quinta-feira, 31 de outubro de 2024

“Era pegar numa metralhadora e fuzilá-los a todos”. Recorde a despromoção do Atlético Madrid em 2000

Atlético Madrid desceu à II Liga Espanhola em 2000
O céu desabou sobre Madrid em maio de 2000 e o Estádio Vicente Calderón ficou com um ambiente tão ou mais pesado do que um funeral: o Atlético Madrid, que quatro anos se tinha sagrado campeão espanhol e participado na Liga dos Campeões, foi despromovido de forma chocante à II Liga.
 
E não estamos a falar propriamente de um clube me desinvestimento naquela altura. Havia jogadores que foram importantes no futebol espanhol e mundial, como o guarda-redes Molina, o central Gamarra, o lateral esquerdo Capdevila, os médios Baraja, Valerón e Solari e o avançado Jimmy Floyd Hasselbaink. O ponta de lança neerlandês até foi, imagine-se, o segundo melhor marcador da Liga Espanhola, mas os seus 24 golos de nada valeram aos colchoneros, 19.º classificados nessa época e despromovidos juntamente com Betis e Sevilha.
 
Após uma derrota em casa, os jornalistas perguntaram ao avançado internacional espanhol e uma das figuras do Atleti, Kiko, se esta era a face mais negra do futebol. A pergunta fazia sentido, porque o atacante havia feito parte da equipa campeã em 1995-96, jogado na Champions e participado em competições importantes como Euro 1996 e o Mundial 1998, mas a resposta foi descabida: “A face mais negra do futebol é a de Jimmy Hasselbaink.”
 
Hasselbaink, apesar de se ter tornado um ídolo no Atlético Madrid, haveria de falhar um penálti decisivo em Oviedo na antepenúltima jornada do campeonato, precisamente no jogo que condenou os rojiblancos à despromoção – um empate a dois golos no qual Paulo Bento marcou para a equipa da casa. No final, o antigo atacante de Campomaiorense e Boavista deitou-se no relvado a chorar.
 
 
Quem não era muito dado a sentimentalismos era o presidente colchonero, Jesús Gil y Gil, que não foi brando nas palavras: “Era pegar numa metralhadora e fuzilá-los a todos.”
 
Os jogadores foram recebidos com insultos em Madrid e, uma semana depois, a própria afición manifestou-se num jogo em casa diante do Sevilha. Foram arremessadas cadeiras e os jogadores foram chamados de “mercenários”.
 
 
Para a história, nessa época, ficou também uma conferência de imprensa memorável de Gil y Gil, que tentou falar inglês na resposta a uma pergunta de um jornalista sobre racismo. Só depois de um trabalho difícil para isolar o som e fazer leitura labial é que foi possível decifrar o que o presidente havia afirmado: “Eu vejo que tu és negro e se tu dizes negro, negro, negro, negro todos os dias é muito mau. A cor não é um problema para o homem.”
 






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