Depois de duas temporadas a
acompanhar os desempenhos do Vitória de bem perto, é de uma forma mais
distanciada – mas longe de ser desligada ou desinteressada – que vou seguindo o
início de época da equipa de Setúbal.
A construção do plantel
pareceu-me equilibrada ao nível das diversas posições e bem planeada, com uma
tentativa de manter grande parte dos jogadores do curso anterior, um núcleo
duro ao qual foi acrescentado o valor de atletas oriundos dos grandes
(emprestados ou não) e de talentos detetados nas divisões secundárias – desta vez,
talvez a colheita no Campeonato de Portugal não tenha sido tão feliz, mas ainda
é cedo para fazer balanços.
Os resultados das primeiras
jornadas, acredito, não traduziram o que se passou em campo, também por culpa
de algumas más decisões das equipas de arbitragens. A expulsão de Vasco Fernandes
frente ao Moreirense e o penálti de Nuno Pinto sobre Bas Dost deixaram-me
reticente, o golo anulado diante do Desp. Chaves pareceu-me rebuscado e a não
marcação de uma grande penalidade no Restelo a não validação do golo em Paços
de Ferreira, agora que há videoárbitro, tiveram contornos de escândalo. Tudo
incidentes que, por não envolverem os três grandes do futebol português, não
tiveram repercussão mediática.
Ainda assim, as exibições menos
conseguidas diante de Boavista e Rio Ave, aliadas ao que já se tinha visto
noutros encontros, tem deixado os vitorianos preocupados. E não é para menos. O
plantel aparenta ter qualidade, o treinador é o mesmo, mas o futebol praticado
deu uma volta de 180 graus.
A identidade vitoriana de que
Couceiro tanto falou na época passada, do jogar bem e do proporcionar um bom espetáculo
aos adeptos, terá ficado na gaveta em 2017/18. O que tenho visto é uma equipa
com grandes dificuldades em fazer uma jogada com cabeça, tronco e membros, de
trás para a frente, com a intervenção dos vários setores, por dentro e por
fora. Dá a ideia de que, em certos jogos e em determinados momentos de outros,
os sadinos simplesmente abdicam de jogar, algo que terá muito a ver com a nova
composição do meio-campo.
Na temporada passada, o grande
motor da equipa foi Costinha. Então adaptado a uma zona mais central,
impressionou a forma como se deu bem com as posições de terceiro (inicialmente)
e segundo médio (a partir de janeiro). Influente na construção, mostrando estar
confortável de frente para o jogo, e fundamental no equilíbrio defensivo,
exibindo grande disciplina tática e empenho máximo na disputa de cada duelo,
apesar da baixa estatura (1,70 m). Embora tenha sido uma autêntica revelação no
miolo, agora tem estado a ser desviado para os corredores laterais, onde não
consegue ter o mesmo protagonismo.
O 4x3x3 tem dado lugar ao 4x4x2,
e os dois médios mais centrais nas últimas partidas têm sido Nenê Bonilha e André Pedrosa. O brasileiro ainda tem acrescentado qualquer coisa, embora não dê a
qualidade que Costinha dava à zona nevrálgica, mas creio que o jovem médio
português ainda não está preparado para este nível competitivo. Que é
talentoso, não tenho dúvidas, e sei que José Couceiro – “ponho as minhas mãos
no fogo em como vai dar jogador”, ouvi da boca dele – e o presidente Fernando Oliveira muito menos as têm. Nutro especial simpatia por ele, por ser
barreirense tal como eu, mas o que vejo é ainda um centrocampista soft nos duelos e pouco assertivo, algo
que se nota sobretudo quando o cansaço começa a apertar. Por vezes, dá a ideia
de que não sabe o que está a fazer em campo, e isso é preocupante. Podstawski
também não me encheu o olho, mas então e José Semedo? Não estará no momento de
ser lançado?
No entanto, nem tudo está mal na
nau sadina. João Amaral ficou no plantel e continua a ser o elemento mais
desequilibrador no ataque, por onde vai serpenteando na posição de segundo
avançado. Bem de perto, vai apoiando Gonçalo Paciência, que roubou o lugar a
Edinho – não dá para que os dois coexistam, mister? - e vai sendo a principal
referência ofensiva e uma agradável surpresa, com a mobilidade e profundidade
como características mais salientes.
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