Cinco franceses, três belgas, dois ingleses e um croata
Terminou o Mundial da Rússia. A
França conquistou o título vencendo todos os jogos da fase a eliminar e sem
recurso a prolongamento, e naturalmente surge neste onze como a seleção mais
representada. Os outros semifinalistas, Bélgica, Inglaterra e Croácia, são as
outras formações que dão jogadores a esta equipa ideal.
Guarda-redes:
Se Thibaut Courtois andava esquecido nos debates acerca do melhor
guarda-redes do mundo, recolocou o seu nome na discussão depois deste
Campeonato do Mundo. O gigante belga de 1,99 m agigantou-se ainda mais na fase
a eliminar, tendo acumulado intervenções fantásticas nos jogos frente a Japão,
Brasil, França e Inglaterra. A defesa a remate do brasileiro Neymar, na partida
dos quartos-de-final, é uma séria candidata a melhor do torneio.
Além da beleza das suas
estiradas, importa realçar a quantidade: foi o guarda-redes que mais defesas
fez ao longo do torneio (27). Segundo o GoalPoint, defendeu
55,6% dos remates aos ângulos da sua baliza e travou ainda 81,8% dos disparos
enquadrados que enfrentou, o máximo entre os guardiões dentro do critério dos
480 minutos. No total registou 3,9 defesas a cada 90 minutos.
Centrais:
Depois de ter falhado o Euro 2016
devido a lesão, Raphael Varane
confirmou no Mundial 2018 o que já vinha a mostrar há várias temporadas no Real
Madrid: é um dos melhores centrais do planeta. Sem a companhia de Sergio Ramos,
liderou o sólido quarteto defensivo gaulês e revelou-se decisivo também na área
adversária, ao marcar de cabeça na vitória sobre o Uruguai, nos
quartos-de-final.
Por falar em jogo aéreo, o GoalPoint escreve
que o central francês ganhou 76 por cento dos duelos aéreos defensivos, tendo
participado, em média, em 4,1 por jogo.
Um Campeonato do Mundo em
crescendo para Samuel Umtiti. Hoje,
poucos se lembrarão do erro infantil que ditou uma grande penalidade favorável
à Austrália no jogo de estreia da França. Ao lado de Varane, formou uma dupla
sólida e que se complementou muito bem, apesar da juventude de anos, o que significa
que les bleus têm centrais para
muitos e bons anos. O momento alto do defesa do Barcelona no Mundial foi o golo
à Bélgica que valeu o apuramento para a final.
Laterais:
Habitual suplente de Daniel Alves
no Paris Saint-Germain, Thomas Meunier
brilhou no Mundial 2018, tal como já o havia feito no Euro 2016. Com a missão
de fazer todo o corredor direito de uma seleção belga disposta em 3x4x3,
mostrou pulmão para os constantes vaivéns entre áreas. Com um golo a Inglaterra
no jogo de atribuição do 3.º lugar e duas assistências (para Lukaku diante da
Tunísia e para Chadli frente ao Japão), foi o defesa que participou em mais
golos durante o torneio, a par do colombiano Yerry Mina.
Tenho observado vários trabalhos
do género deste em que os autores têm colocado Lucas Hernández como melhor
lateral esquerdo do Mundial. Admito que sim, mas considero que essa escolha é
mais por exclusão de partes do que propriamente por se ter destacado muito. Por
isso, tal como no onze de revelações, vou optar por adaptar um lateral direito
ao corredor contrário. Pavard era um candidato, mas a minha escolha recaiu no
inglês Kieran Trippier, talvez o
melhor jogador da sua seleção durante o torneio. Tal como Meunier, teve a
missão de fazer todo o corredor num sistema de três centrais e destacou-se pela
enorme capacidade para levar a cabo os constantes vaivéns entre áreas.
De acordo com o GoalPoint,
o jogador do Tottenham foi o que mais passes para finalização fez ao longo do
Campeonato do Mundo (24) e o segundo lateral com mais desarmes por 90 minutos –
cerca de 2,4, apenas atrás do francês Lucas Hernández. Fez uma assistência para
John Stones na goleada ao Panamá (6-1), ainda na fase de grupos, e colocou a
cereja no topo do bolo com um golo de livre à Croácia, ainda assim insuficiente
para apurar Inglaterra para a final.
Médios:
1,68 m de altura basta para N’Golo Kanté encher o campo. Foi
assim no Leicester campeão inglês em 2015/16, no Chelsea nas últimas duas
épocas e agora também na seleção francesa. Uma autêntica formiguinha sempre em
alta rotação, um recuperador de bolas incansável e por excelência – terminou no
pódio do torneio no que a esse item diz respeito -, que além da enorme
capacidade defensiva tem muita qualidade com bola, no passe e na condução. Libertou
Paul Pogba para momentos de brilho que já não se viam desde os tempos da
Juventus. Curiosamente, o jogo menos conseguido de Kanté
até foi a final – soube-se depois que estava a contas com uma gastroenterite.
Finalmente, um grande palco para Luka Modric sem a sombra de um Cristiano
Ronaldo. Ao cabo de 12 anos de seleção e de mais de uma centena de
internacionalizações, finalmente conseguiu aparecer pelo menos numa meia-final
de um torneio internacional. Mesmo com a braçadeira de capitão no braço
esquerdo, manteve a postura antivedeta que exibe no Real Madrid e liderou a
Croácia até à final, apontando dois golos – um remate de fora da área à
Argentina e um penálti à Nigéria – e assinando uma assistência – para Vida,
diante da Rússia. A FIFA elegeu-o melhor jogador do torneio e, mesmo que haja
opiniões contrárias, é uma decisão que não choca.
Segundo o GoalPoint,
encerrou a sua participação na prova com uma média de 7,3 recuperações de posse
de bola – apenas atrás de Kanté,
Pogba e Brozovic – e 2,4 passes para finalização a cada 90 minutos, e uma percentagem
de passes eficazes no meio-campo adversário de 78 por cento.
Antoine Griezmann esteve uns furos
abaixo do que mostrou no Euro 2016, andou desaparecido durante grande parte de
todos os jogos, mas não deixou de terminar o Mundial 2018 com um desempenho
positivo – era raro o ataque gaulês que não passava pelos seus pés - e números
de fazer inveja. Afinal, apontou quatro golos (ainda que três tivessem sido de
grande penalidade) e somou duas assistências, para os cabeceamentos certeiros
de Varane diante do Uruguai, nos quartos de final, e de Umtiti frente à
Bélgica, nas meias.
Extremos:
Kylian Mbappé foi eleito o melhor jogador jovem do torneio e ainda
foi o autor, no meu ponto de vista, da melhor performance individual deste
Mundial, na partida dos oitavos de final frente à Argentina. Nesse encontro
diante da seleção sul-americana, apontou dois golos, ganhou uma grande
penalidade e destruiu a defesa albiceleste
com uma exibição que há-de perdurar na memória dos adeptos de futebol. Nos
restantes encontros foi oscilando entre longos períodos em que esteve apagado e
esporádicas arrancadas e momentos de magia. Marcou mais dois golos, diante do
Peru ainda na fase de grupos e frente à Croácia na final, tornando-se o segundo
mais jovem de sempre a marcar no jogo decisivo, sendo apenas superado por Pelé
(1958).
De acordo com o GoalPoint,
registou uma média de 1,5 passes para finalização e tentou 10,3 vezes o drible
(com 53 por cento de sucesso) a cada 90 minutos.
A ausência da final o estatuto
inferior ao de Modric
terão sido os motivos que impediram Eden
Hazard de ser eleito pela FIFA como o melhor jogador do Mundial 2018,
mas o extremo
belga foi aquele que, em minha opinião, mais fez notar o seu talento e de
uma forma consistente ao longo de toda a competição, jogo após jogo, diante de todos
os adversários. Encerrou o torneio com
três golos - bisou frente à Tunísia e marcou um a Inglaterra no jogo de
atribuição 3.º lugar - e duas assistências – para Lukaku frente ao Panamá e
para Fellaini diante do Japão -.
Foi igualmente o MVP do
Campeonato do Mundo para o GoalPoint,
tendo terminado em primeiro lugar nos rankings
de dribles eficazes (40) e faltas sofridas (27).
Ponta de lança:
Verdade seja dita que Harry Kane esteve muito apagado durante
a fase eliminar, tendo apontado apenas um golo à Colômbia (e de grande
penalidade), mas quando se é o melhor marcador do torneio, tem que se ser
incluído no onze ideal. O ponta de lança não só guiou Inglaterra às
meias-finais com os seus seis golos em outros tantos jogos – o brasileiro Ronaldo
foi o último a fazer melhor (oito em 2002)
-, como ainda capitou a histórica seleção dos três leões apesar de ter somente
24 anos.
O GoalPoint
revela que o avançado do Tottenham converteu 100 por cento das ocasiões
flagrantes de que dispôs, o que pode querer dizer que durante o mata-mata, afinal, o problema de Kane
foi ter sido mal alimentado.
Treinador:
Quando se deixa de fora da
convocatória nomes como Benzema, Rabiot, Lacazette, Martial, Coman ou Martial,
só para citar alguns, a pressão aumenta e a margem de erro fica cada vez mais
reduzida. Mas Didier Deschamps,
embora tivesse à sua disposição um lote de jogadores de fazer inveja a outro
qualquer selecionador, nunca se deixou guiar pelo estatuto deste ou daquele.
Atribuiu a titularidade ao desconhecido Pavard e ao pouco consensual Giroud
porque entendeu que eram os jogadores mais adequados para as respetivas
posições (lateral direito e ponta de lança) e não teve problemas em retirar
Griezmann de campo quando as coisas corriam mal ao craque do Atlético Madrid.
Montou uma equipa equilibrada, com as doses certas de irreverência e de
consistência, assente num 4x2x3x1 assimétrico, em que Mbappé tinha ordem para
acelerar pela direita e Matuidi para fechar pela esquerda.
O facto de Zlatko Dalic ter
conduzido a sensacional Croácia até à final e o mérito de Roberto Martínez em
conjugar as estrelas todas da Bélgica num equilibrado 3x4x3 também faziam
desses selecionadores candidatos a melhores do Campeonato do Mundo, mas a minha
escolha recaiu no campeão.
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