Aos 20 anos, Zicky Té tem já um palmarés invejável |
Impressionante, tendo em conta
que não foi assim há tanto tempo que este jogador nascido em Bissau, mas que
está em Portugal desde os 6 anos (juntamente com os pais e os quatro irmãos),
jogava na rua no rinque Bafatá (que também é o nome de uma cidade da Guiné-Bissau),
em Santo António dos Cavaleiros, no concelho de Loures. Foi ali que cresceu na
modalidade com ajuda dos conselhos de um primo.
"Aqui, em Santo António dos Cavaleiros, nós tínhamos aquela cena
de as crianças não poderem jogar com os mais velhos. Eles não deixavam e o meu
primo [Domingos], que me vinha buscar a casa, dizia: "Tu vais ficar na
minha equipa, vais jogar." Cais, tens de te levantar. Se és fintado, tens
de correr atrás. Se fintas, tens de marcar golo ou fazer assistência. Foi mais
ou menos um mentor e um segundo treinador fora do Sporting.
O meu crescimento, sem ele, não seria tão bom. Ele era o melhor jogador de
Santo António dos Cavaleiros, mesmo máquina", recordou, em declarações
ao Maisfutebol,
em abril do ano passado.
A nível oficial, Izaquel Gomes Té
começou a jogar no Grupo Recreativo Olival Basto, em 2011-12, rumando depois ao
Póvoa de Santo Adrião Atlético Clube, que o catapultou para o Sporting
em 2014. "Comecei a jogar através
de amigos, jogávamos num rinque que havia no Olival Basto. Depois, juntei-me ao
clube para jogar futsal e não futebol de rua. O Sporting
tinha muitos olheiros e via os nossos jogos e fiz captações depois de um jogo
treino contra o Sporting.
Foi nos infantis, lembro-me de ter visto o mister do Sporting
[Nuno Dias] e futuros colegas meus a assistir a alguns jogos", contou
ao zerozero em março
do ano passado.
Sempre a queimar etapas
Quatro anos após ter chegado ao Sporting,
Zicky Té fez a estreia na equipa principal, lançado por Nuno Dias em setembro
de 2018, aos 17 anos, numa visita ao Unidos Pinheirense. No mês seguinte
estreou-se a marcar, numa goleada ao Burinhosa no Pavilhão João Rocha (7-1),
tornando-se no mais jovem de sempre a faturar na I Liga da modalidade, com 17
anos, um mês e 15 dias.
Utilizado a espaços nessa e na
época seguinte, Zicky Té aproveitou a lesão do consagrado Cardinal para
explodir no ano passado: no início de março estreou-se pela seleção de
Portugal, dando sequência a um percurso que vinha a fazer de quinas ao peito
desde os sub-15, e não mais deixou de ser opção para Jorge Braz. Ainda nesse
mês, marcou dois golos e uma assistência numa vitória categórica sobre o Benfica
na final da Taça da Liga (6-2); no início de maio, iniciou a reviravolta do Sporting
na vitória sobre o Barcelona na final da Liga dos Campeões (4-3) e venceu uma
votação no Twitter da UEFA relativa ao melhor jogador da fase final da
competição; em setembro, fez parte da seleção que conquistou um inédito título
mundial, tendo marcado no renhido jogo dos quartos de final diante de Espanha
(4-2).
Agora, já com outro estatuto, mas
ainda como o mais jovem da comitiva nacional, marcou dois golos que ajudaram
Portugal a recuperar de uma desvantagem de 0-2 frente a Espanha nas
meias-finais do Campeonato da Europa, contribuindo para revalidação do título
continental. E fê-lo ao lado do amigo Tomás Paçó, com quem partilha o balneário
do Sporting
desde os 10 anos, ainda eram infantis.
Mental coach para motivar
Quando já se ganhou (quase) tudo,
a pergunta que mais vezes se coloca é como manter a motivação e a ambição. Para
assegurar que consegue manter o foco, Zicky Té conta com a ajuda de um mental
coach, Miguel Faro.
"O que quero mais? Tudo. Quero conquistar mais. Temos de ter
sempre motivação. Eu vou buscar as minhas forças todas à minha família e aos
meus sonhos de criança. No início foi complicado porque quem sobe de júnior a
sénior pensa sempre que vai ter um ano complicado, não vai jogar e tem de
conquistar o seu espaço, mas tive a oportunidade de trabalhar com um mental
coach. É muito fácil, quando se ganha tudo, estagnar e dizer: ‘Eu sou o Zicky e
já conquistei tudo o que tenho para conquistar. Para mim chega’. Tenho outros
objetivos e sonhos que carrego", contou ao podcast ADN de Leão em julho
do ano passado.
"O mental coach ajudou-me muito. Quando eu estava a começar a ter
alguns minutos [na equipa principal do Sporting],
estava com uma obsessão pelo golo. Se a bola não entrasse, mesmo tendo feito um
bom jogo, não estava satisfeito. Martirizava-me muito com a questão do golo.
Estou a gostar muito de trabalhar com ele", acrescentou, ainda antes
de se ter sagrado campeão mundial e europeu pela seleção.
Apesar da juventude, Zicky Té
revela maturidade na abordagem à questão mental. "As pessoas que pedem ajuda são vistas como sendo mais fracas, mas
eu não vejo isso dessa maneira. São ferramentas que nos ajudam a sermos
melhores. É a mesma coisa que ir ao ginásio. Mas em vez de treinar o físico,
com o mental coach treino a mente", argumentou o pivô, que esta
segunda-feira foi recebido, juntamente com os companheiros de seleção, pelo
Presidente da República.
Link original: https://www.dn.pt/desporto/a-ascensao-de-zicky-te-do-rinque-batafa-a-melhor-jogador-do-europeu-14567684.html
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