quarta-feira, 12 de junho de 2024

O percurso dos campeões europeus: França em 1984

França conquistou título europeu em casa em 1984
Foi necessário esperar pela sétima edição do Campeonato da Europa para ver Portugal. A seleção portuguesa foi mesmo a grande surpresa da prova, tendo atingido as meias-finais após ficar à frente da República Federal da Alemanha na fase de grupos, mas acabou por ser a anfitriã França de Platini a levar o caneco. Les bleus imitaram Espanha (1964) e Itália (1968), que também se sagraram campeãs europeias a jogar em casa.
 
À semelhança do que havia acontecido com Itália em 1980, a seleção gaulesa ficou isenta de disputar fase de qualificação devido ao facto de ser anfitriã do torneio, que se disputou em sete cidades (Paris, Lens, Nantes, Marselha, Saint Étienne, Estrasburgo e Lyon).
 
A França, orientada por Michel Hidalgo e que até então nunca havia vencido um grande torneio, venceu todos os jogos da competição, a começar pelo encontro de abertura, no Parc des Princes diante da Dinamarca. Bastou aos gauleses um golo solitário de Platini (78’). Perto do apito final, o capitão francês Manuel Amoros foi expulso por agressão a Jesper Olsen e imediatamente suspenso por três jogos pela UEFA, pelo que só voltaria a jogar no torneio se a sua seleção chegasse à final (o que aconteceu).
 
 
 
Depois de uma vitória pela margem mínima na estreia diante de uma Dinamarca que já não marcava presença numa fase final há duas décadas, França deu uma demonstração de força na segunda jornada, ao golear a vice-campeã europeia Bélgica por 5-0 em Nantes. Platini voltou a estar em evidência, desta feita com um hat trick (4, 74 g.p. e 89 minutos), tendo Giresse (33’) e Luis Fernández (43’) completado a goleada.
 
 
 
Já com o apuramento para as meias-finais garantido, França fez o pleno de vitórias na fase de grupos com um triunfo por 3-2 sobre a Jugoslávia em Saint-Étienne na terceira jornada. Platini voltou a apontar um hat trick (59, 62 e 77 minutos), antes de Sestic ter adiantado os jugoslavos pouco depois da meia hora (32’) e de Stojkovic ter reduziu a desvantagem já nos minutos finais (84’), na conversão de uma grande penalidade.
 
 
 
Por ter sido a primeira classificada no Grupo 1, a França cruzou-se nas meias-finais com o segundo classificado do Grupo 2: a seleção portuguesa de Bento, Carlos Manuel, Sousa, Jordão e Chalana e que era orientada por uma comissão técnica liderada por Fernando Cabrita. No Estádio Velódrome, em Marselha, les bleus e equipa das quinas protagonizaram um dos melhores e mais emotivos encontros de sempre da história dos Campeonatos da Europa.
 
Os gauleses adiantaram-se a meio da primeira parte, graças a um livre direto apontado pelo improvável Domergue, lateral esquerdo que rendeu o castigado Amoros no onze e que até ao início do Euro 1984 não tinha qualquer internacionalização pela seleção A francesa. “Platini estava lesionado na perna, pela entrada do Frasco, e disse-me ‘marca tu’. E lá fui…”, contou depois do jogo.
 
Jordão empatou a cerca de um quarto de hora do final da segunda parte (74’), de cabeça, e atirou a decisão para prolongamento, etapa na qual chegou ao bis (98’). Porém, nos derradeiros minutos Domergue também bisou (115’) e o inevitável Platini deu a vitória a França (119’).
 
“Sinceramente, já não pensava ganhar o jogo no prolongamento. Portugal é extremamente difícil, jogou 120 minutos espetaculares sob o ponto de vista tático e também merecia a final”, admitiu o selecionador francês, Michel Hidalgo. “Que grande guarda-redes que é Bento! Quando acabou o jogo, não tive dúvidas em dizer-lhe isso. Há muito tempo que não via ninguém a defender tudo”, comentou Platini. “Não sei ainda como vai ser a final, mas nem quero saber, e não é por falta de respeito à França e à Espanha ou Dinamarca, mas esta foi a verdadeira final deste Europeu. Duas equipas de ataque”, frisou o avançado português Fernando Gomes, também em declarações após o encontro.
 
“Com este tempo de distância, pode-se falar em mais demérito nosso. A França percebeu que tinha de jogar tudo nos últimos minutos. Conseguiu e, depois, no prolongamento, estarmos a defender muito dentro da nossa área contra jogadores de técnica elevadíssima, a qualquer momento poderiam fazer a diferença e isso aconteceu. Já na área, Platini conseguiu sentar um ou dois jogadores e fazer golo”, lembrou Diamantino em 2016. “Foi uma pena, depois de estarmos ali percebemos que poderíamos ir à final e teríamos ganhado. Foi uma grande geração do futebol português, de grande qualidade individual. Só assim foi possível ultrapassar tantos problemas e chegar à meia-final”, concluiu.
 
 
 
Na outra meia-final, a Espanha bateu a Dinamarca no desempate por penáltis, em Lyon, e agendou encontro com a vizinha França no Parque dos Príncipes, em Paris. Em bola corrida, Platini realizou a exibição mais apagada no Europeu, fruto da marcação apertada do central espanhol José Antonio Camacho, mas aproveitou um livre direto para colocar os franceses em vantagem, ao minuto 56. À beira do apito final, e uma altura em que les bleus jogavam com apenas dez unidades devido à expulsão de Le Roux, Bellone fez o 2-0 final num lance de contra-ataque (90’). Espanha, porém, queixou-se da não marcação de dois penáltis na área francesa, o que até motivou fortes protestos junto à Embaixada de França em Madrid nos dias que se seguiram à final.
 
 
 

Os campeões

 
Guarda-redes: Joël Bats (Auxerre), Philippe Bergeroo (Toulouse) e Albert Rust (Sochaux)
 
Defesas: Manuel Amoros e Yvon Le Roux (ambos Mónaco), Jean-François Domergue (Toulouse), Maxime Bossis (Nantes) e Patrick Battiston e Thierry Tusseau (ambos Bordéus)
 
Médios: Luis Fernandez (Paris Saint-Germain), Jean-Marc Ferreri (Auxerre), Daniel Bravo, Bruno Bellone e Bernard Genghini (todos Mónaco), Michel Platini (Juventus), Alain Giresse e Jean Tigana (ambos Bordéus) e Didier Six (Mulhouse)
 
Avançados: Dominique Rocheteau (Paris Saint-Germain) e Bernard Lacombe (Bordéus)
 
Selecionador: Michel Hidalgo 




 


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