A primeira edição do campeonato português que segui de fio a pavio foi a de 2000/01. O Sporting partia como
campeão, mas desde a 6.ª jornada que o FC Porto se isolou na liderança e
aparentava ser o principal candidato ao título, que seria o sexto em sete anos.
O Boavista, por sua vez, não passava de um candidato às competições europeias,
chegando a estar a oito pontos da liderança após a 12.ª ronda.
Porém, o mês de dezembro foi de
volte-face na I Liga. O FC Porto perdeu em Braga e em Leiria, o Sporting foi
derrotado na Luz e empatou em Paços de Ferreira, o Benfica perdeu em Alverca e
empatou em casa com o Gil Vicente, enquanto o Boavista aproveitou para bater
Alverca, Gil Vicente, Salgueiros e Desp. Aves.
Posto isto, à entrada para a 17.ª
e última jornada da primeira volta, já num ano de 2001 em que o Porto era Capital
Europeia da Cultura, os axadrezados recebiam os dragões no Bessa, podendo saltar
para a liderança em caso de triunfo. E foi precisamente isso que aconteceu
nessa noite de 13 de janeiro, num jogo que me recordo de assistir num café na aldeia de onde os meus pais são naturais.
O único golo do encontro foi
apontado por Martelinho, aos 32 minutos. “Whelliton recua no terreno e lança
Duda para as costas de Paulinho. O brasileiro é mais rápido e pica a bola sobre
Ovchinnikov, que lhe saíra ao encontro. O toque sai um pouco ao lado, mas
Martelinho entra pela direita de empurra a bola para o 1-0”, descreveu o jornal
O Jogo.
“Num dia histórico para a cidade
do Porto, o Boavista justificou o assumir do comando do campeonato. No Bessa,
num jogo emotivo e cheio, disputado por homens de barba rija, a equipa da casa
bateu o FC Porto e roubou-lhe a liderança da prova, estando, agora, em condições
invejáveis para pensar em mais altos voos do que a anunciada candidatura a um
lugar europeu. Venceu com inteira justiça uma equipa portista que se pode
queixar de um anormal ataque de infelicidade, pois já não podia contar com Pena
e Drulovic, antes do jogo ficou sem Nélson, com gripe, e no decorrer da partida
perdeu Chainho e Jorge Costa, ambos por lesão, e Deco foi expulso
infantilmente, deixando a equipa a jogar com dez durante mais de meia hora. O
jogo foi intenso, rijo quanto baste, dividido a espaços, mas os axadrezados
falaram sempre mais alto. Houve um golo, poderia ter havido mais, e de ambos os
lados, mas a verdade é que estivemos perante duas equipas que sabem tudo sobre
a matéria e defender é hoje uma arte apreciada. Um carrinho é mais importante
do que um toque de calcanhar e todos o sabem, pelo menos os que pisaram ontem o
relvado do Bessa. O Boavista correu mais nos dois sentidos, ensaiou um pressing
feroz, roubou espaço ao jogo. E deu-se bem com isso”, podia ler-se na crónica
do diário desportivo na edição impressa do dia seguinte.
O inédito título do Boavista
haveria de ser confirmado na penúltima jornada, ainda antes do dérbi das Antas.
Já como campeão, a formação orientada por Jaime Pacheco foi goleada pela de
Fernando Santos por 0-4, com hat trick de
Deco e um golo de Ricardo Silva.
E para o caro leitor, qual foi o primeiro dérbi entre Boavista e FC Porto de que tem memória? E quais foram os melhores e mais marcantes dérbis de sempre entre os dois clubes?
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