Aidan Chapman escreveu livro sobre futebol norte-americano |
Apaixonado pelo futebol desde
criança, o jovem norte-americano Aidan Chapman cedo percebeu que não fazia
parte de um grupo de pertença maioritário, num país onde o soccer está
longe de reinar.
Perseguiu e alimentou a sua paixão ao longo do tempo, não só
pelo acompanhamento regular de grandes encontros e competições do futebol
mundial, mas também na primeira pessoa, integrando os complexos meandros do
futebol de formação norte-americano enquanto jogador no estado do Nebrasca.
Como resultado da sua experiência pessoal, Aidan Chapman publicou American
Football: The Future of Soccer in the United States (2020), um
livro que pretende denunciar a falta de diversidade existente no futebol jovem
dos Estados Unidos, e apontar caminhos para o futuro da modalidade no país.
A
partir desta leitura, o Soccer
em Português decidiu entrevistar em exclusivo este jovem autor que
apenas recentemente terminou o liceu, com o intuito de descobrir mais acerca da
sua visão privilegiada sobre o futebol nos EUA.
ANTÓNIO RIBEIRO - O que leva
um estudante do liceu de Omaha a escrever um livro sobre o presente e o futuro
do futebol nos Estados Unidos?
AIDAN CHAPMAN - Sempre me interessei por futebol. Esse amor
começou simplesmente com o jogo, mas cresceu e tornou-se um amor não apenas
pelo jogo, mas pelos aspetos sociais e culturais que o acompanham. A
minha mudança intensificou-se quando desisti de jogar futebol de competição.
Comecei a escrever principalmente por causa de um sentimento avassalador de
frustração com o pouco que temos feito nos Estados Unidos para crescer e nos
adaptar a essa parte da cultura mundial. Com essa frustração em mente, percebi
que, como jovem, tenho uma perspetiva única que não está a ser
considerada pela maioria das pessoas que tomam as decisões sobre o nosso
desporto.
Escreveu na Introdução que o
seu livro era “um apelo a todos aqueles que ocupam uma posição de poder dentro
da comunidade americana de futebol”. Um ano após a publicação, como foi o feedback? Recebeu alguma reação ou
crítica importante?
Infelizmente, não recebi nenhuma resposta substancial ao meu trabalho
de ninguém com uma posição de poder na comunidade do futebol americano. Com
base no feedback que recebi, ninguém ficou convencido de que o
sistema de promoção/despromoção que defendo seja uma ideia positiva. Essa é a
atitude geral dos líderes do futebol americano. Há pouca vontade de mudar para
um sistema que acelere o progresso do futebol nos EUA, se isso fizer com que um
pouco de dinheiro saia da indústria. É o oposto de muitos sentimentos expressos
sobre a Superliga Europeia.
Apesar do seu crescimento nos
Estados Unidos desde a década de 1990, ainda existe uma diferença substancial
de popularidade entre o futebol e os outros três principais desportos do país.
O número de clubes profissionais em todo o país não chega à marca dos cem, e
apesar de algumas cidades e comunidades carregarem uma verdadeira paixão e
tradição pela modalidade, em muitos outros estados o futebol tem uma expressão
mínima. Com este cenário em vigor, como evitar o sistema pay-to-play (pagar para jogar)?
Como atrair e manter esses jovens jogadores de futebol num universo que tem
poucos caminhos a percorrer à medida que envelhecem?
Em primeiro lugar, existem quatro desportos principais: basquetebol,
futebol americano, basebol e hóquei (que muitas vezes é esquecido). O maior
problema com o desempenho abaixo da média do futebol entre essas modalidades desportivas
é a falta de infraestrutura. Não existem recursos suficientes para que os
jovens recebam o mesmo tipo de educação em futebol que poderiam receber em
qualquer outra parte do mundo. Não existem campos e treinadores de qualidade
suficiente para todos. Precisamos de democratizar o futebol neste país para
garantir que qualquer pessoa que queira jogar o possa fazer num campo decente,
com um treinador que saiba o que está a fazer. É muito mais fácil falar do que
fazer, mas começa com o desenvolvimento do futebol no nível profissional e
semiprofissional abaixo da MLS
na pirâmide.
Acredita que se
Christian Pulisic e a Seleção dos Estados Unidos se superarem no
próximo Campeonato do Mundo, isso poderá levar a um impulso substancial para o
crescimento do futebol no país?
Acho que seria necessário um desempenho muito impressionante para
estimularem qualquer tipo de mudança duradoura. A seleção feminina dos Estados
Unidos ganhou o Campeonato do Mundo algumas vezes e, embora isso tenha
inspirado muitas mulheres jovens em todo o país a praticar o desporto, teve um
impacto muito menor no crescimento da cultura do futebol. A seleção masculina
precisaria de chegar muito longe no torneio para chamar a atenção de muitos
americanos.
Como vê o último fracasso da
seleção dos Estados Unidos, ao falhar a participação nos Jogos Olímpicos pela
terceira vez consecutiva?
O fracasso consistente é frustrante. Como eu disse anteriormente, a
frustração inspira muito da minha escrita. O meu primeiro livro foi inspirado
em parte pelo fracasso da seleção masculina dos EUA em qualificar-se para o
Campeonato do Mundo de 2018. Os Jogos Olímpicos definitivamente não são tão
grandes quanto o Mundial, mas o fracasso e a má gestão são uma indicação de
para onde o futebol está a caminhar no nosso país. Não tivemos uma grande
liderança ao longo dos anos no futebol norte-americano. Muitas pessoas querem
que o futebol norte-americano seja semelhante a outros desportos nacionais, mas
isso simplesmente não vai funcionar. Não ganhamos nada ao monopolizar uma
modalidade desportiva em que estamos muito aquém das melhores ligas.
Tem interesse em trabalhar com
futebol no futuro? Tem alguma ideia ou projeto relacionado com o
desenvolvimento do futebol nos Estados Unidos?
Na verdade, estou muito interessado em voltar ao que comecei. De
momento, estou focado na transição do liceu para a faculdade, mas espero que,
depois de me aclimatar, tenha a oportunidade de voltar a escrever. Espero que a
maneira mais provável de me envolver no desporto nos próximos anos é escrevendo
mais, seja na forma de outro livro ou como jornalista. Vou mudar-me para
Chicago em agosto, o que me dará a chance de estar perto de uma das maiores e
mais diversificadas comunidades dos Estados Unidos. A cidade também tem o
Chicago Fire, que faz parte da MLS.
Espero poder usar essa mudança de cenário como uma forma de construir uma perspetiva mais
ampla. Uma coisa que gostaria de fazer é aprofundar-me mais em questões e
soluções específicas. O meu livro ‘American Football’ adotou uma visão
mais ampla do jogo.
English Version
What drives a high-school
student from Omaha to write a book about the present and the future of soccer
in the US?
I have been interested in soccer all my life. That love began with
simply playing the game, but has grown into a love of not just the game but the
social and cultural aspects that accompany it. My shift really intensified
after I quit playing the game competitively. I primarily began to write because
of an overwhelming feeling of frustration at how little we have been doing in
the United States to grow and adapt to that part of the world culture. With
that frustration in mind, I realized that as a young person, I have a unique
perspective that is not being considered by most people
making decisions about our sport.
You wrote in the
‘Introduction’ that your book was «a call to all those who hold a position of
power within the American Soccer Community». One year after its publication,
how was the feedback? Have you received any important reactions or
critiques?
Unfortunately, I have not had any substantial response to my work from
anyone with a position of power within the American soccer community. Based on
the feedback I have received, nobody has been convinced that the
Promotion/Relegation system which I advocate for is a positive idea. That is
the general attitude of the US Soccer leaders. There is little desire to switch
to a system that would advance the progress of the sport if it might cause a
little money to leave the industry. It is sort of the opposite of a lot of
sentiments being expressed about the European Super League.
In spite of its growth in the
US since the 1990s, there is still a substantial popularity gap between soccer
and the other three main country sports. The number of professional clubs in
the whole country does not reach the hundred mark, and despite some cities and
communities carry a real passion and tradition for the sport, many other states
have minimal soccer expression. With this scenario in place, how can you avoid
the ‘pay-to-play’ system? How can you attract and maintain those young soccer
players within a sport that has few roads to take as they grow older?
Firstly, there are four main sports: Basketball, American Football,
Baseball, and Hockey (Which is often overlooked). The biggest problem with the
subpar performance of soccer among these sports is the lack of infrastructure.
There are not enough resources for young people to get the same kind of soccer
education they could in any other part of the world. There are not enough quality
fields and coaches to go around. We need to democratize soccer in this country
to ensure that anyone who wants to play can play on a decent pitch with a coach
who knows a bit about what they are doing. That is much easier said than done,
but it starts with grassroots developments of the sport at the professional and
semi-professional level below MLS
on the pyramid.
Do you believe that if
Christian Pulisic and the US National Team exceed themselves in the next World
Cup, that could lead to a substantial push for soccer growth in the country?
I think it would take a very impressive performance for them to spur
any sort of lasting change. The US Women’s national team has won the world cup
a few times and while that has inspired many young women around the nation to
take up the sport, it has had a much smaller impact in growing the culture of
the sport. The Men’s team would need to go very deep into the tournament in
order to get the attention of many Americans.
How do you see the latest
failure of the US National Team, failing to participate in the Olympics for the
third time in a row?
Consistent failure is frustrating. As I said before frustration is what
inspires a lot of my writing. My first book was inspired partly by the failure
of the US Men’s National Team to qualify for the 2018 World Cup. The Olympics
are definitely not quite as big as the World Cup, but the failure and
mismanagement are an indication of where the sport is going in our nation. We
have not had great leadership over the years in US Soccer. A lot of people want
US Soccer to be similar to other American sports, but this simply will not
work. We gain nothing from trying to monopolize a sport in which we fall far
short of the best leagues.
Are you interested in working
with soccer in the future? Do you have any ideas or follow-up projects related
to soccer development in the US?
I am actually quite interested in coming back to what I have started.
Right now I am focused on the transition from high school to college, but I am
hoping after I have gotten acclimated I will get a chance to come back to
writing. I expect that the most likely way I will get involved in the sport
over the coming years is through more writing either in the form of another book
or as a journalist. I am moving to Chicago in August though, which will give me
a chance to be up close and personal with one of the biggest, most diverse
communities in the US. The city also has the Chicago Fire which is an MLS
side. Hopefully, I am able to use this change of scenery as a way of building a
broader perspective. One thing I would like to do is to hone in more on
specific issues and solutions. ‘American Football’ took a very broad view at
the game.
Entrevista realizada por António Ribeiro
Link original: http://www.socceremportugues.pt/aidan-chapman-ha-pouca-vontade-de-mudar-para-um-sistema-que-acelere-o-progresso-do-futebol
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