teve pouca bola, saindo claramente prejudicado de um jogo onde o ritmo foi mais elevado. Desgastou-se muito na pressão alta que a equipa exerceu no último terço.

Paulo Tavares: Refrescou o miolo, substituindo o já desgastado André Horta. Sem a mesma velocidade de quem rendeu, tentou emprestar ao meio-campo alguma capacidade de passe.

Arnold: Foi o principal culpado no lance do 2-0. Estava fresco, mas nem assim acompanhou Layún. Não teve oportunidade para exibir a sua velocidade no Dragão.

Uli Dávila: Entrou bem no jogo, obrigando Casillas a aplicar-se logo no minuto a seguir a ter entrado em campo (81’).


Outras notas

William Alves e Dani, por castigo, e Ricardo, por estar cedido pelo FC Porto, desfalcaram o Vitória no Estádio do Dragão.

André Claro passou oito anos na formação do FC Porto (entre 2002/03 e 2009/10). O avançado, que esta temporada chegou ao Sado proveniente do Arouca, é seguido pelos franceses do Metz (Liga 2) e pelos italianos do Bari (Serie B), apesar de estar blindado com uma cláusula de 5 milhões de euros.

O lateral-direito dos juniores Gonçalo Duarte, 18 anos, foi chamado na sexta-feira a trabalhar com o plantel principal.

Maicon, lesionado, era a única ausência no FC Porto.

Machester United, Mónaco, Montpellier, Wisla Cracóvia e Rayo Vallecano foram alguns dos clubes que enviaram emissários ao Dragão para assistir ao encontro.


‘Opta Vitória’


Frederico Venâncio mantém-se como o único totalista da equipa: 900 minutos. Quem mais se aproxima é Suk, com 889, tendo sido substituído na visita ao Moreirense (2-0, na 8.ª jornada).

Em 67 jogos no terreno do FC Porto, o Vitória apenas conquistou quatro triunfos: 1954/55 (2-0), 1969/70 (3-0), 1971/72 (1-0) e 1988/89 (1-0). Em outras seis ocasiões, os sadinos saíram da cidade invicta com um empate, a última das quais em 2005/06 (0-0). Essa foi a última vez que os setubalenses roubaram pontos aos portistas na Liga.

Lukas Raeder já não jogava pelo Vitória, em todas as competições, desde a goleada imposta pelo Marítimo no Funchal (5-2), a 13 de setembro, na 4.ª jornada da Liga.

Toni Gorupec estreou-se oficialmente com a camisola verde e branca.

O Vitória não somava 14 ou mais pontos à 10.ª jornada em 2007/08 (18), com Carlos Carvalhal ao leme. Essa tinha sido também a última vez que os sadinos cumpriram as dez primeiras rondas com menos de três derrotas (0) e tinham marcado 16 ou mais golos (18).

Desde 2011/12 que o Vitória não sofria apenas 14 golos nas primeiras dez jornadas.

O último jogador sadino a marcar no Dragão para a Liga foi Bruno Ribeiro, a 6 de abril de 2007. Nesse encontro o Vitória saiu de lá goleado por 1-5.

O FC Porto aumentou para 16 o número de jogos sem sofrer golos no Dragão para a Liga. A série começou exatamente contra o Vitória, a 19 de dezembro de 2014 (4-0).


Outras análises


















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