quarta-feira, 29 de julho de 2020

João Santos: “No Moitense ambicionamos a conquista do título distrital”

Avançado João Santos vai ascender ao plantel principal do Moitense
Avançado luso-angolano que na época passada contribuiu para a promoção dos juniores do Moitense à I Distrital, João Santos vai ascender a sénior em 2020-21 e já sabe que vai integrar a equipa principal do clube da vila da Moita.

Sem papas na língua, o jovem atacante de 19 anos diz em entrevista que o objetivo do emblema do Juncal passa pela conquista do título distrital e consequente subida de divisão, fala da “dura e injusta” função de ponta de lança e passa em revista o seu trajeto no futebol.



ROMILSON TEIXEIRA - O João Santos subiu a sénior e vai continuar no Moitense, mas desta vez na equipa principal. Quais são as suas expetativas? O que está à espera de encontrar e que dificuldades prevê enfrentar?
JOÃO SANTOS - Bem, as minhas expectativas são as melhores. temos uma excelente equipa, trabalhadora, talentosa, jovem e unida. Espero e tenho total certeza de que irei encontrar colegas de equipa acolhedores, unidos, determinados e muito experientes. As dificuldades que vou enfrentar será sempre devido ao facto de ser o meu primeiro ano de sénior, um ano principalmente de evolução e de aprendizagem em alguns aspetos, o que poderá trazer algumas dificuldades, porém, todas as que tiver de enfrentar irão ser encaradas de frente e utilizadas como forma de motivação.

Com que objetivos individuais e coletivos vai entrar na próxima época?
Na próxima época espero melhorar individualmente e crescer ainda mais no futebol, aproveitar o conhecimento e experiência de toda a equipa para me tornar mais rico como jogador. Coletivamente ambiciono principalmente, como todos os meus colegas de equipa, a conquista do título de campeões distritais e a subida de divisão.

O que conhece do plantel principal? Tem falado com o treinador e os futuros companheiros de equipa? O que lhe têm dito?
Tendo já efetuado treinos e partilhado balneário com o plantel principal, posso dizer que conheço bem o plantel. É um plantel forte, jovem, unido, bastante equilibrado e objetivo. Trabalham todos para o mesmo e isso é notório em todos os jogos do Moitense. Como usualmente, fui apresentado à equipa principal e posso dizer que me senti em casa. São muito unidos e acolhedores, rapidamente me fizeram sentir uma peça do puzzle.

O João Santos ajudou os juniores do Moitense a subir à I Distrital. Como viveram essa promoção fora das quatro linhas, uma vez que a pandemia colocou um ponto final no campeonato?
A subida com os juniores foi das melhores sensações que um jogador pode sentir, foi uma subida de divisão, um título muito trabalhado e sofrido por parte de todos os membros de equipa, cada um à sua maneira todos contribuíram e trabalharam para que conseguíssemos alcançar o título. Foi duro e trabalhoso até ao último jogo. Com esta pandemia, a sensação com que todos os meus colegas e treinadores ficámos é de que, apesar de termos ganho e termos subido de divisão, éramos capazes de mais. Tínhamos vontade de vencer mais e de encarar todos os restantes jogos de frente e cumprir corretamente o objetivo. Tínhamos, como se diz no mundo do desporto, fome de vencer, porém, foi colocada uma dificuldade que nada nem ninguém foi capaz de prever e controlar, o que limitou a nossa caminhada e tornou-nos campeões mais cedo.

João Santos ajudou os juniores do Moitense a subir à I Distrital
Do que conhece e vai vendo neste mercado de transferências, quais são os clubes favoritos à conquista do título da I Distrital da AF Setúbal em 2020-21?
Pessoalmente não sou adepto nem acredito em favoritos nem favoritismo. O que eu sei é que vão ser 16 equipas, todas com o mesmo objetivo. A mim só o Moitense me importa, embora respeite e considere todas as outras equipas, que são merecedoras disso. Porém, só me importa o Moitense e o seu desempenho. Iremos demonstrar que somos capazes de tudo aquilo que ambicionamos alcançar.

Vai para a terceira temporada no Moitense, a segunda seguida. Que significado tem o clube para si e quais os melhores momentos que viveu no Juncal?
Para mim o Moitense já é visto como uma segunda casa, é um clube histórico e perfeito para jovens que ambicionam ter uma carreira no futebol. Aqui vivi os melhores momentos e recordo-me especialmente de um na época que agora terminou. Foi num jogo em Setúbal, onde num dia difícil iniciei o jogo como suplente, vi a minha equipa a sofrer dois golos e uma expulsão, porém, aos 50 minutos entrei em campo, marquei o 2-1, reduzindo a desvantagem, e assisti e participei nos restantes golos. Através da ajuda e união de toda a nossa equipa conseguimos sair vitoriosos e bater a equipa adversária [“O Sindicato”] por 3-2. Uma verdadeira remontada e com um jogador a menos, foi um belo momento.

No Moitense há vários jogadores com ligações a Angola, nomeadamente Helmut Ari, Jorge Costa e Bruno Santos, além do treinador David Nogueira. Falam muito sobre as vossas raízes?
Sim, as nossas raízes angolanas são conhecidas por todos, sendo que isso nos aproxima e torna mais unidos dentro e fora de campo.

“Ser ponta de lança é duro e injusto”

O João Santos é um avançado. Como se descreve como jogador e o que é para si mais difícil na sua posição?
Descrevo-me como um jogador rápido, pressionante, forte nos apoios, no jogo aéreo, certeiro dentro da área e com fome de golo. Considero que sou o que se costuma chamar de avançado fixo.
Para mim, o mais difícil num avançado é a maneira como é vista a posição, o que quero dizer com isto é que em poucos lances podemos passar de bestiais a bestas. Durante o jogo as oportunidades que temos de fazer golo têm de ser aproveitadas ao máximo, caso contrário somos postos em causa. É duro e injusto, porém, é natural para o ponta de lança: ou somos decisivos na maior parte das oportunidades ou não estamos a desempenhar bem a nossa função.

Começou a jogar futebol no Clube Recreio e Instrução (CRI), de Alhos Vedros. Que memórias guarda desses tempos?
Desses tempos guardo as melhores e mais puras memórias do futebol. No CRI aprendi e fui crescendo não só em termos do futebol, mas como pessoa também. Guardo com muito carinho os tempos que lá vivi.

“CRI foi o meu primeiro clube, a primeira família que me acolheu”

João Santos começou a jogar futebol no CRI, de Alhos Vedros
O que o CRI tem de especial para e que significado tem para si e para sua carreira?
O CRI foi o meu primeiro clube, a primeira família que me acolheu, e terei sempre total respeito e consideração pelo clube. Em termos de carreira, acho que todos os clubes por onde um jogador passa têm o seu significado, todos são importantes à sua maneira e o CRI ajudou-me e contribuiu para a minha paixão pelo futebol.

Qual é o treinador que mais marcou a sua carreira até ao momento?
Todos os treinadores que tive de certa forma contribuíram para o meu crescimento e melhoramento, era esse o objetivo é função deles, todos eles foram essenciais pra ser o jogador que sou hoje. Porém guardo com muito carinho e gratidão o Mister Meireles, sem dúvida alguma que foi o Mister certo na hora certa. Foram inúmeras as vezes que quando algum de nós, tanto eu como os meus colegas de equipa precisamos e ele esteve lá. Ajudou me imenso numa fase de indecisão na minha vida guiando me ao caminho certo, estou lhe totalmente grato.

Quais são as suas raízes em Angola?
As minhas raízes diretas angolanas vêm do meu pai, que nasceu e foi criado em Angola. Tanto da parte da minha mãe como da parte do meu pai os meus avós também são angolanos, sendo que da parte do meu pai a maior parte da família ainda lá vive.

Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Sou natural do Algarve. Nasci em Faro e vivi em Quarteira até aos dois anos. Estudei e cresci na Moita, mais precisamente no bairro Quinta Fonte da Prata e aí sim, vou crescendo enquanto homem na escola da vida. Será sempre a minha casa. A minha infância foi fantástica, cheia de boas e más experiências, que acima de tudo são necessárias para uma boa educação, formação e criação de valores de um jovem.

“Admiro Ary Papel, Wilson Eduardo e Zito Luvumbo”

Acompanha o futebol angolano? Que opinião tem e quais são os atletas angolanos que admira?
Para ser franco, não acompanho o Girabola 24 horas por dia, porém, admiro atletas angolanos como Ary Papel, Wilson Eduardo e a jovem sensação do momento, craque mesmo, Zito Luvumbo.

Jogar pela seleção angolana é um sonho?
Nunca fui contactado e penso que notado pela FAF. Como todos os jogadores, tenho o sonho de um dia poder representar a minha seleção, sendo que seria a portuguesa, e apesar de defender uma ideologia de que na vida não há impossíveis, sei e tenho plena noção de que é um objetivo muito difícil e fora de mão nos dias de hoje para um atleta como eu. Quanto à possível chegada à seleção angolana, sou da mesma opinião, será muito difícil.

João Santos ambiciona tornar-se futebolista profissional
Sempre quis ser futebolista ou tinha outros sonhos em mente? O que faz além do futebol?
Desde novinho que ambicionava jogar futebol. Cresci numa família ligada e apaixonada pelo futebol: o meu tio jogou até muito tarde e o meu avô é treinador. Cresci no meio do futebol, porém, houve fases da minha vida em que não pensava nem ambicionava ser jogador, jogava apenas por diversão, o que me leva à conclusão de que poderia estar noutros palcos se a minha dedicação e paixão em tenra idade tivesse sido outra, porém, estou confiante e focado naquilo que me espera e tenho pela frente. Além do futebol sou estudante. Consigo conciliar e assim vou continuar.

Quais são as suas maiores referências?
A minha maior referência no futebol é o meu avô.

Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
O meu maior sonho no futebol é um dia conseguir atingir o patamar de futebolista profissional e assim poder-me dedicar inteiramente a jogar futebol.

Já alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Pessoalmente, não, não sinto que tenha sido vítima de racismo. Posso já ter ouvido a típica tentativa de insulto por parte de adversários irritados ou frustrados por estarem a perder ou por terem sido fintados/ultrapassados, porém, sei que é apenas raiva e uma tentativa de criar desequilíbrios psicológicos.
O racismo para mim é um assunto muito frágil e importante, que infelizmente existe em todo o mundo e jamais deixará de existir. Tem milhares de anos de história e de luta contra, porém, é muito difícil de abater. Sou 100% contra e defendo a opinião de que quem o pratica é fraco psicologicamente.

Entrevista realizada por Romilson Teixeira





















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