Hoje, no Mestalla, Valência e Barcelona não foram além de um empate a duas bolas num desafio muito bem jogado.
Eis a constituição das equipas:
Valência
Esta temporada do Valência só tinha acompanhado o jogo em Alvalade, onde venceram o Sporting por 3-0, demonstrando grande poder de contra-atacar e muita eficácia. À entrada para estar jornada ocupavam a liderança da Liga Espanhola e certamente que iria ser um osso duro de roer para este Barcelona. Nos últimos anos perderam Villa, Joaquin, Mata, David Silva e outros, no entanto, vão arranjando sempre argumentos para continuar a ser a terceira equipa espanhola.
Barcelona
O Barcelona surpreende no «onze inicial» sobretudo com a ausência de David Villa, que fica no banco de suplentes. Iniesta, Alexis e Piqué estavam indisponíveis e era de prever menor capacidade de posse de bola para os catalães.
Estava curioso para ver o posicionamento dos homens do ataque “blaugrana”, já que não tinham um extremo de raiz. Bem, Fabregas aparece como extremo, no entanto, não foi o que Pedro, Villa e Alexis costumam ser, ocupou maioritariamente a zona mais central do terreno, muitas vezes Pedro aparecia muitas vezes na esquerda e era Daniel Alves, que muitas das vezes funcionava como extremo do lado direito.
Messi já se sabe, vinha buscar jogo atrás e funcionava como falso ponta-de-lança como de costume.
Basicamente, o Barcelona em diversos momentos do jogo desdobrou-se várias vezes tacticamente, utilizando preferencialmente um 4-3-3, mas também um 4-4-2 losango, e uma espécie de 3-4-3.
O Valência, na primeira parte, apresentou-se com um 4-4-2 que também se desdobrava em 4-4-1-1, com Canales a jogar um pouco mais recuado que Sodaldo, apoiando-o a ele e também ao meio-campo.
O jogo começou muito intenso, embora não muito bem jogado, várias perdas de bola de parte a parte, devido ao ritmo forte a que se jogava, e embora não de uma forma muito evidente, o Barcelona ía tendo mais posse de bola, e o Valência apostava mais em contra-ataque.
E foi num contra-ataque que equipa de Unai Emery chegou ao 1-0, com um cruzamento algo atabalhoado de Mathieu na esquerda a encontrar o pé de Abidal, que fez auto-golo, estavam decorridos 12 minutos.
No entanto, o Barcelona provou mais uma vez que é a melhor equipa do planeta, ou melhor, que é uma equipa de outro planeta, e pouco tempo depois de o jogo recomeçar, numa fantástica jogada que envolveu Fabregas, Messi e Pedro, este último não perdoou no cara-a-cara com o guarda-redes.
A partir deste momento o jogo tornou-se mais fluído, não a um nível tão intenso como nos primeiros minutos (ainda que se jogasse com bastante intensidade), e viu-se um Valência que em ataque organizado e especialmente em contra-ataque mostrava que queria ganhar o jogo e que não ía jogar encolhido e com medo dos campeões nacionais e europeus.
O Barcelona, pelo estatuto que tem, também foi procurando chegar perto da área contrária, no entanto, com menos argumentos do que o costume. Em termos de posse de bola os catalães estavam em vantagem, no entanto, não “golearam” nesse aspecto como de costume, a falta que Iniesta faz! Keita não tem a mesma capacidade de passe e de posse de bola e isso fez toda a diferença, as coisas não estavam a sair bem aos catalães, e a defesa também ia tremendo.
A meio da primeira parte, os “ché” voltaram a colocar-se em vantagem, numa jogada com construção semelhante à do primeiro golo, mas desta vez foi Canales a conduzir a bola na esquerda e a centrar rasteiro, Abidal volta a estar mal ao não conseguir cortar e o esférico sobra para Pablo Hernandéz que fez o 2-1.
Até ao descanso, nada mudou, as equipas continuaram com a mesma atitude, o Barcelona com mais posse de bola, no entanto, sem ser esmagador, havendo mesmo jogadores a mostrar alguma passividade, tanto que os cerca de 55% de posse com que chegaram ao intervalo devem ser dos piores registos dos últimos anos.
O Valência manteve-se atrevido, mas desta vez, também procurou segurar a vantagem, com todos os seus jogadores a cumprirem muito bem as suas funções tacticamente, fechando bem as linhas de passes e espaços por onde o Barça poderia progredir no terreno e contra-atacando bem, e em mais uma jogada de contra-ataque, pela esquerda, tal como nos dois golos dos valencianos, Mathieu centra rasteiro, Valdés desvia a bola, no entanto esta sobra para Sodaldo que em esforço atira ao lado. Foi a maior perdida do jogo, podia ter dado o 3-1, no entanto, o ponta-de-lança espanhol não quis ficar atrás do compatriota Fernando Torres e quis ser notícia pelos golos que falha clamorosamente, estavam decorridos 41 minutos.
Na segunda parte, as equipas vieram com a mesma atitude com que deixaram o campo após os primeiros 45 minutos. O Barcelona estava pouco agressivo, e isso revelava-se em todos os aspectos: no bom número de passes seguidos bem sucedidos do Valência (a dar a provar aos catalães do seu próprio veneno) sem grande oposição, na falta de volume de jogo ofensivo e até na quantidade de faltas cometidas, que aos 63’, era apenas de uma, e que no final do jogo não deve ter ultrapassado as três.
Guardiola fez entrar Villa para o lugar de Pedro, o que me causou alguma surpresa, porque Pedrito estava a ser o mais irrequieto dos “culé”, embora se tivesse apagado na segunda parte.
Também Adriano entrou para o lugar de Keita.
Neste momento do jogo, o Barça desdobrou-se menos e jogou sempre na fórmula que tanto sucesso tem dado, o 4-3-3, com Fabregas a recuar para o meio-campo, ocupando os espaços antes ocupados por Keita, e na frente, Villa posicionou-se na ala esquerda como de costume, e Adriano na ala direita, uma posição na qual eu penso que o brasileiro não tem grandes rotinas. Com estas alterações, o Barcelona ganha mais profundidade e capacidade ofensiva, fruto de ter jogadores com características mais próprias para as posições, que permitiria à equipa criar mais ocasiões de golo já que havia mais soluções para procurar a baliza de Guaita. Os movimentos em que Villa parte do flanco esquerdo para o meio para rematar são conhecidíssimos, já marcou muitos golos assim, e de Adriano no lado direito, tendo ele no seu pé esquerdo o seu forte, esperava-se o mesmo. Assim havia também mais apoio a Messi, e Daniel Alves deixou de precisar tanto de subir, e recorde-se que os dois golos do Valência ocorreram exactamente no lado do lateral brasileiro.
Mesmo com Messi não muito inspirado, estas alterações abanaram os “blaugrana” que a partir daí foram mais perigosos, foram encostando o Valência ao seu meio-campo ofensivo numa altura em que o resultado parecia estar mais perto do 3-1 do que do 2-2, e dado o valor dos jogadores, não foi de estranhar que o empate surgisse mais cedo ou mais tarde, algo que acabou por acontecer aos 77’, por Fabregas, após um passe de ruptura extraordinário de Lionel Messi.
Daí em diante, foi o Barça que esteve mais perto de vencer, parecendo-se mais com o Barcelona que estamos habituados a ver, e os últimos minutos foram de muita intensidade e dramatismo, no entanto, tarde de mais! O jogo (e que jogo!) terminou empatado.
Analisando as equipas, creio que o Valência tacticamente fez um jogo que roçou a perfeição. Sem grandes craques do ponto de vista técnico, cada jogador cumpriu a sua função, a equipa foi sempre muito coesa, funcionou como uma unidade durante os 90 minutos, e pelo jogo que fez, se alguém tivesse que vencer pela atitude que teve, os “ché” teriam vencido.
Concentrados a defender e rápidos e perigosos a (contra) -atacar, estiveram todos muito bem, parabéns para o treinador que organizou e trabalho esta equipa, e a todos os jogadores pelo mérito que tiveram em cumprir o que lhes foi pedido.
Soldado, que levava 5 golos em três jogos, acabou por ser quem não cumpriu com a tarefa que lhe era incutida: finalizar! Fazer golos! E foram vários os falhanços do ponta-de-lança espanhol, sobretudo quando o jogo estava em 2-1.
Destaco Canales, jovem de 20 anos emprestado pelo Real Madrid que foi o mais irrequieto da equipa, jogando no apoio ao ponta-de-lança, foi o “dínamo” da equipa, um verdadeiro quebra-cabeças para a defesa do Barcelona. Certamente terá um futuro brilhante pela frente, não tenho dúvidas!
O guarda-redes Guaita, mostrou segurança, tanto nas saídas aos pés dos jogadores (destaco uma a Messi quando o jogo ainda estava 2-1), como nos cruzamentos e pela forma como pontapeava a bola em momentos que esta lhe era dirigida. Mostrou qualidades, ainda que no primeiro golo do Barcelona o seu posicionamento não fosse o melhor.
Já o Barcelona, continuo sem compreender como gastaram tanto dinheiro em dois jogadores de características ofensivas e não investiram em nenhum defesa. Desde o arranque da época, que Puyol e Piqué têm falhado jogos devido a lesão, e não houve nunca uma alternativa à altura destes dois, Mascherano é um bom recuperador, no entanto, não pode jogar ali, e muito menos Abidal, que embora hoje fosse defesa-esquerdo (e fez um jogo muito desinspirado, estando mal na fotografia nos dois golos sofridos), foi muitas vezes utilizado como central. A “cantera” continua a produzir jogadores de características ofensivas de grande qualidade, no entanto, a nível defensivo, há poucas alternativas para os titulares, que por curiosidade, são os que mais tempo passaram lesionados durante esta época que ainda vai curta. O meio-campo foi pouco agressivo, não fez pressão alta de uma forma muito intensa e mostrou passividade, possibilitando ao Valência muitas das vezes fazer muitos passes sucessivos, algo bastante raro quando se joga contra o Barça.
A táctica inicial não estava a resultar, não percebo como Guardiola colocou Fabregas como extremo, desdobrando-se para situações em que aparecia como médio-interior-esquerdo, Pedro aparecia como extremo desse lado e Daniel Alves fazia todo o flanco direito, aparecendo como extremo. No entanto, devido às subidas do lateral brasileiro, foram pelo seu lado os contra-ataques rápidos que originaram os golos dos valencianos.
As alterações na segunda parte fizeram todo o sentido, e a equipa ressentiu-se disso com um maior volume de jogo ofensivo.
Messi esteve muito desinspirado, no entanto, é um jogador tão bom que quando as coisas lhe correm menos bem faz duas assistências, impressionante!
O melhor em campo, na minha opinião, foi Fabregas que esteve nos dois golos, jogou sempre muito bem, raramente falhou passes, e esteve bem na construção e em guiar a bola para os homens da frente, finalizando ainda sem qualquer tipo de problemas, quando surgiu isolado perante o Guaita.
Com este empate, o Valência mantém-se na liderança (ainda que à condição, porque pode ser ultrapassado pelo Bétis amanhã) e o Barcelona desperdiçou uma oportunidade de luxo para se distanciar do Real Madrid e ao mesmo tempo ultrapassar a equipa de Unai Emery na tabela classificativa.