quarta-feira, 24 de abril de 2024

Xavi está a roer os ossos. Outros irão comer a carne

Xavi está no comando técnico do Barça desde novembro de 2021
Escrevo este artigo numa altura completamente insuspeita, menos de uma semana depois de o Barcelona ter sido eliminado em casa da Liga dos Campeões após ter estado com dois golos de vantagem sobre o Paris Saint-Germain e de ter perdido o jogo do título espanhol no Santiago Bernabéu.
 
Mesmo tendo contrato até junho de 2025, o treinador Xavi Hernández há muito que anunciou que vai sair no final desta época, que ficará marcada pela ausência de troféus e por um futebol pouco atrativo e de certa forma até antiquado para o ADN do clube, que é também o ADN futebolístico de Xavi. Para aquilo que o Barça é, foi uma temporada para esquecer. Mas para o estado em que o Barça está, o antigo médio até está a fazer um trabalho muito interessante.
 
Ao contrário de outros grandes clubes europeus, que tentam contratar os melhores jogadores possíveis dentro dos perfis de que necessitam para cada posição, os catalães limitam-se a recrutar os melhores jogadores livres ou disponíveis para empréstimos, como foram os casos de João Cancelo e João Félix. Depois logo se vê se encaixam ou não. E mesmo que se identifique um perfil que faz falta, tem de se recorrer a uma opção sem tanta qualidade, como foi o caso de Oriol Romeu.
 
Além de ter sentido dificuldades em contratar, o Barça tem sentido dificuldades em inscrever jogadores, devido às regras financeiras da Liga Espanhola. Marcos Alonso e Iñaki Peña chegaram a falhar o arranque do campeonato nesta época por essa razão, Andreas Christensen e Franck Kessié estiveram quase a viver o mesmo um ano antes, enquanto Ilkay Gündogan, Iñigo Martínez, Robert Lewandowski e Raphinha vivenciaram um hiato de algumas semanas entre as suas contratações e inscrições, ainda que durante a pré-temporada.
 
Perante este cenário, Xavi vai recorrendo à criatividade para construir a sua equipa, suportada por um 4x3x3 híbrido, que muitas vezes se desdobra em 3x4x3 ou 3x5x2 porque quem dá largura é o lateral esquerdo João Cancelo e o extremo direito Lamine Yamal, enquanto o lateral direito Jules Koundé se junta aos centrais atrás.
 
Perante a incapacidade de Oriol Romeu em corresponder às exigências, o central dinamarquês Andreas Christensen tem sido muitas vezes utilizado como médio defensivo. O próprio Koundé chegou à Catalunha como central e não como lateral direito.
 
E depois há a muito corajosa e meritória aposta nos jovens: Lamine Yamal e Pau Cubarsí são, aos 16 e 17 anos, uns justos titulares; Fermín López (20 anos) está a ser cada vez mais utilizado; Gavi (19 anos) e Álex Baldé (20 anos) tinham sido lançados por Ronald Koeman, mas só foram alvo de aposta mais vincada com Xavi e já foram a um Mundial; e Héctor Fort (17 anos), Marc Casadó (20 anos), Aleix Garrido (20 anos), Unai Hernández (19 anos), Marc Guiu (18 anos) e Ángel Alarcón (19 anos) também já receberam minutos.
 
Estas apostas serão fundamentais para o futuro do Barça, mas é Xavi que tem estado a fazê-las, espremendo toda a matéria-prima que tem disponível. A confirmar-se a sua saída, serão outros a colher os frutos que o antigo médio andou a semear.



 


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