terça-feira, 2 de abril de 2024

“Ele estava sempre na praia!” Quando Luís André Villas-Boas foi selecionador das Ilhas Virgens Britânicas

Villas-Boas viveu experiência exótica como treinador
Numa época em que o Championship Manager era um dos videojogos da moda, André Villas-Boas, então com 21 anos, resolveu viver uma aventura desafiante na vida real e candidatar-se por fax à Federação das Ilhas Virgens Britânicas em 1999, acabando por ser contratado, inicialmente para coordenador técnico.
 
“Fui às escuras, pensei que ia encontrar algo minimamente estruturado. Mas foi curioso, que eu chego e depois é que me vou adaptando à realidade do que era aquela vida”, contou à Tribuna Expresso em 2019, recordando, com saudade, “as praias excelentes” daquele que considera ser “um dos grandes paraísos do mundo”.
 
À espera de encontrar muita organização e formalismo, Villas-Boas ficou chocado quando aterrou na ilha caribenha. “Na altura fiquei horrorizado. Eu chego de fato, todo bonito, e sou recebido pelo Charlie Cook [diretor da Federação] de chinelos e calção de banho. Tinha feito Porto-Paris, Paris-São Martinho, São Martinho-Ilhas Virgens. E chego lá de noite, com o fato da viagem...”, recordou. “Mas parti à aventura e estava a achar piada. Levou-me para a casa que ambos partilhávamos. E depois de posar as malas, levou-me para ver um jogo. Era a polícia contra os bombeiros, um jogo de topo. Foi assim que me deparei com aquele cenário...”, acrescentou.
 
Do lado da Federação, o antigo presidente Kenrick Grant disse que ficou impressionado pelo currículo do jovem português. “Estava à procura de um treinador jovem, com qualificação. O André enviou-nos o seu currículo, vinha de um grande clube como o FC Porto e era amigo de Bobby Robson. Ficámos convencidos”, contou ao Maisfutebol, confirmando a admiração de Villas-Boas pelas paisagens da ilha: “Ao início, estava sempre na praia! Passava por ele e via-o sempre de calções. Tive de falar com ele. Parecia que estava de férias. Mas quando começou a trabalhar, surpreendeu-me logo.”
 
“Logo ao início, fez um plano completo para todas as seleções, um manual com planos de jogo e de treino, cheio de informação. Mexia muito bem nos computadores e era soberbo na observação. Vinha para as seleções jovens, mas ele queria trabalhar na principal”, acrescentou Grant.
 
Entretanto, o técnico portuense acabou por assumir o cargo de selecionador e participou inclusivamente na fase de qualificação para o Mundial 2002, tendo caído logo na primeira ronda, frente a Bermuda. Na primeira-mão perdeu por 1-5 em casa e na segunda foi goleado por 9-0. 

“Era tão novo que só lhes disse a minha idade no dia em que abandonei o cargo”, recordou Villas-Boas, anos mais tarde. “Eu sabia a idade que ele tinha, mas não me arrependi. Deixou trabalho feito, meteu os seniores a treinar os miúdos e muitos desses jovens chegaram depois à seleção principal”, lembrou Grant, que viu na ambição do treinador português um entrave: “Foi o único problema que tive com ele. Percebi que estava aqui pelo currículo, que não iria ficar muito tempo. Queria ser selecionador principal, mas nessa altura tínhamos um. Então, acabámos por dizer adeus.”
 
Depois dessa aventura, Villas-Boas regressou ao FC Porto, onde já tinha trabalhado nas camadas jovens, para assumir a função de observador na equipa B.
 
 
 





  

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