Valdu Té fez este sábado a estreia na I Liga, aos 21 anos |
O jovem avançado guineense Valdu Té, do Vitória de Setúbal, tem sido uma das revelações da Liga Revelação, com
quatro golos em quatros jogos, e no sábado fez a estreia pela equipa principal
logo diante do FC Porto, tendo até faturado, mas visto o seu remate certeiro
ser invalidado por uma alegada mão na bola na área portista.
“O Valdu tem vindo a crescer e
tem tido uma postura positiva. É jovem, tem futuro e espaço para se tornar importante
no futebol português”, frisou Lito Vidigal, após esse encontro.
No entanto, não é a primeira vez
que o possante ponta de lança gera expetativas nos adeptos sadinos. Aos 18
anos, naquela que foi a sua primeira temporada em Portugal, ajudou os juniores
a serem campeões nacionais da II Divisão com 26 golos em 23 jogos.
Mas mais incrível do que o seu
registo goleador, é a sua história de vida. “Nasci em Bissau e pensei sempre em
jogar futebol. Jogava na rua, com os meus amigos e a minha família. Éramos 30 e
tal na minha casa e éramos obrigados a trabalhar, porque o meu pai sozinho não
conseguia. Com 10 anos, ajudava o nosso pai a lavrar arroz e amendoim. Só assim
conseguíamos viver. Naquele meio todo, divertíamo-nos muito a jogar futebol e
até dava para fazer onze contra onze”, começou por contar em recente entrevista
ao canal da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
“Quatro anos depois, fui para a
Academia do Sporting em Bissau e o meu empresário levou lá um treinador [Paulo
Torres] para detetar talentos. Ele viu-me, tirou-me foto e o meu empresário
disse que viu brilho em mim. Passados dois anos, cheguei a Portugal”, prosseguiu.
Já em solo português, começou por
treinar no Benfica, mas não lhe arranjaram quarto no Centro de Estágios do
Seixal. Depois esteve à experiência no Sporting durante quase seis meses, mas
nunca houve entendimento nas negociações.
O regresso a África esteve
eminente, até que… “pedi à mãe dele para me autorizar a ficar com ele em Portugal.
Consegui que ela aceitasse e ele tornou-se quase meu filho”, explicou há cerca
dois anos o agente do craque, Paulo Rodrigues, ao jornal O Setubalense. “Ele chegou com 66 quilos e hoje [junho de 2016] tem
82, devido ao trabalho de massa muscular que eu o fiz ganhar durante dois anos.
Treinámos sozinhos em piscinas e em ginásios. Depois pedi ao Vitória para o
ver, no início desta época [2015/16], e ficaram logo impressionados”, continuou
o CEO da Super Stadium.
Maior cláusula da história sadina
Valdu Té assinou contrato de um
ano de formação com opção de cinco de profissional, algo que foi acionado pelo
Vitória, que o blindou até 2021 com uma cláusula de €20 milhões. “Pelo
conhecimento que tenho, deve ser a maior cláusula da história do Vitória”,
explicou Paulo Rodrigues, orgulhoso pelo percurso daquele que se tornou um
filho adotivo.
“O Valdu chegou ao aeroporto sem
mala. Não tinha roupa, não tinha nada. O que faço com ele é o que eu faço aos
meus dois filhos. Dou-lhes tudo, compro-lhes tudo, ensino-os, dou-lhes carinho,
beijos, abraços, vou às compras com os três, compro roupa igual para os três,
cada um tem o seu quarto, jantamos a mesma comida”, acrescentou então o agente.
O facto de ter sido acolhido por
uma família e não ter ficado hospedado num centro de estágios teve efeito
positivo no desempenho desportivo no atleta, acredita o empresário: “O Valdu
teve uma adaptação fácil no futebol porque esteve dois anos na escola, a
aprender a falar e a ter uma mentalidade mais à portuguesa. Foi uma adaptação
diferente porque tem uma família. Sente-se seguro, sabe que tem o que comer
quando acaba o treino, que tem dinheiro para vir para o treino, para casa e
para comer.”
Guineense diante do benfiquista Jardel em jogo de pré-época |
Fã de Balotelli e recebia 25 euros por golo
Paulo Rodrigues pagava 25 euros a
Valdu por cada golo marcado. Um incentivo que em 2015/16, quando era júnior,
valeu €650 ao craque. Fã de Balotelli – “mas não tão maluco como ele”, garante
o agente -, o avançado guineense tinha e continua a ter no futebol aéreo a sua
principal arma.
“Marca golos impressionantes de
cabeça. Quando cabeceia a bola, ela sai com grande velocidade. Parecem remates
com o pé, de cabeça. Ele é muito forte fisicamente (1,89 m), trabalha muito a nível
físico e é difícil de travar quando arranca. É um ponta de lança puro, com
características raras”, analisou o empresário.
Dois anos de espera
Depois de despontar nos juniores,
Valdu Té surgiu na pré-época da equipa principal no verão de 2016. No entanto,
chocou com uma realidade bem diferente. “Não tive muita formação, fiz
praticamente o segundo ano de júnior. No meu primeiro ano de sénior, não estava
bem preparado”, confessou o avançado, na recente entrevista ao canal da FPF.
Sem espaço nas escolhas de José Couceiro e igualmente sem vontade em estar um ano sem jogar, foi emprestado ao
Mafra, do Campeonato de Portugal, mas só atuou em oito partidas, tendo apontado
um golo. Na temporada passada, voltou a integrar a pré-temporada vitoriana, mas
voltou a ser cedido, desta vez ao Olímpico do Montijo, onde se mostrou a um
melhor nível: 23 jogos, cinco golos.
No entanto, 2018/19 trouxe uma enorme
novidade para o Vitória e para Valdu Té: a Liga Revelação. O novo espaço
competitivo tem permitido ao guineense treinar às ordens de Lito Vidigal na
equipa principal e ganhar rodagem no campeonato dos sub-23. Porém, a tendência
natural será aparecer cada vez mais na I Liga e cada vez menos na Liga
Revelação, onde tem sido uma das primeiras… revelações.
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