Foi necessário esperar pela
sétima edição do Campeonato da Europa para ver Portugal.
A seleção
portuguesa foi mesmo a grande surpresa da prova, tendo atingido as
meias-finais após ficar à frente da República
Federal da Alemanha na fase de grupos, mas acabou por ser a anfitriã França
de Platini
a levar o caneco. Les
bleus imitaram Espanha
(1964) e Itália (1968),
que também se sagraram campeãs europeias a jogar em casa.
À semelhança do que havia
acontecido com Itália em 1980,
a seleção
gaulesa ficou isenta de disputar fase de qualificação devido ao facto de
ser anfitriã do torneio, que se disputou em sete cidades (Paris, Lens, Nantes,
Marselha, Saint Étienne, Estrasburgo e Lyon). A França,
orientada por Michel Hidalgo e que até então nunca havia vencido um grande torneio,
venceu todos os jogos da competição, a começar pelo encontro de abertura, no
Parc des Princes diante da Dinamarca.
Bastou aos gauleses
um golo solitário de Platini
(78’). Perto do apito final, o capitão francês
Manuel Amoros foi expulso por agressão a Jesper Olsen e imediatamente suspenso
por três jogos pela UEFA, pelo que só voltaria a jogar no torneio se a sua seleção
chegasse à final (o que aconteceu).
Depois de uma vitória pela margem
mínima na estreia diante de uma Dinamarca
que já não marcava presença numa fase final há duas décadas, França
deu uma demonstração de força na segunda jornada, ao golear a vice-campeã
europeia Bélgica
por 5-0 em Nantes. Platini
voltou a estar em evidência, desta feita com um hat trick (4, 74 g.p. e
89 minutos), tendo Giresse
(33’) e Luis Fernández (43’) completado a goleada.
Já com o apuramento para as
meias-finais garantido, França
fez o pleno de vitórias na fase de grupos com um triunfo por 3-2 sobre a
Jugoslávia em Saint-Étienne na terceira jornada. Platini
voltou a apontar um hat trick (59, 62 e 77 minutos), antes de Sestic ter
adiantado os jugoslavos pouco depois da meia hora (32’) e de Stojkovic ter
reduziu a desvantagem já nos minutos finais (84’), na conversão de uma grande
penalidade.
Por ter sido a primeira
classificada no Grupo 1, a França
cruzou-se nas meias-finais com o segundo classificado do Grupo 2: a seleção
portuguesa de Bento, Carlos Manuel, Sousa, Jordão e Chalana e que era
orientada por uma comissão técnica liderada por Fernando Cabrita. No Estádio
Velódrome, em Marselha, les
bleus e equipa
das quinas protagonizaram um dos melhores e mais emotivos encontros de
sempre da história dos Campeonatos da Europa. Os gauleses
adiantaram-se a meio da primeira parte, graças a um livre direto apontado pelo
improvável Domergue, lateral esquerdo que rendeu o castigado Amoros no onze e
que até ao início do Euro 1984 não tinha qualquer internacionalização pela seleção
A francesa. “Platini
estava lesionado na perna, pela entrada do Frasco, e disse-me ‘marca tu’. E lá
fui…”, contou depois do jogo. Jordão empatou a cerca de um
quarto de hora do final da segunda parte (74’), de cabeça, e atirou a decisão
para prolongamento, etapa na qual chegou ao bis (98’). Porém, nos derradeiros
minutos Domergue também bisou (115’) e o inevitável Platini
deu a vitória a França
(119’). “Sinceramente, já não pensava
ganhar o jogo no prolongamento. Portugal
é extremamente difícil, jogou 120 minutos espetaculares sob o ponto de vista
tático e também merecia a final”, admitiu o selecionador francês, Michel Hidalgo.
“Que grande guarda-redes que é Bento! Quando acabou o jogo, não tive dúvidas em
dizer-lhe isso. Há muito tempo que não via ninguém a defender tudo”, comentou Platini.
“Não sei ainda como vai ser a final, mas nem quero saber, e não é por falta de
respeito à França
e à Espanha ou Dinamarca,
mas esta foi a verdadeira final deste Europeu. Duas equipas de ataque”, frisou
o avançado português Fernando Gomes, também em declarações após o encontro. “Com este tempo de distância,
pode-se falar em mais demérito nosso. A França
percebeu que tinha de jogar tudo nos últimos minutos. Conseguiu e, depois, no
prolongamento, estarmos a defender muito dentro da nossa área contra jogadores
de técnica elevadíssima, a qualquer momento poderiam fazer a diferença e isso
aconteceu. Já na área, Platini
conseguiu sentar um ou dois jogadores e fazer golo”, lembrou Diamantino em 2016.
“Foi uma pena, depois de estarmos ali percebemos que poderíamos ir à final e
teríamos ganhado. Foi uma grande geração do futebol português, de grande
qualidade individual. Só assim foi possível ultrapassar tantos problemas e
chegar à meia-final”, concluiu.
Na outra meia-final, a Espanha
bateu a Dinamarca
no desempate por penáltis, em Lyon, e agendou encontro com a vizinha França
no Parque dos Príncipes, em Paris. Em bola corrida, Platini
realizou a exibição mais apagada no Europeu, fruto da marcação apertada do
central espanhol José Antonio Camacho, mas aproveitou um livre direto para
colocar os franceses em vantagem, ao minuto 56. À beira do apito final, e uma
altura em que les
bleus jogavam com apenas dez unidades devido à expulsão de Le Roux,
Bellone fez o 2-0 final num lance de contra-ataque (90’). Espanha,
porém, queixou-se da não marcação de dois penáltis na área francesa, o que até
motivou fortes protestos junto à Embaixada de França em Madrid nos dias que se
seguiram à final.
Os campeões
Guarda-redes: Joël Bats
(Auxerre), Philippe Bergeroo (Toulouse) e Albert Rust (Sochaux) Defesas: Manuel Amoros e Yvon
Le Roux (ambos Mónaco),
Jean-François Domergue (Toulouse), Maxime Bossis (Nantes) e Patrick Battiston e
Thierry Tusseau (ambos Bordéus) Médios: Luis Fernandez (Paris
Saint-Germain), Jean-Marc Ferreri (Auxerre), Daniel Bravo, Bruno Bellone e Bernard
Genghini (todos Mónaco),
Michel
Platini (Juventus), Alain
Giresse e Jean Tigana (ambos Bordéus) e Didier Six (Mulhouse) Avançados: Dominique
Rocheteau (Paris
Saint-Germain) e Bernard Lacombe (Bordéus) Selecionador: Michel
Hidalgo
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