domingo, 5 de janeiro de 2020

Dos rótulos das garrafas de vinho à Capital do Móvel após escalas no Benfica e na Polónia

João Amaral emprestado ao Paços de Ferreira até final da época
O percurso de João Amaral no futebol desafia toda a lógica: 1) Natural de Vila Nova de Gaia, não passou nem pela formação de um grandes nem pela de um dos principais clubes da Área Metropolitana do Porto; 2) Quando subiu a sénior, passou sete temporadas nos escalões inferiores, tendo estado emprestado pelo Pedras Rubras há apenas três anos; 3) Nem sempre o futebol foi a sua única atividade, tendo trabalhado enquanto jogava; 4) Chegou à I Liga à beira dos 25 anos e não precisou de muitos jogos para se tornar numa das principais figuras do Vitória de Setúbal; 5) Emigrou aos 27 anos para os polacos do Lech Poznan após duas semanas de treinos no Benfica; 6) Regressa agora a Portugal pela porta de uma equipa que está com dificuldades para sair da zona de despromoção [Paços de Ferreira] depois de ano e meio de bom nível na Polónia.


Acompanhei de bem perto os primeiros tempos de João Amaral no emblema sadino, no verão de 2016. Um perfeito desconhecido, foi talvez o menos sonante dos reforços de um defeso em que o conjunto setubalense pescou Edinho, Bruno Varela, Ryan Gauld, André Geraldes, Fábio Cardoso, Vasco Fernandes, Zé Manuel ou Mikel. No dia em que assinou contrato, disse que se tratava do “concretizar de um sonho” e “o culminar de um longo percurso desportivo”. Mal sabia que ainda havia mais montanha para escalar.

Irreverência temperada com disciplina

As boas indicações começaram logo a ser dadas na pré-época. O extremo não deu qualquer sinal de timidez apesar de estar pela primeira vez num clube de I Liga e longe do norte do país. Bem pelo contrário. Desde o primeiro dia que mostrou a sua irreverência dentro de campo, sem medo de ir para cima dos adversários ou de uma ação mais arrojada. Uma irreverência, porém, sempre temperada com disciplina e entrega. Arrisco mesmo dizer que terá conquistado os exigentes adeptos sadinos tanto pelo talento como pelo brio profissional. Criou boa impressão no primeiro jogo da fase preparatória, frente ao… Benfica, obrigando Fejsa a recorrer várias vezes à falta para o travar.




A excelente exibição reforçou a empatia com os adeptos e aguçou o apetite dos jornalistas sobre a origem de um jogador que, um par de meses antes, era um autêntico desconhecido. Aí, revelou um pouco mais do seu trajeto pessoal e profissional. “Estudei, mas entre os meus 17 e 18 anos tive de deixar de estudar durante um ano, porque precisava de ajudar a minha mãe. Trabalhei numa fábrica de rótulos de garrafas de vinho, em Vila Nova de Gaia. Depois, voltei a estudar e conclui o 12.º ano. Tenho um curso profissional de informática. Posteriormente, deixei de estudar mais uma vez, mas para me focar no futebol. Sentia que esses anos eram fulcrais para mim. Não se consegue tirar o máximo aproveitamento ao trabalhar de dia e treinar à noite, porque se vem cansado e não há a mesma vontade”, afirmou, no dia seguinte.

O ídolo Ronaldo e o sonho Seleção Nacional

Nessa conversa, confessou que até chegou “um pouco tímido” ao Vitória, mas que achava “que o futebol nada tem a ver com isso”. Admitiu ter “pena” de não ter chegado “mais cedo” à I Liga, mas que “nunca é tarde para concretizar um sonho”, dividindo os louros com a família e a namorada. A namorada, Ana, é mesmo a culpada pelo número 24 que utilizou em Setúbal (e no Pedras Rubras), pois foi num dia 24 [de junho de 2014] que iniciaram a relação. Também nessa manhã de final de agosto, revelou igualmente que guardava recortes de jornais, tanto de jogos que lhe corriam bem como daqueles em que falhou “lances incríveis”. Questionado sobre ídolos, mencionou Cristiano Ronaldo, e sobre sonhos, falou em “chegar à Seleção Nacional”. “Jogar pelo meu país seria, com certeza, o maior orgulho da minha vida”, atirou. Contudo, no início da resposta, soltou um “Quem não gostaria de jogar no Real Madrid?”.


O bom momento de João Amaral não se esgotou em poucos meses. Durou duas temporadas. Na primeira, em que atuou mais como extremo direito, apontou cinco golos em 37 jogos, e venceu o prémio de melhor jogador do Vitória em 2016/17 para o jornal O Setubalense – precisamente atribuído por mim. Na segunda, apareceu muitas vezes como segundo avançado e elevou o registo para nove remates certeiros, em 41 partidas. A forma como serpenteia no último terço do terreno em velocidade e com a bola controlada, a capacidade de decidir bem na zona de definição e a generosidade no capítulo defensivo foram as principais qualidades que mostrou.

Esses atributos não foram suficientes para vingar no Benfica. Acabou dispensado após duas semanas de trabalho na pré-época do verão de 2018 às ordens de Rui Vitória e foi prontamente transferido para os polacos do Lech Poznan. 47 jogos e 13 golos depois, está de volta a Portugal pela porta de uma equipa que está com bastantes dificuldades em sair da zona de despromoção, o Paços de Ferreira de Pepa. Uma transferência que desportivamente talvez não estivesse nos programas do extremo, que aos 28 anos está prestes a ser pai e quer estar junto da família quando a filha nascer.








1 comentário:

  1. este foi um dos 4 mil que se enganaram a assinar com o benfica e ainda hoje o meu vitoria de setubal nao sabe dos 3 milhoes . e a seguir sera o cadiz e mais uma vez o vitoria de setubal quem ganhou foi o clube mae e nao aquele que o foi buscar de volta a portugal . e esta semana jogadores grandes nesse enorme clube do sado estao a voltar .

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