quarta-feira, 24 de abril de 2024

Há 50 anos o Sporting jogava na Alemanha. E por isso perdeu a Revolução dos Cravos

Sporting jogou em Magdeburgo a 24 de abril de 1974
Quando a Revolução dos Cravos colocou um ponto final a quase meio século de ditadura, a 25 de Abril de 1974, a equipa do Sporting não estava em Portugal. Os leões jogaram na véspera na República Democrática Alemã (RDA), diante do Magdeburgo, na segunda-mão das meias-finais da Taça das Taças, tendo sido derrotados por 2-1 depois de um empate a um golo a um em Alvalade. E depois ficaram a pernoitar em solo alemão oriental.
 
Com viagem de regresso marcada para o dia 25, a comitiva leonina acordou às 4:30 da manhã, pouco mais de quatro horas depois de “Grândola, Vila Morena” de José Afonso ter passado na Rádio Renascença e anunciado dessa forma aos militares que a Revolução estava em marcha.
 
 
A equipa do Sporting soube do golpe de Estado ainda na RDA, através de funcionários do posto fronteiriço à entrada do enclave de Berlim Ocidental, pertencente à República Federal Alemã: “Houve uma revolução em Lisboa e está a alastrar por todo o país.”
 
Seguiu-se um voo de Berlim para Frankfurt, onde a comitiva do Sporting constatou que todos os voos para Lisboa tinham sido cancelados, o que obrigou a uma mudança de planos: voo para Madrid e viagem de autocarro para Badajoz. Pelo meio, começaram a surgir rumores de que havia milhares de mortos e feridos. “Quando vínhamos de viagem, na autoestrada que ligava as duas Alemanhas, Oriental e Ocidental, mandaram parar o autocarro. O falecido Sr. João Rocha comunicou que havia um golpe de estado em Portugal, ficámos todos apreensivos, só quando chegámos a Frankfurt é que nos disseram, mais ou menos, o que se passava”, recordou o antigo médio Fernando Tomé ao jornal O Jogo.
 
Em Badajoz, a fronteira estava fechada e a comitiva leonina teve de esperar cerca de 40 horas na cidade raiana de Espanha, numa altura em que os hotéis na localidade se encontravam lotados, situação que levou alguns jogadores a dormir no autocarro. O impasse só se resolveu quando o presidente dos verde e brancos, João Rocha, conseguiu chegar ao contacto com oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), nomeadamente o general Spínola, que permitiram à comitiva viajar até Lisboa já na manhã de dia 26.
 
“Foi doloroso porque estávamos sem notícias das nossas famílias, que era o mais importante. Não havia qualquer contacto com o país. Eu fiquei em Setúbal, porque só havia autoestrada até ao Casal do Marco, apanhei uma boleia de um amigo e perguntei: Então houve muitos mortos? Ele, prontamente, respondeu ‘não pá, os tropas andam com as espingardas e cravos nos canos da mesma’. Aí eu descansei mais um pouco, depois foi chegar a casa e ver a minha família, foi doloroso”, lembrou Tomé.
 
Poucas semanas depois, o Sporting conquistaria o campeonato nacional e a Taça de Portugal.



 




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