domingo, 13 de setembro de 2015

Como uma expulsão pode espelhar inconformismo

Foto: fcbarreirense.com
Quando esta tarde saí de casa para ver o Barreirense-Pinhalnovense (CNS), tinha a expetativa de ver Neca (reforço dos visitantes) em ação e depois, consoante o que visse, escreveria umas linhas sobre o seu desempenho e recordaria um pouco a sua carreira. Saiu-me o tiro pela culatra.  Vi Neca, sim, mas na bancada, a assistir ao jogo.

O tempo estava cinzento, ameaçava chover, não convidava uma ida ao futebol e eu ainda não tinha entrado no Campo da Verderena e já tinha apanhado uma desilusão. Lá entrei, lá assisti ao derby regional e cá estou eu a redigir um textinho sobre um dos intervenientes. Apenas não é sobre Neca. É sobre Bruno Severino.


Natural do Barreiro e formado no Barreirense, regressava a casa ao serviço da turma do Pinhal Novo, aos 29 anos. Não tendo a ficha de jogo na minha posse, foi dos poucos que reconheci. Afinal, além de ser meu conterrâneo, tem no currículo passagens pelo Vitória de Setúbal, Beira Mar, Aves e Covilhã, entre outros.

Desde o apito inicial que me pareceu dos mais habilidosos e inconformados da sua equipa. Digo inconformado porque destoou visivelmente dos seus companheiros pela sua dedicação e vontade de reverter a situação na tabela classificativa (último lugar na Série H, com zero pontos) e o resultado deste encontro em particular, que começou a ser desfavorável desde bem cedo (8 minutos).

Por estar a assistir à partida bem perto do relvado, conseguia perceber, pelas suas expressões faciais e corporais, toda a ambição. Desmarcava-se, pedia a bola e quando a tinha tentava introduzir intensidade e fazer com que a equipa avançasse. Defendia, atacava e sofria com cada lance perdido. Impressionava.

No início do segundo tempo, apontou o golo do empate e (46'), por estar de regresso a casa, pediu desculpa aos adeptos. Até aí não fez a coisa por menos! A equipa sofreu o 1-2 dois minutos depois e ele, no tudo por tudo, mostrava uma alma incrível. Tinha começado a extremo esquerdo, mas a dada altura já aparecia por todo o lado a tentar dar uma linha de passe, a fazer uma tabelinha ou simplesmente a arrastar marcações. Jogava por ele e pelos outros.

Bruno Severino, extremo de 29 anos
Apesar da vontade, foi o Barreirense que voltou a marcar, fazendo o 3-1, com Bailão a aproveitar o adiantamento (desnecessário e imprudente) do guarda-redes Rui Dabó para lhe fazer um chapéu incrível (61'). Durante os festejos alheios, Bruno Severino abanava a cabeça, ciente da injustiça que se estava a abater sobre si e de que a onda de derrotas ia continuar.

Mas o extremo não perdeu a vontade e lá continuou a lutar. Numa bola dividida, junto à linha lateral, quando ia agarrar o esférico para reatar o encontro rapidamente, viu o barreirense Ricardo Bulhão afastá-lo daquela zona, tentando perder algum tempo. Frustrado e furioso por mais uma contrariedade, teve um tête-à-tête com o adversário, acabando por ver o cartão amarelo (83').

Adivinhava-se algo mais no capítulo disciplinar e tal não demorou muito a confirmar-se. Pouco tempo depois, após um mau alívio de um colega em zona proibida que isolava Bailão na cara do guarda-redes pinhalnovense, correu desenfreadamente para fazer a falta e evitar o 1-4. Acabou por ter uma entrada dura e foi expulso (85').

Uma expulsão que espelhou o inconformismo de Bruno Severino, que mesmo sendo um jogador de ataque, que pisa zonas afastadas da sua área, foi o primeiro a reagir e a correr para trás, em trabalho defensivo, evitando a todo o custo que a derrota se tornasse goleada.

Se era necessária entrada tão dura? Se se deixou levar pelo nervosismo? Tudo isso é aceitável. Mas que faz falta um jogador desta qualidade e ambição numa equipa que vai perder e sofrer muitas vezes, disso não haja dúvidas. Que os colegas o acompanhem – certamente Neca dará muito jeito -, que o Pinhalnovense não cairá nos distritais.








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