quinta-feira, 10 de maio de 2018

Santa Clara, Nacional e cinco pontos que os unem

Nacional e Santa Clara foram promovidos à I Liga

Nacional e Santa Clara estão de regresso à I Liga, um e 15 anos depois da última presença, respetivamente, alcançando a promoção a uma jornada do fim. Os madeirenses voltam a um patamar em que durante década e meia conseguiram registos dignos de um histórico do futebol português, enquanto os açorianos vão apenas para a quarta presença, sendo que apenas duas foram consecutivas.

Os números mostram que os nacionalistas alicerçaram a sua boa campanha na II Liga no melhor ataque da competição (72 golos) e a formação de Ponta Delgada na segunda defesa menos batida (38 golos sofridos, mais quatro do que o Arouca). No entanto, é mais o que os une do que aquilo que os separa:


1. Insularidade

Inevitável começar por aqui. Falar de insularidade não é apenas uma questão de localização geográfica, mas também de aspetos logísticos, climatéricos, sociais e psicológicos.

Ter de estar sujeito a um vaivém constante, praticamente todas as semanas – atendendo ao extenso calendário que obriga à realização de várias jornadas à quarta-feira -, possíveis atrasos e problemas nos voos e a isso acrescentar viagens de autocarros que em alguns casos poderão ser longas – Covilhã é o exemplo mais flagrante - deverá ser extremamente fatigante.

Depois, estar habituado a um clima muito próprio e ter de encarar um outro bastante diferente, sobretudo no inverno – estação em que mais se notará a diferença -, é outro handicap.

Por fim, e pese a beleza dos nossos arquipélagos, viver numa ilha não será certamente a mesma coisa do que passar lá três dias ou uma ou até duas semanas de férias. A dada altura, o perímetro da Madeira e de São Miguel poderão ser pequenos demais para futebolistas que, grosso modo, pertencem a uma faixa etária compreendida entre os 20 e os 30 anos. São jovens, em alguns casos ainda não estabilizaram a vida familiar e, sobretudo se forem oriundos de uma metrópole, poderão sentir-se presos.

Para contrabalançar, há o forte apoio dos governos regionais, algo que os clubes do continente não podem usufruir.


2. Jovens treinadores à procura de afirmação

Costinha e Carlos Pinto têm backgrounds muitíssimo diferentes. O primeiro, de 43 anos, foi um médio importante no panorama nacional e internacional, foi campeão europeu pelo FC Porto, finalista do Euro 2004 e jogou noutros clubes importantes, como Mónaco ou Atlético Madrid. O segundo, de 45 anos, também um antigo centrocampista, representou clubes modestos, a maior parte nas divisões secundárias, tendo apenas somado seis jogos na I Liga, ao serviço de Paços de Ferreira e Salgueiros.
Costinha e Carlos Pinto, os treinadores da promoção

Pelo know-how apreendido durante a carreira de futebolista, Costinha estreou-se como treinador pela porta do patamar maior do futebol português. Contudo, falhou no Beira-Mar e no Paços de Ferreira, o que o obrigou a tentar a sorte na II Liga, na Académica. Também não foi feliz em Coimbra mas ainda assim mereceu a confiança dos dirigentes do Nacional para abraçar um projeto de subida à I Liga. Na Choupana, conseguiu finalmente mostrar que também pode ter sucesso como treinador.

Por ter estado longe da ribalta enquanto jogador, Carlos Pinto teve de subir a pulso na carreira de técnico. Começou pelo Tirsense, onde deixou de jogar, na então II Divisão B. Após época e meia no emblema de Santo Tirso, mudou-se para o Freamunde, sagrando-se campeão da edição inaugural do Campeonato de Portugal. Dos capões saltou para a II Liga, escalão em que esteve quase sempre a trabalhar em clubes com aspirações de subida, como Tondela, Desp. Chaves ou Santa Clara, mas até sem atingir a desejada meta… até ao passado fim de semana. Depois de uma primeira passagem pelos Açores, foi contratado pelo clube terra natal, o Paços de Ferreira, mas não teve sucesso na Capital do Móvel. Voltou a São Miguel, devolveu os açorianos ao primeiro escalão uma década e meia depois e, ao que tudo indica, também deverá voltar à elite.


3. A prova de que é o futebol direto que ainda reina na II Liga

A introdução das equipas B e uma nova corrente de treinadores românticos levaram ideias de jogo mais atrativas à II Liga – saliento aqui o Penafiel de Armando Evangelista e a Oliveirense de Pedro Miguel -, mas Nacional e Santa Clara mostraram que a velha escola do futebol direto continua a reinar na competição.

Os madeirenses procuravam esticar o seu jogo à procura da referência ofensiva Ricardo Gomes ou da velocidade dos extremos Camacho e Murilo, na tentativa de explorar os espaços concedidos pelas defesas adversárias. O médio brasileiro Christian, cedido pelo Paços de Ferreira, era o principal responsável pelos passes longos.

Por sua vez, os açorianos bombeavam bolas desde trás invariavelmente à procura do ponta de lança, que na maioria das vezes era Thiago Santana, embora Clemente também tivesse jogado muito. Além de aplicar este estilo mais direto no plano ofensivo, a equipa de Carlos Pinto era uma das equipas melhor preparadas para combater um jogo mais vertical por parte dos adversários, muito às custas da estampa física dos centrais Accioly (1,87 m) e Marcelo Oliveira (1,85 m) e do médio defensivo Diogo Santos (1,90 m).


4. Pontas de lança em redenção

O nacionalista Ricardo Gomes parte para a última jornada na pele de máximo artilheiro da II Liga (21 golos) e o santaclarista Thiago Santana no último degrau do pódio (15 golos), com Carlos Vinícius, do Real, pelo meio (18).

Ricardo Gomes e Thiago Santana foram os homens-golo
Porém, quando a temporada arrancou não se esperava números desta envergadura por parte de ambos os pontas de lança. O cabo-verdiano do Nacional vinha de uma temporada e meia no clube em que só tinha apontado um golo, enquanto o brasileiro do Santa Clara tinha chegado aos Açores com apenas um remate certeiro na época anterior, pelo Vitória de Setúbal… na Taça de Portugal, frente ao Benfica de Castelo Branco.

Os dois avançados não só se reencontraram com as redes adversárias como foram figuras centrais do modelo de jogo de cada formação. Ambos possantes – Ricardo Gomes com 1,88 m e Thiago Santana com 1,84 m – e com espírito lutador, tiveram as funções de ganhar primeiras bolas no ar, segurar o esférico à espera de apoios, dar profundidade ao ataque e… marcar golos. Valorizaram-se e, a confirmar-se que vão continuar nas respetivas equipas, regressarão à I Liga com estatuto reforçado.


5. Capitães locais e formados nos clubes

Numa modalidade em que cada equipa profissional é uma mini sociedade nas nações, Nacional e Santa Clara têm a particularidade de possuírem capitães naturais das respetivas ilhas e formados no clube, ainda que com perfis distintos.

O nacionalista Jota ainda é um jovem, 25 anos, à procura de afirmar-se no clube e no futebol português. Fez a estreia na equipa principal em 2012, mas só esta temporada se conseguiu impor no emblema da Choupana, participando em 30 jogos.

Do lado açoriano, o veterano Pacheco, 33 anos, que embora seja natural de Ponta Delgada é internacional pelo… Canadá. Está perto de atingir os 350 encontros pelo clube, tendo-o representado em três ocasiões. A primeira em 2003/04, a segunda entre 2007 e 2009 e a terceira desde 2010. Titular indiscutível, terá nova oportunidade na I Liga, depois de em 2009/10 ter lá jogado pelo… Nacional.







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