Foi a 29 de outubro de 2004 que
Setúbal acordou mais triste e mais pobre, com a notícia da morte de Jacinto
João, vítima de ataque cardíaco. Considerado por muitos como o melhor
jogador a ter vestido a camisola do Vitória, o eterno
JJ tornou-se uma figura imortal no universo verde e branco pelos seus
memoráveis desempenhos ao serviço do clube entre as épocas 1965/66 a 1974/75 e
1976/77 a 1978/79.
“Quem o viu jogar não esquece.
Quem não viu não sabe o que perdeu”. A frase remonta a janeiro de 2004, é da
autoria do jornalista Fernando Gouveia e hoje está inscrita por baixo da
estátua que imortalizou Jacinto
João, por ser a descrição ideal do malogrado
extremo-esquerdo vitoriano.
Por ser a estrela da companhia,
ganhou a alcunha de ‘O cobra’. “Ele era o cobra, no meio de nós, que éramos os
minhocas. É uma frase que vem dos nossos irmãos brasileiros, atribuída a alguém
que se destaca”, lembrou há o antigo companheiro Fernando
Tomé, cuja estreia na equipa principal coincidiu com a do “Jota”, ao
jornal O Setubalense em 2016.
“Ele fazia coisas
impressionantes, mirabolantes, que ficavam na retina. Nos treinos e em alguns
jogos, ele driblava o adversário, parava e voltava a driblar. O mister Fernando
Vaz entrava em paranoia com ele”, recordou a glória
sadina.
Em outubro de 1968, numa
deslocação ao terreno do Linfield (Irlanda do Norte), para a Taça UEFA, a
exibição de Jacinto
João foi tão portentosa que no final os adversários queriam ficar com a
camisola 11 dos sadinos. E naquela altura só havia uma camisola e não se podia
dar.
Cerca de dois anos depois, na
célebre Mini Copa do Mundo, na Venezuela, um jornal daquele país publicou uma
fotografia do jogador e a ela associou-lhe o título “O espetáculo da noite”,
para narrar o desempenho de JJ
numa partida frente ao Santos.
Estátua de Jacinto João na Praça Vitória Futebol Clube, junto ao Bonfim |
Reconhecidamente um dos extremos
mais difíceis de marcar por alguns dos melhores laterais da altura, como Malta
da Silva (Benfica) e Artur Correia (Académica, Benfica e Sporting), ‘o
cobra’ deu
a Taça de Portugal de 1966/67 ao Vitória ao minuto 144, dois anos após ter
sido recrutado ao FC Luanda.
Teve ainda passagens pelos
brasileiros da Portuguesa
dos Desportos e já na reta final da carreira pelo Fafe e pelo Caldas. Pelo
meio, foi internacional português em 10 ocasiões, tendo apontado dois golos, à
Roménia, na estreia, e à Dinamarca.
Depois de pendurar as botas,
continuou ligado aos sadinos. Foi treinador na formação, técnico de
guarda-redes na equipa sénior e, na fase final da sua vida, foi uma espécie de
embaixador dos setubalenses. Quando morreu, tinha apenas 60 anos. Cidadão
Honorário de Setúbal, tem uma rua com o seu nome no concelho, na zona de
Padeiras.
Poema do setubalense João Paixão |
Sem comentários:
Enviar um comentário