terça-feira, 16 de abril de 2019

As minhas primeiras memórias de... jogos entre FC Porto e Liverpool

Deco e Gerrard num duelo entre dois génios em ascensão
As minhas memórias são enevoadas e remontam a tempos de infância em que a determinada hora já tinha que estar na cama, mas recordo-me perfeitamente que FC Porto e Liverpool mediram forças nos quartos de final da então Taça UEFA em 2000/01. E até me lembrava que os reds tinham vencido em Anfield por 2-0, só tinha a dúvida se o jogo das Antas, na primeira mão, tinha ficado empatado a zero ou a um. Foi a zero.


Os portistas vinham a fazer um trajeto europeu bastante aceitável, depois de terem falhado a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões, caindo aos pés dos belgas do Anderlecht na terceira pré-eliminatória. Porém, na Taça UEFA, foi sempre a seguir em frente, às custas dos jugoslavos do Partizan, dos polacos do Wisla Cracóvia, dos espanhóis do Espanyol e dos franceses do Nantes.

Só que nos quartos de final o adversário era de um nível superior. Não apenas por se chamar Liverpool, porque os reds também tiveram anos maus e até não iam à Taça/Liga dos Campeões desde que a ganharam em 1984/85, na final marcada pela tragédia de Heysel. Mas porque era um Liverpool forte, que nessa época haveria de ganhar Taça de Inglaterra, Taça da Liga e... Taça UEFA. Era o Liverpool de Gérard Houllier, de Michael Owen, Emile Heskey, Robbie Fowler, Steven Gerrard, Dietmar Hamann e Sami Hyypiä, entre outros. Nessa campanha europeia, tinha afastado os romenos do Rapid Bucareste, os checos do Slovan Liberec, os gregos do Olympiacos e os italianos da Roma até medir forças com o conjunto orientado por Fernando Santos.


A jogar em casa na primeira mão, o FC Porto exibiu-se a bom nível, criou oportunidades de golo, mas não concretizou. “O Liverpool saiu das Antas com o resultado que procurava - um empate a zero -, mas a eliminatória está a meio e os ingleses vão ter de se abrir no tempo que falta jogar. O FC Porto poderá jogar aí os seus trunfos, pois o Liverpool que passou pelo recinto portista só queria mesmo adiar a decisão para o seu estádio. Vai daí, optou por um sistema super defensivo e interpretado com um rigor que há uns anos era impossível ver numa equipa do futebol inglês. O FC Porto pode lamentar o facto de, mais uma vez, ter ficado a dever a si próprio alguns golos, mas também é verdade que só no segundo tempo conseguiu espaço para os fazer, depois de muito ter lutado na primeira parte contra a falta de espaço. Faltou ainda a capacidade de desequilíbrio de Alenitchev - independentemente da boa exibição de Chainho - e a criatividade de Drulovic, que esteve desaparecido do jogo de ontem”, podia ler-se na edição do dia seguinte do jornal O Jogo.


No segundo jogo, o ambiente de Anfield pesou e o Liverpool venceu por 2-0. “Uma vitória confortável e altamente profissional para o Liverpool de Gerard Houllier”, escreveu o The Guardian. Danny Murphy inaugurou o marcador aos 32 minutos, num lance polémico, porque ajeitou a bola com o braço antes de atirar de forma atabalhoada à baliza, e algo caricato, pela forma como Ricardo Silva vai contra o poste e não consegue evitar o golo. O 2-0 apareceu seis minutos, pela cabeça do baixinho Michael Owen, na resposta a um grande cruzamento de Steven Gerrard a partir da direita.


“O FC Porto está fora da Taça UEFA tendo deixado no relvado de Anfield Road a sensação de que não fez tudo o que devia para seguir em frente. É certo que o primeiro golo dos ingleses foi irregular e que tudo seria diferente se Clayton logo a seguir tivesse empatado a partida, mas, ao deixar no banco alguns dos seus jogadores mais criativos, Fernando Santos reduziu drasticamente o coeficiente de inteligência da equipa, que também não ganhou com o acréscimo de músculo incluído. A aventura terminou, para trás ficaram momentos bonitos, alguns brilhantes, mas não no jogo de ontem, em que o FC Porto, mesmo a perder e depois de ter reposto a ordem na equipa, nunca conseguiu encostar o adversário à parede. E, quando assim é, não há nada para contestar no resultado. O Liverpool foi sempre forte de mais, rápido de mais, inteligente de mais para uma equipa que confundiu a necessidade de controlar as operações com a apatia de deixar correr o marfim”, escreveu O Jogo no dia seguinte.















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