Seleção russa tem a presença no Euro-2016 em risco |
Durante a conversa, o treinador
natural de Beja, 44 anos, teve um raciocínio interessante sobre o
desenvolvimento do jogador mexicano. Disse-me que os futebolistas não saem do
país porque recebem bons salários, ficam-se pela zona de conforto e não experimentam
os campeonatos europeus, mais competitivos, e por isso, não evoluem tanto.
É verdade que o México até nem é o
exemplo mais gritante, porque na Europa estão Guardado, Herrera, Chicharito e
Carlos Vela, e porque la tricolor recentemente
conquistou a Gold Cup. Ainda assim, e se isso se sente naquele país, imagine-se
que seleção poderia ter aliando um campeonato interno que tem um nível
competitivo bastante razoável – o Tigres, por exemplo, chegou à final da
Libertadores – a um potencial maior leque de emigrantes nas cinco principais
ligas europeias.
E se o exemplo mexicano pode até
nem ser o melhor, pensemos nos casos da Rússia, Turquia e até da Ucrânia.
Quando falamos futebolisticamente nestes países, associamos a campeonatos cujos
clubes têm grande poder de compra e a seleções que vão desiludindo. Parece
contraditório, não é? Mas não, os dois fatos estão umbilicalmente ligados.
Os jogadores russos, turcos e
ucranianos também têm bons salários nos seus países, estão perto da família, na
zona de conforto e são raros os que experimentam emigrar para Inglaterra,
Alemanha, Espanha, Itália e França. Não participando semanalmente em jogos de
ligas tão competitivas, não evoluem tanto e as seleções ressentem-se, mesmo que
o trabalho de base tenha alguma qualidade.
Há quem veja a coisa por outro
prisma. Esta temporada na Rússia, por exemplo, o número mínimo de jogadores
russos obrigatórios em campo (ao mesmo tempo) aumentou de quatro para cinco.
Uma medida que muito desagradou a André Villas Boas, técnico do Zenit, que tem
sido obrigado a fazer sentar no banco alguns dos seus craques estrangeiros
(Danny que o diga…). Talvez um dia se apercebam que estão enganados, quando a
seleção continuar a falhar fases finais ou a desiludir quando nelas participa
e, em simultâneo, o campeonato se tornar menos apelativo.
Mas ainda consigo dar um exemplo
melhor: o angolano. Angola tinha, até há poucos anos, a melhor seleção dos
PALOP. Porquê? Porque a grande maioria dos seus internacionais atuava em
Portugal. Lembro-me de Mantorras, Figueiredo, Kali, João Ricardo ou André,
entre outros.
Cabo Verde é 27.º no Ranking FIFA; Angola é 92.º |
Hoje em dias as coisas mudaram. O
Girabola tornou-se um campeonato apelativo do ponto de vista financeiro, os
angolanos não se sentem obrigados a emigrar e, tanto assim que é, que já são
alguns portugueses que vão para lá jogar. Portugueses e não só. Lembremo-nos de
Rivaldo, que passou pelo Kabuscorp, em 2012, já no final da carreira.
Por sua vez, Cabo Verde, que tem
um campeonato pobre e praticamente desconhecido, apresenta a esmagadora maioria
dos seus internacionais nos campeonatos europeus, sobretudo em Portugal. Há
Ryan Mendes, Héldon, Zé Luís, Babanco e Fernando Varela, entre outros, a
desenvolverem-se no velho continente. Não é por acaso que hoje tem, sem dúvida
alguma, a melhor seleção dos PALOP.
Por fim, resta-nos agradecer o
facto de termos um país pobre e futebolistas com qualidade e espírito de
emigrante para Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Nani e Cristiano Ronaldo nos terem
dado algumas alegrias.
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