Benfiquista Fernando Meira conduz a bola vigiado por avense Nilton |
Não assisti à
transmissão do jogo, tampouco no estádio, mas lembro-me de ter
acontecido e do resultado. Estávamos em janeiro de 2001, na última
jornada da primeira volta, e o Benfica começava a ganhar fôlego
após a chegada de Toni para o comando técnico, depois de um
arranque de temporada conturbado, marcado pela saída de Vale e
Azevedo e a entrada de Manuel Vilarinho para a presidência do clube
e pela dança de cadeiras no banco da equipa, depois de Jupp Heynckes
e Mourinho
terem deixado o cargo de treinador. O Desportivo das Aves de Carlos
Carvalhal, naquela que era a sua segunda presença na I Liga, levava
sete jogos sem vencer no campeonato e ocupava a zona de despromoção.
A passar o fim de semana
no Alentejo,
só me recordo de as águias terem goleado na Luz por 5-1, horas
antes de um Boavista-FC
Porto que assisti através da televisão. Na altura, os avançados
João Tomás e Pierre van Hooijdonk passavam por um grande momento de
forma. O português apenas marcou meio golo (já lá vamos...), mas o
holandês apontou um hat trick, faturando pelo terceiro jogo
consecutivo.
Foi precisamente o antigo
jogador de Roosendaal, NAC Breda, Celtic
e Nottingham Forest a inaugurar o marcador, aos 15 minutos, através
de um cabeceamento certeiro na sequência de um cruzamento de
Carlitos. À meia hora, João Tomás fez o 2-0 a meias com o defesa
adversário Nené. E ainda antes do intervalo, Carlitos fez o
terceiro na recarga a um remate de Escalona defendido por Carlitos.
No segundo tempo Van
Hooijdonk fez o 4-0, de cabeça, na resposta a um livre de Chano
(51'); Quinzinho reduziu para os avenses, também de cabeça, depois
de um livre de Abílio (63'); e o holandês completou o hat trick
e sentenciou o resultado a partir da marca de grande penalidade.
“Voando sobre um ninho
de passarinhos. E aí está a primeira vitória de Toni no Estádio
da Luz. Nada de extraordinário, nada de transcendente. Apenas o
corolário lógico de uma atuação com alguns pontos altos e de uma
resposta do Aves que se caracterizou sempre por uma gritante
fragilidade, atenuada, aqui e acolá, com uma ou outra aventura no
reino da águia, muito por culpa de uma certa passividade da defesa
encarnada. A águia, nem sempre bem, soube voar com desenvoltura, nos
momentos fatais, sobre aquele alegre chilrear de uns passarinhos que,
bem vistas as coisas, nunca colocaram a vitória do Benfica em risco.
Atuando com três centrais, dois na marcação à dupla de
pontas-de-lança constituída por Van Hooijdonk e João Tomás, a
equipa de Carlos Carvalhal não aguentou aquele voo pelas alturas
mais do que 15 minutos, curiosamente numa recuperação do avançado
holandês, logo concluída pelo protagonista com um belo golpe de
cabeça”, resumiu o jornal O Jogo.
As duas equipas voltaram
a defrontar-se na última jornada do campeonato, desta vez na Vila
das Aves. A formação nortenha já tinha visto confirmada a descida
de divisão, enquanto o Benfica sabia que não iria além do quinto
lugar, a pior classificação de sempre do clube e a primeira vez
desde 1940-41 que as águias falhavam o pódio.
Ainda assim, as duas
equipas presentearam o público com oito golos, quatro para cada
lado. O Desp. Aves não só marcou primeiro como aos 23 minutos já
vencia por 3-0, com golos do avançado
camaronês Douala (3' e 23') e do médio Abílio (19'). Van
Hooijdonk (30') e João Tomás (35') reduziram ainda antes do
intervalo e o holandês empatou já no segundo tempo (64'). Porém,
ainda haveria tempo para mais: o central Marco Aleixo marcou para os
avenses (77'), o avançado brasileiro André para os benfiquistas
(89'), mas não evitou a queda para o 6.º lugar no final do campeonato.
“Foi, como já se
referenciou, uma tarde penosa para ambas as equipas, passe o sentido
espirituoso da frase. Para as águias e para o Aves, a época não
correu bem e este último jogo foi disso reflexo. Marcaram–se oito
golos, é verdade, facto sempre digno de relevo, mais a mais quando
são repartidos. Mas foi menos a vontade de os conseguir e mais a
incapacidade de os evitar que contribuíram para o avolumar do
marcador. Tanta ineficácia defensiva teria obrigatoriamente de ser
castigada e para quem, antes do início do jogo, sentisse
dificuldades em perceber como Aves e Benfica chegaram... onde
chegaram, este derradeiro prélio foi esclarecedor”, sintetizou o
jornal O Jogo.
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