Vitoriano Flávio Meireles tenta roubar a bola ao cónego Manoel |
7 de março de 2004. 24.ª jornada da
I Liga. Moreira de Cónegos. O Vitória
de Guimarães, que na época anterior tinha concluído o campeonato na quarta
posição, estava em zona de despromoção - o treinador era Jorge
Jesus, que quatro meses antes tinha sucedido a Augusto Inácio, que estava
há quase dois anos no cargo. Já o
Moreirense de Manuel Machado estava a fazer um campeonato tranquilo, a poucos
pontos de assegurar a permanência quando faltavam ainda dez jornadas para
disputar.
Ainda assim, era um dérbi e o nome
mais forte continuava a ser o do Vitória
de Guimarães. O jogo já prometia ser imprevisível, mas quem iria prever que
o primeiro golo do encontro seria apontado por um guarda-redes, de baliza a
baliza?
Foi isso que aconteceu aos 25
minutos, quando o guardião vitoriano
Palatsi tentou colocar a bola na frente e acabou por introduzi-la na baliza contrária.
“O lance tem o seu quê de insólito, pois o golo vitoriano
foi obtido por Palatsi na recolocação de uma bola em jogo, que bateu à entrada
da área, perante a passividade dos centrais e posteriormente do guarda-redes
contrário, mal colocado, permitindo que ela lhe passasse por cima. Sérgio
Lomba, que surgiu nas suas costas com possibilidades de anular o lance, tentou
atirar a bola pela linha de fundo, mas apenas confirmou o tento”, descreveu o
jornal O Jogo.
“Posso tentar mais cem mil vezes,
que não vou conseguir marcar. Há muita sorte para mim e azar para o
guarda-redes do Moreirense. Quem precisa de sorte é o Vitória
e por isso foi pena que não tenha dado para ganhar. Estou contente, mas nada de
excecional”, confessou o guarda-redes francês, solidário para com o homólogo
João Ricardo.
“Demos um benefício de uma dádiva,
um golo caricato, próximo do ridículo. Um golo destes vê-se de dez em dez anos”,
comentou o treinador do Moreirense, Manuel Machado.
Se não fosse este golo,
provavelmente não me lembraria de qual foi o primeiro dérbi de Guimarães de que
tenho memória. Recordo-me de ter visto a síntese do jogo no Jornal da Tarde da RTP 1 no dia seguinte e de ter ficado estupefacto. Era a primeira
vez – e uma das poucas, ainda hoje – que vi algo assim.
Porém, o golpe de sorte de
Palatsi só valeu mesmo um golo, tal como o cabeceamento de Armando, que aos 70
minutos deu o empate aos homens da casa.
“Golão de Palatsi não chegou.
Casa cheia e excelente ambiente a rodear um confronto no qual o Guimarães
chegou à vantagem sem nada fazer por isso, para depois não a conseguir segurar
frente a um Moreirense que nunca deixou de acreditar, justificando a igualdade”,
resumiu O Jogo no dia seguinte.
Com um ponto para cada lado, as
duas equipas vimaranenses acabaram por assegurar a permanência no final da
temporada.
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