Defesa central de 34 anos, passou
pelo Girabola
e pela II Liga portuguesa e esteve às portas da seleção
angolana, jogou na última época com a camisola do Comércio
e Indústria, nos
distritais da AF Setúbal.
Em entrevista, Rui Maurício faz
um balanço da época, recorda a formação no Pescadores ao lado de Varela e Marco
Airosa e passa em revista uma carreira que contou com passagens por clubes como
Cova
da Piedade, Recreativo da Caála, Recreativo do Libolo, Académica do Lobito,
Pinhalnovense
e Oriental
Dragon.
ROMILSON TEIXEIRA – Como correu a época em termos individuais e
coletivos no Comércio
e Indústria?
RUI MAURÍCIO - A época a nível
pessoal no Comércio
e Indústria começou muito bem para mim, infelizmente fiz uma luxação no
ombro. o que me fez ter que me afastar do projeto.
No início do campeonato o Comércio
e Indústria deu a entender ser um sério candidato à subida. Era mesmo assim
ou nunca assumiram esse objetivo?
O objetivo era a permanência, mas
depois de entrares naquele balneário, impossível seria não ambicionar mais.
É fácil para um jogador que andou pela II Liga (ao serviço do Atlético)
e pelo Girabola
jogar nos campeonatos distritais?
Fácil não é por incrível que
pareça. Mas penso que temos a capacidade de nos adaptar conforme as
adversidades.
Como descreve o Comércio
e Indústria e como é a massa adepta?
Um clube histórico que tem
pessoas muito boas a fazerem um trabalho árduo para o clube estar no sítio onde
merece estar, pois o clube tem adeptos fantásticos que merecem um pouco mais.
Foi no Comércio
e Indústria que Bruno
Lage e José
Mourinho se iniciaram como treinadores. Fala-se muito deles no clube?
Sinceramente, não. Penso que
todos estão focados em dar boa formação aos jovens e tentar fazer um trabalho
bom a nível sénior.
Quanto ao futuro, já está definido onde vai jogar na próxima época?
Tenho algumas coisas em cima da
mesa, vamos ver o que vem aí.
Formado no “clube do coração” ao lado de Varela e Marco Airosa
Rui Maurício com a camisola do Pescadores |
Começou a carreira no Pescadores da Costa da Caparica, onde foi
companheiro de Marco Airosa. Esperava que ele chegasse à I
Liga portuguesa e à seleção
angolana?
Marco Airosa tinha um potencial
fantástico, acreditava que podia chegar onde chegou. Uma seleção
são os melhores no momento e a carreira dele não fala, grita, que devia ter
esse privilégio.
Nessa altura também jogou com Silvestre Varela. Já era um craque nessa
altura? Esperava que ele tivesse feito a carreira que está a fazer?
O Varela, "Vestre" para
quem o conhece, já tinha muito talento mesmo em miúdo. Teve disciplina,
organizou as coisas e conseguiu ter a mente fria nos momentos mais complicados
da carreira, daí ainda estar no mais alto nível no futebol português.
Que significado tem para si o Pescadores?
Difícil de dizer. Foi onde o
sonho começou e onde muitas pessoas nos ensinaram a arte de jogar e aprender
futebol. Agradeço a todas as pessoas pois é o clube do meu coração.
Seguiu-se o Cova
da Piedade, clube pelo qual viveu a primeira experiência nos campeonatos
nacionais entre 2006 e 2008. Como foram esses dois anos?
Foram realmente dois anos muito
bons. Até então era tudo novo, mas comecei a sentir que iria conseguir ir um
pouco mais além.
No Cova
da Piedade partilhou o balneário com Luís Leal e João Meira, dois jogadores
que chegaram à I
Liga portuguesa. Já imaginava isso naquela altura?
Acreditava. O Luís Leal e o João Meira
eram jovens com os meus sonhos que eu. Tivemos o sr. Admar Hipólito, que
acreditou. Ele foi nosso empresário e fez-nos ter mais visibilidade. Depois foi
trabalhar bem e tudo foi uma questão de tempo.
Que papel teve o Cova
da Piedade na sua carreira?
Foi o primeiro clube depois de
deixar o clube de coração, sempre fui muito bem-recebido até hoje. Também sou Piedade.
Nessa altura pensava que o Cova
da Piedade poderia chegar a uma liga profissional?
Sinceramente, não, mas fico feliz
pelo trabalho que desenvolveram no clube.
“Fui para Angola a pensar em jogar pela seleção”
Rui Maurício atuou na II Liga ao serviço do Atlético em 2015-16 |
Fui para Angola
com esse pensamento. Assim que cheguei sabia que poderia ser visto. É
impossível um jogador não ter essa vontade, a seleção
é o ponto alto na carreira de qualquer jogador. Realmente fui convocado
infelizmente não pode ir pois o sistema falhou. Fizeram o documento de uma
forma errada e depois quando fui chamado não pude ir para não tornar público
que existiam algumas inscrições malfeitas.
Jogou quatro temporadas ao serviço do Recreativo da Caála. Que
recordações guarda desta experiência e como era a sua relação com Horácio
Mosquito presidente do clube?
Huambo é a minha terra e o
Recreativo da Caála o meu clube. Tenho recordações fantásticas, fiz das
melhores épocas da minha vida. Não fui muito próximo de Horácio Mosquito, mas
foi um presidente top, cumpriu sempre
comigo.
Quais foram os atacantes do Girabola
mais difíceis de enfrentar?
Foram vários em fases diferentes.
O campeonato
angolano tem jogadores muito velozes, é sempre complicado marcar um atleta
com essas características.
“Fui prejudicado por um jogo de interesses no Recreativo do Libolo”
Representou ainda o Recreativo do Libolo em 2013 e a Académica do
Lobito em 2016. O que faltou para se afirmar num Libolo que era candidato ao
título? Como descreve a Académica e a belíssima cidade do Lobito?
No Recreativo do Libolo houve foi
um jogo de interesses que em nada tinha haver comigo, infelizmente fui o
prejudicado. Lobito é uma terra muito bonita, só vendo. Na Académica tive o
azar de ter uma lesão e fui para Portugal para receber um melhor
acompanhamento.
O nível do Girabola
é comparável com que patamar competitivo em Portugal?
O Girabola
é um campeonato difícil. É complicado comparar pois muitos jogadores que
jogaram na I
Liga em Portugal não conseguiram afirmar-se lá.
Foi orientado pelo treinador Jorge
Prazeres em três clubes (Pinhalnovense,
Sintrense
e Comércio
e Indústria) nestes últimos anos da sua carreira. Que papel importância tem
ele para si?
Jorge
Prazeres é um treinador especial para mim. Tornou-se amigo, pai e
companheiro, é uma pessoa ímpar. E ele sabe que se tiver uma batalha pode contar
com este soldado.
“Oriental Dragon tem verbas que muitos clubes não possuem”
Rui Maurício no Pinhalnovense após deixar a Académica do Lobito |
Em 2018-19 jogou pelo Oriental
Dragon e conhece o projeto por dentro. Acha que o clube vai conseguir
afirmar-se no Campeonato de Portugal?
Oriental
Dragon tem verbas que muitos clubes não possuem. Pode contratar jogadores
para ter uma base mais sólida, mas não é fácil.
Quem é Rui Maurício fora dos relvados? Como se define?
Fora de campo sou uma pessoa
normal e amigo do meu amigo. O resto tem de ser outra pessoa a falar.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua Infância?
Nasci em Portugal e cresci na
Costa da Caparica. A infância não foi fácil. Crescer num bairro é complicado,
mas tive uma base que se chama educação e nisso a minha mãe não falhou. Criou
um filho do qual se pode orgulhar de não ter seguido o caminho mais fácil.
“Ser futebolista profissional é o melhor trabalho do mundo”
Sempre sonho em ser jogador de futebol ou tinha outros sonhos em mente?
Sim, sempre sonhei ser jogador
profissional e comecei a jogar futebol com cinco anos. Quando vais crescendo
percebes que é o melhor trabalho do mundo: fazes o que amas e és remunerado.
Qual é o seu maior sonho enquanto jogador de futebol?
Que as pessoas olhem mais para a
arte que é o futebol e não para os lucros que cada um quer ganhar.
Quais são as suas maiores referências?
A minha referência é Deus, ele é
que me dá tempo para continuar a escrever, neste livro fantástico chamado vida.
Como se define enquanto jogador? Com que grande central acha que é
parecido em termos de caraterísticas?
Como jogador tenho muita raça e
dentro de campo só penso em ter uma tarde feliz e que quem estou a marcar tem de
ter uma tarde triste. Os jogadores são únicos, tenho características minhas
apenas.
Quem acha que é a maior referência do futebol
angolano?
Eu não cresci em Angola,
não conheço todos, mas sei que Pedro Mantorras levou o nome de Angola
além-fronteiras. Se é a maior referência não sei.
Como está a viver esta fase de pandemia? O que tem sido mais difícil
para si?
Não é fácil, mas espero que todos
tenham cuidado. Para mim acima de tudo saber que infelizmente muita gente
depende de sair para ganhar algum e neste momento é complicado.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
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