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Caçadores partilharam imagens dos animais mortos |
Tem marcado a atualidade
a
montaria na Azambuja que levou à matança de 540 animais às mãos de 16 caçadores.
A notícia foi dada pelo jornal regional
Fundamental,
atento à realidade local, e a partir daí seguiu-se uma espécie de
efeito-dominó. Primeiro foram partidos e associações a recriminar a chacina, a
exigir responsabilidades e a colocar na lama o nome da Quinta da Torre Bela,
depois meteu-se em causa a instalação de uma central fotovoltaica com 775
hectares para aquele local e até o ministro do Ambiente, João Pedro Matos
Fernandes, ordenou a revogação imediata da licença de caça da quinta e admitiu
a revisão da lei da caça.
Um assunto que tem dado pano para
mangas até poderia ter passado despercebido ou até ser do desconhecimento de
qualquer autoridade e órgão de comunicação social se os responsáveis pela
montaria não tivessem partilhado o que consideraram um feito nas redes sociais.
“Conseguimos de novo! 540 animais com 16 caçadores em Portugal, um recorde numa
super montaria”, escreveram os autores.
Ora, se matar 540 animais num
curto espaço de tempo já poderá ser considerado estupidez, anunciá-lo nas redes
sociais levanta apenas algumas dúvidas quanto ao grau de estupidez: a dobrar ou
ao quadrado?
Contudo, este é apenas um exemplo
do que é hoje em dia a ditadura das redes sociais: a necessidade de alimentar páginas,
de mostrar e de querer partilhar algo com o mundo, ainda que por vezes num
estado de euforia que não nos permita diferenciar o que é publicável do que não
é.
Em ano de
Covid-19,
já tenho batido nesta tecla nos espaços de que disponho no Facebook. De um modo
geral, entidades e figuras públicas com capacidades de influenciar as nossas
opiniões e ações não se têm portado bem no combate à pandemia.
A cada fim de semana – ou até a meio
de cada semana, tantos são os jogos que têm de ser reagendados –, o meu
feed no Facebook e no Instagram é
bombardeado por fotografias de equipas fechadas no balneário e sem distanciamento
social nem máscara a festejar vitórias. As da
I
Liga são testadas regularmente, mas dão mau exemplo. As dos restantes
campeonatos, além de darem mau exemplo, correm sérios riscos.
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Festejos do Cova da Piedade antes do surto no plantel |
Um
exemplo flagrante aconteceu com o Cova da Piedade, que no final de outubro ficou
com grande parte do plantel e elementos da estrutura infetados – incluindo o
treinador António Pereira, que passou seis dias nos cuidados intensivos e
esteve entre a vida e a morte –, dias depois de terem celebrado uma vitória
sobre o Leixões sem as medidas de segurança adequadas. Como é óbvio, a ditadura
das redes sociais levou a que houvesse fotografia do momento disponibilizada
publicamente.
O mesmo se aplica a figuras
públicas. Quem deveria retrair-se e fazer algum serviço público, é quem mais
publica fotografias de jantaradas e festas com pessoas com as quais não vivem, levando
a aparentar uma normalidade que ainda tardará a regressar. Basta dar uma olhada
pelo Instagram de uma qualquer
Cristina Ferreira para o
perceber.
Até onde nos leva a ditadura das redes sociais? No limite, até à
morte.
De
acordo com estudo publicado no Journal of
Family Medicine and Primary Care, morreram 259 pessoas a tirar selfies entre outubro de 2011 e novembro
de 2017.
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