As minhas memórias são
enevoadas e remontam a tempos de infância em que a determinada hora
já tinha que estar na cama, mas recordo-me perfeitamente que FC
Porto e Liverpool mediram forças nos quartos de final da então Taça
UEFA em 2000/01. E até me lembrava que os reds tinham vencido
em Anfield por 2-0, só tinha a dúvida se o jogo das Antas, na
primeira mão, tinha ficado empatado a zero ou a um. Foi a zero.
Os portistas vinham a
fazer um trajeto europeu bastante aceitável, depois de terem falhado
a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões, caindo aos pés
dos belgas do Anderlecht na terceira pré-eliminatória. Porém, na
Taça UEFA, foi sempre a seguir em frente, às custas dos jugoslavos
do Partizan, dos polacos do Wisla Cracóvia, dos espanhóis do
Espanyol e dos franceses do Nantes.
Só que nos quartos de
final o adversário era de um nível superior. Não apenas por se
chamar Liverpool, porque os reds também tiveram anos maus e até não
iam à Taça/Liga dos Campeões desde que a ganharam em 1984/85, na
final marcada pela tragédia de Heysel. Mas porque era um Liverpool
forte, que nessa época haveria de ganhar Taça de Inglaterra, Taça
da Liga e... Taça UEFA. Era o Liverpool de Gérard Houllier, de
Michael Owen, Emile Heskey, Robbie Fowler, Steven Gerrard, Dietmar
Hamann e Sami Hyypiä, entre outros. Nessa campanha europeia, tinha
afastado os romenos do Rapid Bucareste, os checos do Slovan Liberec,
os gregos do Olympiacos e os italianos da Roma até medir forças com
o conjunto orientado por Fernando Santos.
A jogar em casa na
primeira mão, o FC Porto exibiu-se a bom nível, criou oportunidades
de golo, mas não concretizou. “O Liverpool saiu das Antas com o
resultado que procurava - um empate a zero -, mas a eliminatória
está a meio e os ingleses vão ter de se abrir no tempo que falta
jogar. O FC Porto poderá jogar aí os seus trunfos, pois o Liverpool
que passou pelo recinto portista só queria mesmo adiar a decisão
para o seu estádio. Vai daí, optou por um sistema super defensivo e
interpretado com um rigor que há uns anos era impossível ver numa
equipa do futebol inglês. O FC Porto pode lamentar o facto de, mais
uma vez, ter ficado a dever a si próprio alguns golos, mas também é
verdade que só no segundo tempo conseguiu espaço para os fazer,
depois de muito ter lutado na primeira parte contra a falta de
espaço. Faltou ainda a capacidade de desequilíbrio de Alenitchev -
independentemente da boa exibição de Chainho - e a criatividade de
Drulovic, que esteve desaparecido do jogo de ontem”, podia ler-se
na edição do dia seguinte do jornal O Jogo.
No segundo jogo, o
ambiente de Anfield pesou e o Liverpool venceu por 2-0. “Uma
vitória confortável e altamente profissional para o Liverpool de
Gerard Houllier”, escreveu o The
Guardian. Danny Murphy inaugurou o marcador aos 32 minutos,
num lance polémico, porque ajeitou a bola com o braço antes de
atirar de forma atabalhoada à baliza, e algo caricato, pela forma
como Ricardo Silva vai contra o poste e não consegue evitar o golo.
O 2-0 apareceu seis minutos, pela cabeça do baixinho Michael Owen,
na resposta a um grande cruzamento de Steven Gerrard a partir da
direita.
“O FC Porto está fora
da Taça UEFA tendo deixado no relvado de Anfield Road a sensação
de que não fez tudo o que devia para seguir em frente. É certo que
o primeiro golo dos ingleses foi irregular e que tudo seria diferente
se Clayton logo a seguir tivesse empatado a partida, mas, ao deixar
no banco alguns dos seus jogadores mais criativos, Fernando Santos
reduziu drasticamente o coeficiente de inteligência da equipa, que
também não ganhou com o acréscimo de músculo incluído. A
aventura terminou, para trás ficaram momentos bonitos, alguns
brilhantes, mas não no jogo de ontem, em que o FC Porto, mesmo a
perder e depois de ter reposto a ordem na equipa, nunca conseguiu
encostar o adversário à parede. E, quando assim é, não há nada
para contestar no resultado. O Liverpool foi sempre forte de mais,
rápido de mais, inteligente de mais para uma equipa que confundiu a
necessidade de controlar as operações com a apatia de deixar correr
o marfim”, escreveu O Jogo no dia seguinte.
Sem comentários:
Enviar um comentário