Dois ingleses, outros tantos russos e colombianos e um jogador do FC Porto
O Rússia 2018 foi considerado por
muitos como o Mundial dos guarda-redes, mas infelizmente apenas cabe um em cada
onze, incluindo neste onze de revelações. Sobram dez vagas para distribuir por
jogadores que se projetaram em seleções menos poderosas ou que surpreenderam ao
serviço das mais fortes.
Guarda-redes:
Encerrado o ciclo de Joe Hart, a
seleção inglesa chegou à Rússia sem um guarda-redes com mais de uma dezena de
internacionalizações. Jordan Pickford
foi o escolhido, em detrimento de Jack Butland e Nick
Pope, e apesar das dúvidas suscitadas em relação ao seu jeito desengonçado
e à falta de experiência, o guardião do Everton rapidamente as dissipou e até
mostrou, sobretudo na fase a eliminar, aos 24 anos, que Inglaterra tem
guarda-redes para muitos e bons anos. Foi o herói nas eliminatórias frente a
Colômbia e Suécia, nos oitavos e quartos de final, e voltou a brilhar no jogo
de atribuição do 3.º lugar, apesar da derrota ante a Bélgica.
Centrais:
É verdade que Yerry Mina pertence aos quadros do
Barcelona e que isso significa automaticamente que são depositadas nele
expetativas elevadas, no entanto, brilhou na Rússia após ter acumulado apenas
seis jogos ao serviço dos catalães. Não só esteve em bom plano defensivamente,
como mostrou capacidade a sair a jogar e fez valer o seu 1,95 m na área
adversária, tendo marcado um golo em cada um dos três jogos em que participou,
diante de Polónia e Senegal na fase de grupos e frente à Inglaterra nos oitavos
de final. No
jogo inaugural, com o Japão, não saiu do banco.
Quando pensou no 3x5x2 com que ia
dispor a seleção inglesa, Gareth Southgate tinha à sua disposição três
possibilidades entre as melhores equipas da Premier League para fazer companhia
aos citizens Kyle Walker e John
Stones no centro da defesa: Gary Cahill (Chelsea), Phil Jones (Manchester
United) e Eric Dier (Tottenham). No entanto, a escolha recaiu no menos
conhecido Harry Maguire, que há um
ano tinha trocado o Hull City pelo Leicester. Embora jovem (25 anos),
revelou-se um central… à moda antiga, muito possante (1,94 m), forte na
marcação e imponente no jogo aéreo - ganhou 81 por cento dos duelos aéreos defensivos, segundo o GoalPoint -, em ambas as áreas. Peça fulcral nas bolas
paradas ofensivas, fez a assistência para o golo da vitória sobre a Tunísia na
partida inaugural e marcou à Suécia no jogo dos quartos de final e participou
nos sete encontros dos três leões.
Laterais:
Confesso que estive indeciso até
à última hora. Pensei muito no sueco Ludwig Augustinsson, que fez um belíssimo
torneio, mas a minha escolha acabou por recair sobre o brasileiro Fágner. O lateral do Corinthians até
nem era para ir ao Campeonato do Mundo, mas foi convocado devido à lesão de
Daniel Alves e acabou por ser o titular em quatro jogos face aos problemas
físicos de Danilo. Embora seja um lateral muito ofensivo, esteve muito assertivo
na Rússia, a atacar sempre pela certa, mantendo a equipa equilibrada. Não foi
por ele que o Brasil não chegou mais longe.
Este não foi o Mundial dos
laterais esquerdos, e permitam-me a batota: vou ter de adaptar um lateral
direito ao lado esquerdo. Benjamin
Pavard surgiu na convocatória francesa talvez até como o menos mediático da
lista, mas isso não o impediu de ser titular no lado direito da defesa,
remetendo o mais conceituado Djibril Sidibé (Mónaco) para o banco. Aos 22 anos,
o possante (1,86 m) lateral do Estugarda – que há um ano andava pela II Liga
alemã – alinhou em seis jogos no Mundial, destacou-se pela consistência
defensiva e pelo grande golo que apontou à Argentina, nos oitavos de final.
Médios:
Depois da sua melhor temporada a
nível individual na Europa e do título nacional conquistado enquanto capitão do
FC Porto, Héctor Herrera confirmou
na Rússia que está a atravessar um dos melhores momentos da carreira. Ao lado
de Andrés Guardado no duplo pivot do
meio-campo mexicano ou mais liberto para atacar com a proteção de Rafa Márquez,
el zorro foi o motor de la tricolor e impressionou com a sua
precisão de passe (88%) e capacidade para recuperar a bola. Real Madrid,
Barcelona e Betis foram apontados como alguns dos emblemas interessados na sua
contratação.
Aleksandr Golovin já era o principal craque do CSKA Moscovo, mas
faltava-lhe um palco maior para exibir a sua qualidade rapidez, técnica, classe,
visão de jogo, irreverência, precisão de passe e de cruzamento e capacidade
para decidir bem nos últimos 30 metros. Marcou um golo (à Arábia Saudita), fez
duas assistências, foi a figura da sua seleção e acumulou interessados:
Juventus, Chelsea e Arsenal têm sido os clubes mais falados.
Cedido pelo
FC Porto ao River Plate mas quase esquecido em Portugal, Juan Quintero tinha tudo para passar despercebido neste Campeonato
do Mundo. No entanto, uma lesão da James Rodríguez deu-lhe a titularidade no jogo
inaugural, frente ao Japão, e não mais a largou, passando a coabitar com o
médio do Bayern Munique no onze da Colômbia. Após ter marcado aos nipónicos de
livre direto, fez as assistências para o golo de Falcao diante da Polónia e
para o de Mina na decisiva vitória sobre o Senegal.
Extremos:
Não podia faltar uma revelação na
sensacional Croácia. Se quase todos os habituais croatas já eram presenças
habituais nestas andanças, Ante Rebić
apresentou-se como a principal novidade. O possante (1,85 m) e veloz extremo do
Eintracht Frankfurt confirmou na Rússia as boas indicações dadas ao serviço no
decorrer da temporada ao serviço do seu clube, às ordens do compatriota Niko
Kovac, e foi titular nos seis jogos que disputou. O grande destaque do seu
desempenho no torneio foi o grande golo que apontou à Argentina, após fífia do
guarda-redes Willy Caballero.
Numa seleção sueca que pautou
pelo cinismo, assente na consistência defensiva e nos poucos floreados no processo
ofensivo, Emil Forsberg destoou dos
companheiros pela forma como tratava a bola. Quase sempre a partir do corredor
esquerdo em diagonais para zonas interiores, era dos pés do extremo do RB
Leipzig que se podiam esperar lances de perigo e jogadas esteticamente mais
aprazíveis. Coroou a boa performance no torneio com o grande golo frente à
Suíça que valeu a passagem aos quartos-de-final.
Ponta de lança:
A pouco mais de um mês de
completar 30 anos, Artyom Dzyuba é o
mais velho deste onze de revelações. Depois de ter estado emprestado ao Arsenal
Tula pelo Zenit na segunda metade da temporada, começou o Campeonato do Mundo
no banco, frente à Arábia Saudita, mas foi lançado aos 70 minutos e foi a tempo
de marcar um golo – um minuto após ter entrado em campo – e uma assistência que
lhe valeram a titularidade no jogo seguinte, diante do Egito, em que voltou a
faturar. O possante ponta de lança (1,96 m) fechou a conta goleadora no torneio
com um penálti a Espanha, mas não foi só a atirar à baliza que se destacou.
Devido à sua elevada estatura, funcionou como um autêntico pivot no ataque russo, tendo feito duas assistências, ambas para
Cheryshev, ante a Arábia Saudita e a Croácia (quartos de final).
De acordo com o GoalPoint, foi o jogador com mais duelos aéreos ganhos ao longo da prova (41).
De acordo com o GoalPoint, foi o jogador com mais duelos aéreos ganhos ao longo da prova (41).
Treinador:
O título mundial fugiu a Zlatko Dalic, mas não lhe vai fugir o
prémio de selecionador revelação. Depois de uma carreira modesta como jogador e
de um percurso discreto como treinador, assumiu a seleção da Croácia em outubro
do ano passado, após o despedimento de Ante Cacic devido aos maus resultados, e
passado nove meses estava na final do Campeonato do Mundo. Durante a fase de
grupos, mostrou ter pulso para comandar uma equipa de estrelas, enviando o
avançado Nikola Kalinic para casa após este ter alegado dores nas costas para
não jogar frente à Nigéria.
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