Um incidente violento num treino,
entre os titulares Bruno Martins Indi e Arjen Robben, em articulação com uma
não autorizada saída noturna de Dirk Kuyt, Nigel De Jong e Wesley Sneijder,
faziam antever uma campanha desoladora no Mundial.
Aliada à rebeldia no seio da
seleção holandesa estava também a inexperiência de grande parte dos seus jogadores,
ilustres desconhecidos no panorama internacional, nomeadamente, no setor
defensivo. Os nomes de maior cartel são os das posições de ataque, com os
conceituados Sneijder, Robben e Van Persie à cabeça.
Mas não era só uma questão de
nome ou de estatuto, a Holanda sempre nos habituou a dar mais garantias a
atacar do que a defender.
Louis Van Gaal juntou dados, e à
boa maneira de um gestor, fez uma autêntica análise SWOT ao que tinha à sua
disposição.
Certamente terá identificado nos
seus homens de ataque os pontos fortes e, nos da retaguarda, os mais fraco.
Praticar um futebol dígono da
escola holandesa, patente desde os tempos do futebol total de Johan Cruijff,
poderia ser uma ameaça. Pressionar alto, com um bloco subindo e estendido pelo
terreno, e praticar um estilo de jogo aberto, dando ênfase à posse de bola, com
constantes trocas posicionais, seria um risco com tais inexperientes
individualidades.
Sacrificar uma ou outra unidade
de cariz ofensivo para garantir equilíbrio defensivo, seria a oportunidade para
o futuro treinador do Manchester United formar uma equipa consistente e que
desse garantias nos quatro momentos do jogo.
O 4x3x3 ficou na gaveta, e
começou a ser testado um 5x3x2 como nunca se viu no país das tulipas.
O ADN da laranja mecânica foi posto de lado, com três centrais a ocuparem
bem os espaços à entrada da sua área, dois laterais que corressem tão ou mais
depressa para trás do que para a frente, uma unidade no meio-campo com vocação
para destruir jogo (De Jong), outro ligeiramente mais ofensivo, mas também acima
de tudo consistente (De Guzmán) e por fim, um ‘10’ (Sneijder) nas costas de
dois atacantes de classe mundial (Robben e Van Persie).
Momento defensivo com um bloco
mais próximo da sua área, com cinco unidades na linha mais recuada, para não
abrir tantos ‘buracos’ como no Euro-2012 e muita pressão a meio-campo, tentando
reduzir os espaços ao adversário.
A posse, circulação e paciência
que marcavam os momentos ofensivos foram substituídos pela verticalidade,
velocidade e pragmatismo.
Contra a Espanha, o (ainda não
consolidado) quinteto defensivo abriu espaços por diversas ocasiões. E em
alguns desses lances, Diego Costa ganhou a grande penalidade que deu o 1-0 e
David Silva esteve perto do 2-0. No entanto, notou-se uma melhoria nesse
aspeto, e salvo as exceções já citadas e pouco mais, o ataque dos campeões
europeus e mundiais foi neutralizado.
No aspeto ofensivo, cinco (ou até
menos) passes bastaram para levar a bola de uma área à outra, e isso foi
particularmente visível nas jogadas do 1-1 e 1-2.
Resultou. Mas se não tivesse
resultado, a equipa permaneceria equilibrada atrás.
A progressão rápida e em poucos
toques funcionou contra uma seleção claramente ofensiva e que defende em bloco
alto, deixando espaço nas costas da linha mais recuada. Esse espaço foi
aproveitado pela rapidez, frieza e eficiência de Van Persie no tento do empate,
que conjugou perfeitamente o timing
da sua desmarcação com do cruzamento de Blind.
A incógnita agora é perceber se a
Holanda irá manter o estilo contra uma formação previsivelmente mais defensiva,
como a Austrália, que é a próxima adversária. Voltará a ter sucesso dessa
forma? Ou voltará a ser a laranja
mecânica que «joga como nunca mas perde como sempre»?
Sem comentários:
Enviar um comentário