Há 50 anos o Sporting jogava na Alemanha. E por isso perdeu a Revolução dos Cravos
Sporting jogou em Magdeburgo a 24 de abril de 1974
Quando a Revolução dos Cravos
colocou um ponto final a quase meio século de ditadura, a 25 de Abril de 1974,
a equipa do Sporting
não estava em Portugal. Os leões
jogaram na véspera na República Democrática Alemã (RDA), diante do Magdeburgo,
na segunda-mão das meias-finais da Taça das Taças, tendo sido derrotados por
2-1 depois de um empate a um golo a um em Alvalade.
E depois ficaram a pernoitar em solo alemão oriental.
Com viagem de regresso marcada
para o dia 25, a comitiva leonina
acordou às 4:30 da manhã, pouco mais de quatro horas depois de “Grândola, Vila
Morena” de José Afonso ter passado na Rádio Renascença e anunciado
dessa forma aos militares que a Revolução estava em marcha.
A equipa do Sporting
soube do golpe de Estado ainda na RDA, através de funcionários do posto
fronteiriço à entrada do enclave de Berlim Ocidental, pertencente à República
Federal Alemã: “Houve uma revolução em Lisboa e está a alastrar por todo o país.” Seguiu-se um voo de Berlim para
Frankfurt, onde a comitiva do Sporting
constatou que todos os voos para Lisboa tinham sido cancelados, o que obrigou a
uma mudança de planos: voo para Madrid e viagem de autocarro para Badajoz. Pelo
meio, começaram a surgir rumores de que havia milhares de mortos e feridos. “Quando
vínhamos de viagem, na autoestrada que ligava as duas Alemanhas, Oriental e
Ocidental, mandaram parar o autocarro. O falecido Sr. João Rocha comunicou que
havia um golpe de estado em Portugal, ficámos todos apreensivos, só quando
chegámos a Frankfurt é que nos disseram, mais ou menos, o que se passava”,
recordou o antigo médio Fernando
Tomé ao jornal O Jogo. Em Badajoz, a fronteira estava
fechada e a comitiva leonina teve de esperar cerca de 40 horas na cidade raiana
de Espanha, numa altura em que os hotéis na localidade se encontravam lotados,
situação que levou alguns jogadores a dormir no autocarro. O impasse só se
resolveu quando o presidente dos verde
e brancos, João Rocha, conseguiu chegar ao contacto com oficiais do
Movimento das Forças Armadas (MFA), nomeadamente o general Spínola, que
permitiram à comitiva viajar até Lisboa já na manhã de dia 26. “Foi doloroso porque estávamos
sem notícias das nossas famílias, que era o mais importante. Não havia qualquer
contacto com o país. Eu fiquei em Setúbal, porque só havia autoestrada até ao
Casal do Marco, apanhei uma boleia de um amigo e perguntei: Então houve muitos
mortos? Ele, prontamente, respondeu ‘não pá, os tropas andam com as espingardas
e cravos nos canos da mesma’. Aí eu descansei mais um pouco, depois foi chegar
a casa e ver a minha família, foi doloroso”, lembrou Tomé. Poucas semanas depois, o Sporting
conquistaria o campeonato nacional e a Taça
de Portugal.
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