O momento em que Deco, com muita classe, faz o 2-0 |
A
minha primeira memória de um jogo entre FC Porto e Mónaco foi,
precisamente, do primeiro confronto entre as duas equipas, a
improvável final da Liga dos Campeões em 2003-04. 26
de maio de 2004, um dia inesquecível. Embora não fosse portista,
nesse dia estava pelo FC Porto. Apesar
da vitória, foi um dia doloroso para mim, uma vez que um torcicolo
me levou a assistir à segunda parte do encontro no hospital.
Os
dragões, orientados por José Mourinho, pareciam inacreditavelmente
ter na final um dos adversários menos reputados do seu percurso até
lá, pois
tinham superado um grupo em que estavam incluídos Real Madrid (dos
galácticos), Marselha (finalista da Taça UEFA nessa época) e
Partizan e
eliminado Manchester United (campeão inglês em título, com
Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy e companhia), Lyon (durante o seu
período hegemónico) e
Deportivo da Corunha (uma das principais equipas espanholas da
altura).
O
Mónaco, comandado por Didier Deschamps, até era uma equipa incapaz
de ganhar o título francês desde 1999-00 e não tinha propriamente
um jogador que fosse titular numa grande seleção mundial –
Fernando
Morientes era o principal nome na altura, Patrice Evra e Ludovic
Giuly viriam também a tornar-se futebolistas reputados –, mas
o que mais assustava na formação do Principado era o seu percurso
na Champions: primeiro num grupo com Deportivo, PSV e AEK e besta
negra de Real Madrid e Chelsea nos quartos e nas meias-finais,
respetivamente.
No
entanto, e apesar de alguns sustos provocados pelos monegascos na
primeira parte, o FC Porto impôs o espírito conquistador que já na
época anterior o tinha levado à conquista da Taça UEFA. No
final do primeiro tempo, na sequência de um cruzamento de Paulo
Ferreira e de um ressalto, a jovem promessa brasileira Carlos Alberto
colocou os portistas em vantagem (39 minutos) em Gelsenkirchen, na
Alemanha.
Depois
de meia hora sem alterações no resultado, a entrada de Dmitri
Alenichev revelou-se decisiva para que os azuis e brancos dilatassem
à vantagem. Aos
71’, o médio russo serviu Deco, que através de um remate colocado
fez o 2-0. Quatro
minutos depois, Alenichev aproveitou um ressalto num defesa no
seguimento de um passe de trivela de Derlei para fuzilar o
guarda-redes italiano Flavio Roma e sentenciar a vitória portista.
“Dezassete
anos depois, o futebol português volta a estar no trono da Europa
graças ao FC Porto. Uma aventura gloriosa que teve a final mais
feliz. Melhor
só mesmo de encomenda. Não foi o jogo empolgante da final de há um
ano em Sevilha, mas o título que estava em jogo foi um peso difícil
de suportar. O
FC Porto soube, no entanto, estar à altura da responsabilidade e nos
momentos em que a sorte do jogo lhe sorriu não lhe virou as costas.
E sobretudo soube ser grato. O
jogo foi quase sempre muito tático e só na reta final,
especialmente depois de Deco arrumar a questão, é que se abriu e se
tornou mais excitante. Até
lá, houve demasiado rigor, alguns nervos e sobretudo a consciência
de que todos os detalhes eram importantes e que um pequeno erro podia
ser fundamental para fazer a diferença”, resumiu o Record.
“Portugal
tem razões para estar feliz. Sorri, chora, pula de satisfação.
O
Futebol Clube do Porto é campeão europeu pela segunda vez na sua
história e a festa todos a merecem 17 anos menos um dia depois da
valsa de Viena, o
dragão impôs um triunfo por números que não deixam dúvidas sobre
quem foi, afinal, a equipa mais forte no velho continente este ano.
Esqueçam-se
as amarguras da vida, os problemas em casa, no trabalho ou com o
Governo. As lamentações de um país pequeno. Somos grandes e não
temos de o esconder. Pequenos
na dimensão, mas inultrapassáveis no feito e na atitude. Foi de
escudo ao peito e com apreciável atenção a todos os pormenores,
que a equipa partiu para um jogo que fica gravado a letras de ouro no
álbum de recordações do futebol. O
exemplo está dado, agora resta-nos continuar a acreditar no talento
nacional e esperar festejar mais um grande título nos primeiros dias
de julho. Mas
esta vitória é, em primeiro lugar, de todos os portistas.
Começando
por José Mourinho, o elemento mais importante e toda uma cadeia de
sucesso, que passa obviamente pelo talento de certos jogadores, como
Carlos Alberto, Deco e Alenichev, prodigiosos criativos que jamais
sairão da galeria de ilustres do clube, pelo
facto de terem sido eles a marcar os três golos da vitória. O
segredo está aí, e na coesão de um grupo forte, extremamente bem
preparado, não só taticamente, mas também mental e fisicamente.
Tudo
bateu certo e teria mesmo de bater, pois seria difícil enganar um
destino traçado há cerca de dois anos e meio, quando pela porta do
departamento de futebol do Estádio das Antas caminhou um senhor
chamado Mourinho. O
ciclo terá terminado, é certo, mas haverá melhor maneira de dizer
adeus senão com a Taça dos Campeões Europeus nas mãos?”,
escreveu o Maisfutebol.
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