A original forma de o FC Porto “martelar” as assistências do Dragão

Assistências do Dragão variam consoante os autores dos golos

Não se trata de algo novo, mas tem passado entre os pingos da chuva a nível mediático. Desde a inauguração do Estádio do Dragão que em quase todos os jogos os últimos dois dígitos do número de espectadores oficial coincidem com o número da camisola do autor do primeiro golo do FC Porto nesse jogo. Na última partida, por exemplo, Brahimi (n.º 8) inaugurou o marcador para os dragões e assistência foi de 42.808 pessoas.

Obviamente que não se trata de uma grande coincidência. É uma brincadeira que tem a conivência da Liga e da UEFA, o que diz bem da credibilidade que tem o número de espectadores divulgado pelos clubes. As entidades, essas, vangloriam-se dessas assistências e enganam os menos perspicazes. A 'martelagem' das assistências é algo que muita gente, incluindo funcionários dos clubes, abordam off the record, mas cujo debate nunca passou para o campo mediático. Se no caso do Dragão a diferença for apenas nos últimos dois dígitos, já não será mau de todo, mas há relatos que apontam a desvios na casa dos milhares em outros palcos.

Justificação reside nos camarotes

De acordo com uma peça publicada pelo Público em setembro de 2010, a homenagem ao autor do primeiro golo acontece desde sempre no novo estádio dos azuis e brancos, quando no primeiro jogo oficial, a 7 de fevereiro de 2004, Maniche (n.º 18) foi o marcador de serviço e a assistência oficial foi de 46.618.

A justificação apurada junto de fonte do clube está relacionada com o facto de apenas as entradas do público em geral serem controladas eletronicamente. Ou seja, a esse número terá que ser somado o dos espetadores que utilizam os camarotes, cujas entradas não são controladas eletronicamente.

 

Jogos do FC Porto e respetivas assistências até há data em 2018/19

Na mesma peça, o Público refere que confrontou a Liga com este método de arredondamento e que “uma fonte oficial respondeu que a instituição ‘dá como bons’ os números recebidos do Dragão, porque são enviados por três entidades: polícia, delegado da Liga e clube”. “‘E são coincidentes’, referiu a mesma fonte.”

Quase dois anos depois, Rui Santos mostrou-se crítico para com esta situação. “Isto significa que, sem escrutínio, pode não haver a respeito das assistências. Não queria acreditar quando me disseram isto, mas fui verificar e é mesmo verdade (…). Faz-se isto porquê? É uma espécie de bruxaria? A Liga tem de olhar para isto. Espero que ao menos só alterem a lotação ao nível das dezenas. Por outro lado, também me dizem que assistências na Luz são inferiores ao que é divulgado pelo clube. Isto não fica bem, para quem quer um futebol transparente”, vincou o comentador.