“Era pegar numa metralhadora e fuzilá-los a todos”. Recorde a despromoção do Atlético Madrid em 2000
Atlético Madrid desceu à II Liga Espanhola em 2000
O céu desabou sobre Madrid em
maio de 2000 e o Estádio Vicente Calderón ficou com um ambiente tão ou mais
pesado do que um funeral: o Atlético
Madrid, que quatro anos se tinha sagrado campeão espanhol e participado na Liga
dos Campeões, foi despromovido de forma chocante à II Liga.
E não estamos a falar
propriamente de um clube me desinvestimento naquela altura. Havia jogadores que
foram importantes no futebol espanhol e mundial, como o guarda-redes Molina, o
central Gamarra, o lateral esquerdo Capdevila, os médios Baraja, Valerón e
Solari e o avançado Jimmy
Floyd Hasselbaink. O ponta
de lança neerlandês até foi, imagine-se, o segundo melhor marcador da Liga
Espanhola, mas os seus 24 golos de nada valeram aos colchoneros,
19.º classificados nessa época e despromovidos juntamente com Betis
e Sevilha. Após uma derrota em casa, os
jornalistas perguntaram ao avançado internacional espanhol e uma das figuras do Atleti,
Kiko, se esta era a face mais negra do futebol. A pergunta fazia sentido,
porque o atacante havia feito parte da equipa campeã em 1995-96, jogado na Champions
e participado em competições importantes como Euro 1996 e o Mundial 1998, mas a
resposta foi descabida: “A face mais negra do futebol é a de Jimmy
Hasselbaink.” Hasselbaink,
apesar de se ter tornado um ídolo no Atlético
Madrid, haveria de falhar um penálti decisivo em Oviedo na antepenúltima
jornada do campeonato, precisamente no jogo que condenou os rojiblancos
à despromoção – um empate a dois golos no qual Paulo
Bento marcou para a equipa da casa. No final, o antigo
atacante de Campomaiorense e Boavista deitou-se no relvado a chorar.
Quem não era muito dado a
sentimentalismos era o presidente colchonero,
Jesús
Gil y Gil, que não foi brando nas palavras: “Era pegar numa metralhadora e
fuzilá-los a todos.” Os jogadores foram recebidos com
insultos em Madrid e, uma semana depois, a própria afición manifestou-se
num jogo em casa diante do Sevilha.
Foram arremessadas cadeiras e os jogadores foram chamados de “mercenários”.
Para a história, nessa época,
ficou também uma conferência de imprensa memorável de Gil
y Gil, que tentou falar inglês na resposta a uma pergunta de um jornalista sobre
racismo. Só depois de um trabalho difícil para isolar o som e fazer leitura
labial é que foi possível decifrar o que o presidente havia afirmado: “Eu vejo
que tu és negro e se tu dizes negro, negro, negro, negro todos os dias é muito
mau. A cor não é um problema para o homem.”
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