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Villas-Boas viveu experiência exótica como treinador |
Numa época em que o Championship
Manager era um dos videojogos da moda, André Villas-Boas, então com 21
anos, resolveu viver uma aventura desafiante na vida real e candidatar-se por
fax à Federação das Ilhas Virgens Britânicas em 1999, acabando por ser contratado,
inicialmente para coordenador técnico.
“Fui às escuras, pensei que ia
encontrar algo minimamente estruturado. Mas foi curioso, que eu chego e depois
é que me vou adaptando à realidade do que era aquela vida”, contou à
Tribuna
Expresso em 2019, recordando, com saudade, “as praias excelentes” daquele
que considera ser “um dos grandes paraísos do mundo”.
À espera de encontrar muita
organização e formalismo, Villas-Boas ficou chocado quando aterrou na ilha
caribenha. “Na altura fiquei horrorizado. Eu chego de fato, todo bonito, e sou
recebido pelo Charlie Cook [diretor da Federação] de chinelos e calção de
banho. Tinha feito Porto-Paris, Paris-São Martinho, São Martinho-Ilhas Virgens.
E chego lá de noite, com o fato da viagem...”, recordou. “Mas parti à aventura
e estava a achar piada. Levou-me para a casa que ambos partilhávamos. E depois
de posar as malas, levou-me para ver um jogo. Era a polícia contra os
bombeiros, um jogo de topo. Foi assim que me deparei com aquele cenário...”,
acrescentou.
Do lado da Federação, o antigo
presidente Kenrick Grant disse que ficou impressionado pelo currículo do jovem
português. “Estava à procura de um treinador jovem, com qualificação. O André
enviou-nos o seu currículo, vinha de um grande clube como o
FC
Porto e era amigo de Bobby Robson. Ficámos convencidos”, contou ao
Maisfutebol,
confirmando a admiração de Villas-Boas pelas paisagens da ilha: “Ao início,
estava sempre na praia! Passava por ele e via-o sempre de calções. Tive de
falar com ele. Parecia que estava de férias. Mas quando começou a trabalhar,
surpreendeu-me logo.”
“Logo ao início, fez um plano
completo para todas as seleções, um manual com planos de jogo e de treino,
cheio de informação. Mexia muito bem nos computadores e era soberbo na
observação. Vinha para as seleções jovens, mas ele queria trabalhar na
principal”, acrescentou Grant.
Entretanto, o técnico portuense
acabou por assumir o cargo de selecionador e participou inclusivamente na fase
de qualificação para o
Mundial
2002, tendo caído logo na primeira ronda, frente a Bermuda. Na primeira-mão
perdeu por 1-5 em casa e na segunda foi goleado por 9-0.
“Era tão novo que só
lhes disse a minha idade no dia em que abandonei o cargo”, recordou Villas-Boas,
anos mais tarde. “Eu sabia a idade que ele tinha, mas não me arrependi. Deixou
trabalho feito, meteu os seniores a treinar os miúdos e muitos desses jovens
chegaram depois à seleção principal”, lembrou Grant, que viu na ambição do
treinador português um entrave: “Foi o único problema que tive com ele. Percebi
que estava aqui pelo currículo, que não iria ficar muito tempo. Queria ser selecionador
principal, mas nessa altura tínhamos um. Então, acabámos por dizer adeus.”
Depois dessa aventura, Villas-Boas
regressou ao
FC
Porto, onde já tinha trabalhado nas camadas jovens, para assumir a função
de observador na equipa B.
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