Avançado luso-angolano
que na época passada contribuiu para a promoção dos juniores do Moitense
à I
Distrital, João Santos vai ascender a sénior em 2020-21 e já sabe que vai
integrar a equipa principal do clube da vila da Moita.
Sem papas na língua, o jovem
atacante de 19 anos diz em entrevista que o objetivo do emblema
do Juncal passa pela conquista do título distrital e consequente subida de
divisão, fala da “dura e injusta” função de ponta de lança e passa em revista o
seu trajeto no futebol.
ROMILSON TEIXEIRA - O João Santos subiu a sénior e vai continuar no Moitense,
mas desta vez na equipa principal. Quais são as suas expetativas? O que está à
espera de encontrar e que dificuldades prevê enfrentar?
JOÃO SANTOS - Bem, as minhas
expectativas são as melhores. temos uma excelente equipa,
trabalhadora, talentosa, jovem e unida. Espero e tenho total certeza de que
irei encontrar colegas de equipa acolhedores, unidos, determinados e muito
experientes. As dificuldades que vou enfrentar será sempre devido ao facto de
ser o meu primeiro ano de sénior, um ano principalmente de evolução e de
aprendizagem em alguns aspetos, o que poderá trazer algumas dificuldades, porém,
todas as que tiver de enfrentar irão ser encaradas de frente e utilizadas como
forma de motivação.
Com que objetivos individuais e coletivos vai entrar na próxima época?
Na próxima época espero melhorar
individualmente e crescer ainda mais no futebol, aproveitar o conhecimento e
experiência de toda a equipa para me tornar mais rico como jogador.
Coletivamente ambiciono principalmente, como todos os meus colegas de equipa,
a conquista do título de campeões distritais e a subida de divisão.
O que conhece do plantel
principal? Tem falado com o treinador
e os futuros companheiros de equipa? O que lhe têm dito?
Tendo já efetuado treinos e
partilhado balneário com o plantel
principal, posso dizer que conheço bem o plantel.
É um plantel
forte, jovem, unido, bastante equilibrado e objetivo. Trabalham todos para o
mesmo e isso é notório em todos os jogos do Moitense.
Como usualmente, fui apresentado à equipa
principal e posso dizer que me senti em casa. São muito unidos e acolhedores,
rapidamente me fizeram sentir uma peça do puzzle.
O João Santos ajudou os juniores do Moitense
a subir à I Distrital. Como viveram essa promoção fora das quatro linhas, uma
vez que a pandemia colocou um ponto final no campeonato?
A subida com os juniores foi das
melhores sensações que um jogador pode sentir, foi uma subida de divisão, um
título muito trabalhado e sofrido por parte de todos os membros de equipa, cada
um à sua maneira todos contribuíram e trabalharam para que conseguíssemos
alcançar o título. Foi duro e trabalhoso até ao último jogo. Com esta pandemia,
a sensação com que todos os meus colegas e treinadores ficámos é de que, apesar
de termos ganho e termos subido de divisão, éramos capazes de mais. Tínhamos
vontade de vencer mais e de encarar todos os restantes jogos de frente e
cumprir corretamente o objetivo. Tínhamos, como se diz no mundo do desporto, fome
de vencer, porém, foi colocada uma dificuldade que nada nem ninguém foi capaz
de prever e controlar, o que limitou a nossa caminhada e tornou-nos campeões mais
cedo.
João Santos ajudou os juniores do Moitense a subir à I Distrital |
Do que conhece e vai vendo neste mercado de transferências, quais são
os clubes favoritos à conquista do título da I
Distrital da AF Setúbal em 2020-21?
Pessoalmente não sou adepto nem
acredito em favoritos nem favoritismo. O que eu sei é que vão ser 16 equipas,
todas com o mesmo objetivo. A mim só o Moitense
me importa, embora respeite e considere todas as outras equipas, que são
merecedoras disso. Porém, só me importa o Moitense
e o seu desempenho. Iremos demonstrar que somos capazes de tudo aquilo que
ambicionamos alcançar.
Vai para a terceira temporada no Moitense,
a segunda seguida. Que significado tem o clube para si e quais os melhores
momentos que viveu no Juncal?
Para mim o Moitense
já é visto como uma segunda casa, é um clube histórico e perfeito para jovens
que ambicionam ter uma carreira no futebol. Aqui vivi os melhores momentos e
recordo-me especialmente de um na época que agora terminou. Foi num jogo em
Setúbal, onde num dia difícil iniciei o jogo como suplente, vi a minha equipa a
sofrer dois golos e uma expulsão, porém, aos 50 minutos entrei em campo,
marquei o 2-1, reduzindo a desvantagem, e assisti e participei nos restantes
golos. Através da ajuda e união de toda a nossa equipa conseguimos sair
vitoriosos e bater a equipa adversária [“O
Sindicato”] por 3-2. Uma verdadeira remontada e com um jogador a menos, foi
um belo momento.
No Moitense
há vários jogadores com ligações a Angola,
nomeadamente Helmut Ari, Jorge Costa e Bruno
Santos, além do treinador
David Nogueira. Falam muito sobre as vossas raízes?
Sim, as nossas raízes angolanas
são conhecidas por todos, sendo que isso nos aproxima e torna mais unidos dentro
e fora de campo.
“Ser ponta de lança é duro e injusto”
O João Santos é um avançado. Como se descreve como jogador e o que é
para si mais difícil na sua posição?
Descrevo-me como um jogador
rápido, pressionante, forte nos apoios, no jogo aéreo, certeiro dentro da área
e com fome de golo. Considero que sou o que se costuma chamar de avançado fixo.
Para mim, o mais difícil num
avançado é a maneira como é vista a posição, o que quero dizer com isto é que
em poucos lances podemos passar de bestiais a bestas. Durante o jogo as
oportunidades que temos de fazer golo têm de ser aproveitadas ao máximo, caso
contrário somos postos em causa. É duro e injusto, porém, é natural para o
ponta de lança: ou somos decisivos na maior parte das oportunidades ou não
estamos a desempenhar bem a nossa função.
Começou a jogar futebol no Clube Recreio e Instrução (CRI), de Alhos
Vedros. Que memórias guarda desses tempos?
Desses tempos guardo as melhores
e mais puras memórias do futebol. No CRI aprendi e fui crescendo não só em
termos do futebol, mas como pessoa também. Guardo com muito carinho os tempos
que lá vivi.
“CRI foi o meu primeiro clube, a primeira família que me acolheu”
João Santos começou a jogar futebol no CRI, de Alhos Vedros |
O que o CRI tem de especial para e que significado tem para si e para
sua carreira?
O CRI foi o meu primeiro clube, a
primeira família que me acolheu, e terei sempre total respeito e consideração
pelo clube. Em termos de carreira, acho que todos os clubes por onde um jogador
passa têm o seu significado, todos são importantes à sua maneira e o CRI ajudou-me
e contribuiu para a minha paixão pelo futebol.
Qual é o treinador que mais marcou a sua carreira até ao momento?
Todos os treinadores que tive de
certa forma contribuíram para o meu crescimento e melhoramento, era esse o
objetivo é função deles, todos eles foram essenciais pra ser o jogador que sou
hoje. Porém guardo com muito carinho e gratidão o Mister Meireles, sem dúvida
alguma que foi o Mister certo na hora certa. Foram inúmeras as vezes que quando
algum de nós, tanto eu como os meus colegas de equipa precisamos e ele esteve
lá. Ajudou me imenso numa fase de indecisão na minha vida guiando me ao caminho
certo, estou lhe totalmente grato.
Quais são as suas raízes em Angola?
As minhas raízes diretas angolanas
vêm do meu pai, que nasceu e foi criado em Angola.
Tanto da parte da minha mãe como da parte do meu pai os meus avós também são angolanos,
sendo que da parte do meu pai a maior parte da família ainda lá vive.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Sou natural do Algarve.
Nasci em Faro e vivi em Quarteira até aos dois anos. Estudei e cresci na Moita,
mais precisamente no bairro Quinta Fonte da Prata e aí sim, vou crescendo
enquanto homem na escola da vida. Será sempre a minha casa. A minha infância
foi fantástica, cheia de boas e más experiências, que acima de tudo são
necessárias para uma boa educação, formação e criação de valores de um jovem.
“Admiro Ary Papel, Wilson Eduardo e Zito Luvumbo”
Para ser franco, não acompanho o Girabola
24 horas por dia, porém, admiro atletas angolanos como Ary Papel, Wilson
Eduardo e a jovem sensação do momento, craque mesmo, Zito Luvumbo.
Jogar pela seleção
angolana é um sonho?
Nunca fui contactado e penso que
notado pela FAF.
Como todos os jogadores, tenho o sonho de um dia poder representar a minha seleção,
sendo que seria a portuguesa, e apesar de defender uma ideologia de que na vida
não há impossíveis, sei e tenho plena noção de que é um objetivo muito difícil
e fora de mão nos dias de hoje para um atleta como eu. Quanto à possível
chegada à seleção
angolana, sou da mesma opinião, será muito difícil.
João Santos ambiciona tornar-se futebolista profissional |
Sempre quis ser futebolista ou tinha outros sonhos em mente? O que faz
além do futebol?
Desde novinho que ambicionava
jogar futebol. Cresci numa família ligada e apaixonada pelo futebol: o meu tio
jogou até muito tarde e o meu avô é treinador. Cresci no meio do futebol, porém,
houve fases da minha vida em que não pensava nem ambicionava ser jogador,
jogava apenas por diversão, o que me leva à conclusão de que poderia estar noutros
palcos se a minha dedicação e paixão em tenra idade tivesse sido outra, porém,
estou confiante e focado naquilo que me espera e tenho pela frente. Além do futebol
sou estudante. Consigo conciliar e assim vou continuar.
Quais são as suas maiores referências?
A minha maior referência no futebol
é o meu avô.
Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
O meu maior sonho no futebol é um
dia conseguir atingir o patamar de futebolista profissional e assim poder-me
dedicar inteiramente a jogar futebol.
Já alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Pessoalmente, não, não sinto que
tenha sido vítima de racismo. Posso já ter ouvido a típica tentativa de insulto
por parte de adversários irritados ou frustrados por estarem a perder ou por
terem sido fintados/ultrapassados, porém, sei que é apenas raiva e uma
tentativa de criar desequilíbrios psicológicos.
O racismo para mim é um assunto muito
frágil e importante, que infelizmente existe em todo o mundo e jamais deixará
de existir. Tem milhares de anos de história e de luta contra, porém, é muito
difícil de abater. Sou 100% contra e defendo a opinião de que quem o pratica é
fraco psicologicamente.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
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