Polícia de profissão, o central
luso-angolano Samuel está de regresso à I
Distrital da AF Setúbal para impor a sua autoridade no eixo defensivo do Palmelense.
Aos 34 anos, vai voltar a um clube que já tinha representado em 2013-14, mas
que agora “está em crescendo”. Esse crescimento até poderá passar pela subida
de divisão, ainda que outros tenham investido mais para concretizar esse objetivo.
Em entrevista, o também jogador
de futebol de praia passa em revista uma carreira totalmente passada nos
campeonatos distritais, embora tenha atuado em clubes candidatos à promoção aos
nacionais e recebido uma abordagem da Federação
Angolana no primeiro ano de sénior.
ROMILSON TEIXEIRA - Recentemente foi anunciado que o Samuel é reforço
do Palmelense para 2020-21. O que o fez escolher o regresso a Palmela para prosseguir a carreira?
SAMUEL - É verdade, esta época
volto a vestir as cores do Palmelense
Futebol Clube, um regresso a uma casa que me diz muito, e já era um desejo
antigo de ambas as partes.
Já tinha passado pelo Palmelense em 2013-14, O que espera encontrar de diferente?
O clube está em crescendo e
espero ajudar nesse crescimento. Quando cá joguei não havia futebol feminino,
por exemplo, e hoje é uma realidade do clube e uma aposta. Sei que hoje o clube
tem uma estrutura forte e com condições de trabalho melhores.
Com que objetivos individuais e coletivos vai entrar para a nova
temporada?
Os meus objetivos para a época
que se avizinha é dar o melhor de mim, dentro e fora do campo, e sentir-me útil
e jogar o máximo que puder.
Poderemos ter um Palmelense candidato à subida?
Haver ambição num clube de
futebol é sempre bom, faz com que se sonhe e se tente alcançar objetivos. Se
iremos lutar por uma subida? Não sabemos, mas podem esperar por equipa que vai
lutar todos os jogos. Se existiu um Leicester (equipa que admiro), também
podemos sonhar com os pés assentes no chão.
“Duarte Machado foi um dos motivos para regressar a Palmela”
Samuel com a camisola do Palmelense em 2013-14 |
O que conhece do treinador Duarte Machado? Como jogador andou pelas
ligas profissionais...
O que conheço é do meu agrado e
foi um dos motivos para o meu regresso a Palmela.
A experiência dele a nível profissional vai ser essencial para ajudar quem
comanda, porque acho que quem tem uma experiência ligada ao futebol está mais
próximo de ser bom treinador.
Olhando para o histórico e para a composição dos plantéis, quem são os
favoritos ao título distrital da AF Setúbal na próxima época? E até onde poderá o Palmelense chegar?
O Barreirense
e União
de Santiago provavelmente são os dois clubes que investiram nesse sentido.
Mas os campeões só se fazem em campo. Por isso vamos aguardar.
Em Palmela vai reencontrar Paulo Letras, um jogador que foi seu companheiro de
equipa em épocas recentes no Comércio e Indústria, Estrela Vendas Novas e Coruchense. É
coincidência ou existe algum tipo de pacto entre os dois?
Vamos voltar a jogar juntos, a
separação foi curta, quatro meses talvez, após a minha saída de Coruche. Temos
um pacto de nome amizade e por norma gostamos de ter os melhores a jogar
connosco e assim vamos fazendo um com o outro [risos].
“Covid-19? Se a solução for não competir, temos de aceitar”
Acredita que o contexto de covid-19 poderá afetar a realização dos campeonatos distritais? Crê que é
viável retomar uma atividade não profissional como o futebol profissional numa
altura em que há milhares de casos ativos no país e perante a ameaça de uma
segunda onda no outono e inverno?
O covid-19
vai afetar tudo por este mundo fora, é verdade. Tem de se arranjar uma solução
que não meta em causa a saúde de todos. Se a solução for não competir para
garantir um regresso, sem problemas, temos de aceitar.
Voltando atrás, a temporada passada foi dividida por Coruchense e O Grandolense. Que balanço faz de 2019-20?
Relativamente à época passada,
iniciei em Coruche, onde com o primeiro treinador [Gonçalo Viana da Silva] ia
sendo opção e sentia-me útil, mas depois da saída dele e da chegada do
treinador Tó-Pê deixei de ser opção. Como senti que nunca seria opção, decidi
sair e procurar outra paragem, Grândola,
onde tive cerca de três meses até haver esta situação do covid-19.
Olhando para o seu percurso, o Samuel já integrou várias equipas que
lutam pelos lugares cimeiros em campeonatos distritais, como o Coruchense e o
Estrela de Vendas Novas, mas nunca competiu nos campeonatos nacionais. É uma
mágoa?
É verdade, já joguei em algumas
equipas que lutam todos os anos por subidas de divisão, mas os campeonatos
nacionais tiveram quase para acontecer, mas depois por um motivo ou por outro
não se concretizou. Mas desde de 2011 que essa situação também não seria muito
fácil de conciliar devido à minha situação profissional, mas lido bem com esse
facto. Faz parte da vida de quem joga futebol.
“AF Setúbal é mais competitiva e difícil do que AF Évora e AF Santarém”
Samuel ao serviço do Estrela de Vendas Novas em 2018-19 |
Já jogou nos distritais de Setúbal, Évora e Santarém. Em qual sentiu um nível mais alto e quais as principais
características de cada um?
Todas os distritais são
diferentes e difíceis, mas para escolher um digo que a AF
Setúbal é a mais competitiva e difícil.
O Samuel dividiu a formação entre Pelezinhos, Vitória de Setúbal, Barreirense e Sesimbra. Quais as principais memórias que guarda desses tempos?
Olho para trás e vejo e sinto que
tive uma formação feliz, tanto que guardo muitas amizades. Posso dizer que
tenho muitos amigos que são do tempo da formação e isso deixa-me contente. A
formação devia e deve formar acima de tudo bons homens e dar-lhes liberdade
dentro do campo para serem felizes e desfrutar do jogo, pois olho para estes
novos tempos e a preocupação é formatar desde cedo as crianças no que diz respeito
a táticas, modelos de jogo etc. Na formação tem de haver disciplina e alegria
para se desfrutar do jogo.
“Estrela Vendas Novas está ligado à minha vida para sempre”
Passou duas vezes pelo Estrela Vendas Novas, a primeira em 2008-09 e a
segunda precisamente dez anos depois. Que significado tem o clube na sua
carreira?
É verdade, passei duas vezes pelo
Estrela, é um clube que está ligado à minha vida para sempre, pois a minha
lesão mais grave foi ao serviço do Estrela, fiz uma rotura do ligamento cruzado
anterior num dos últimos jogos da época, em que jogávamos o dito jogo do título
com o União e Montemor. E voltei [em 2018-19] por vários fatores, um deles o
projeto e porque ia reencontrar alguns colegas – inclusivamente o Letras - e
porque senti que me queriam, foi fácil voltar, pois senti sempre muito carinho.
Em 2016-17 desceu de divisão no Comércio e Indústria. O que se passou para que a equipa
setubalense, que estava há tanto tempo na I Distrital, tivesse sido despromovida?
Essa época foi um bocado atípica,
tinhas uma equipa forte e bem orientada, mas o clube
estava um bocado instável, o que levou algumas saídas no que toca a jogadores e
a treinadores, sendo que acabamos a época a jogar com muitos juniores, mas
mesmo assim só caímos na última jornada.
“Mário Loja ensinou-me muito”
Também no Comércio e Indústria foi companheiro de equipa de Mário Loja,
um jogador que fez carreira de I Liga como defesa central. O que mais aprendeu com ele?
Quem não se pode orgulhar de
partilhar o campo e balneário com um jogador que pisou palcos que todos
sonhamos? Sinto-me privilegiado em ter sido seu colega e por o ter como amigo.
Ensinou-me muito.
Como se descreve enquanto jogador?
Descrevo-me como um jogador
agressivo no que toca a disputar cada lance, bom no jogo aéreo e bom colega. O
resto deixo para quem me conhece.
Samora Correia, Alcacerense e Quinta do Conde foram outros dos clubes
que representou. Quais as principais recordações que tem de cada um?
O Samora Correia foi o primeiro
clube como sénior, no Alcacerense subimos de divisão [em 2011] e o Quinta do
Conde é um clube com uma casa pequena, mas de boa gente. Voltava a jogar em
todos outra vez.
Em 2019 jogou futebol de praia ao serviço do popular clube setubalense São Domingos. Como correu a aventura? É para continuar?
Futebol de praia é outra paixão.
Não começou em 2019, já jogo futebol de praia há alguns anos e é algo que
adoro. É para continuar.
“Se o Vitória cair no Campeonato de Portugal, dificilmente irá sobreviver”
Samuel na equipa de futebol de praia do Vitória de Setúbal em 2015 |
Outro clube que representou no futebol de praia e que já tinha representado
no futebol de formação é o Vitória de Setúbal. O que pensa desta situação da possível
despromoção dos sadinos ao Campeonato de Portugal?
O Vitória está numa situação
delicada, que já se arrasta há alguns anos e isso não é bom para a estrutura do
Vitória. Muitos adeptos acham que o problema é recente porque não gostam do
presidente ou algo do género, mas acho sinceramente que se o Vitória cair no Campeonato
de Portugal dificilmente irá sobreviver.
Quem é o melhor treinador que já teve? E o melhor jogador com quem já
partilhou o balneário?
Melhor treinador? Todos...
aprendi com todos. O melhor jogador também é difícil dizer.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci em Lisboa, mas cresci em Setúbal.
A minha infância foi praticamente toda passada em Setúbal,
foi uma infância feliz. Fiz de tudo, mas nunca fui de dar problemas aos meus
pais.
“Federação Angolana abordou-me no meu primeiro ano de sénior”
Samuel representou o Alcacerense entre 2009 e 2012 |
Quais são as suas raízes em Angola?
As minhas raízes em Angola
são tanto da minha mãe como do meu pai, sendo que a minha mãe veio muito nova
para Portugal, enquanto o meu pai veio mais tarde.
Alguma vez foi contactado pela Federação Angolana de Futebol (FAF) para representar os Palancas Negras? Alguma vez sentiu-se próximo disso?
Houve uma abordagem no meu
primeiro ano de sénior, apos o Torneio Interassociações, mas não se realizou
pois ainda não tinha a dupla nacionalidade.
Acompanho pouco, mas posso falar
dos que admirava na infância: Akwá e Mantorras.
Sempre quis ser futebolista ou teve outros sonhos? Quais são as suas
referências no mundo do futebol?
Sempre quis, é uma paixão grande.
Referências no futebol tenho algumas: Nesta, Cristiano
Ronaldo, Messi,
Ronaldinho, Ronaldo, etc.
O polícia que sonha ser pai
O que faz além do futebol?
Sou polícia.
Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
Os maiores sonhos é ser pai e ter
saúde para cuidar dos meus.
Já́ alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Racismo é um tema difícil. Já
senti, mas não sou de dar importância, desde que não me tentem fazer nada a
nível físico está tudo bem. Palavras leva-as o vento e as atitudes fica para
quem as pratica.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
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